Começava a aula em uma escola na cidade de Lviv, Ucrânia.
Logo após o sinal soou, todos os alunos ficaram em completo silêncio.
A aula regular teve início. O conteúdo tratava da vida dos seres humanos primitivos e de suas primeiras formas de existência. Nesse momento, uma aluna fez a seguinte pergunta:
“Poderia nos explicar como as pessoas surgiram no mundo?”
O professor respondeu:
“Essa questão não está incluída no programa do 8º ano. Vocês aprenderão sobre isso mais tarde.”
A aula prosseguiu. No entanto, os alunos começaram a cochichar e não prestavam mais atenção ao que o professor dizia. A pergunta pode ter sido feita apenas por curiosidade, mas o professor deveria ter percebido a atmosfera na sala e não recusado a resposta. A reação de toda a turma indicava que a pergunta não havia sido feita por mero acaso. É possível que a pergunta refletisse alguma questão de cunho religioso.
Estamos negligenciando o fato de que tais questões existem, e por isso deixamos de aproveitar todas as possibilidades que se apresentam na sala de aula para realizar o trabalho de educação ateísta.
Gostaria de compartilhar uma breve experiência que tive a respeito da educação ateísta em sala de aula.
Durante uma das primeiras aulas de ciências no 5º ano, previ que certos tipos de perguntas poderiam surgir e preparei respostas convincentes para elas. A pergunta mais frequentemente feita pelos alunos é sobre a origem da religião na sociedade humana. Expliquei que, no passado, as pessoas atribuíam os fenômenos naturais à vontade dos deuses porque ainda não sabiam explicá-los racionalmente.
Enfatizei também que as religiões surgidas em determinadas sociedades estavam intimamente ligadas ao modo de vida dessas sociedades. Nas aulas seguintes, os alunos aprendem sobre o surgimento das classes sociais e do Estado. A partir desse período, a religião passa a atuar como uma ferramenta de opressão.
Para ilustrar isso, costumo citar o romance Faraó, escrito pelo renomado autor polonês Bolesław Prus. A obra retrata com clareza o estilo de vida no Antigo Egito.
O povo sofre em comparação com o luxo opulento da classe dominante. As pessoas gemem sob o peso insuportável de pesados impostos e da repressão brutal. O ouro, coletado por toda parte, é escondido em depósitos secretos mantidos pelos sacerdotes. A rede de templos cobre o país como uma teia de aranha. Eles bloqueiam ao povo todos os caminhos do conhecimento científico, e apenas os sacerdotes têm o monopólio sobre o estudo da astronomia, medicina e geometria.
Nos templos, onde se encontram estátuas sagradas, os fiéis levam oferendas. No entanto, por alguma razão, os deuses permanecem imóveis, enquanto os sacerdotes apenas recolhem o azeite.
O povo, enfim, não pôde mais suportar e se levantou — uma revolta estava amadurecendo. Percebendo isso, os sacerdotes puseram em ação um plano: colocaram à frente um falso profeta e manipularam o calendário para provocar comoção num dia em que não havia eclipse solar previsto. Sem qualquer conhecimento sobre eclipses, o povo se aglomerou no templo, subindo pelas muralhas em desespero. Tomado de ódio e desejo de vingança, começou a se inflamar. Mas, de repente, o ambiente ficou silencioso. De algum lugar, ecoou uma voz profunda e ameaçadora:
“Por terem sido insolentes, o deus de vocês retirará o sol do céu!”
Tomados pelo medo, muitos desmaiaram e caíram ao chão. Pouco depois, a voz estranha anunciou o fim do eclipse, dizendo que o deus, por compaixão, devolveria o sol uma última vez...
Dessa forma, os sacerdotes manipulavam a religião como um instrumento de dominação, enganando o povo em benefício próprio.
No currículo do quinto ano, a análise correta dos diversos mitos religiosos, bem como a investigação das causas de sua origem e desenvolvimento, ocupa um lugar importante. Os alunos devem compreender, por exemplo, que a lenda do grande dilúvio de Noé tem sua origem nas enchentes dos rios Tigre e Nilo. Esse mito, criado como ferramenta de dominação nas mãos dos sacerdotes, passou da religião babilônica para o judaísmo e, posteriormente, para o cristianismo.
A história medieval também fornece vasto material útil para a educação ateísta dos estudantes.
Eu explico aos alunos, em detalhes, por que as igrejas se tornaram uma força tão poderosa e influente durante a Idade Média.
A vida sombria e miserável dos trabalhadores pobres e servos, assolados por dificuldades, doenças infecciosas e desastres naturais — diante dos quais eram totalmente impotentes — levava-os a imaginar a existência de uma vida melhor em algum outro mundo ou sistema.
Quando essas pessoas, que viviam em cavernas ou em condições precárias, subiam as escadarias de uma catedral pela primeira vez, eram envolvidas por sons de música e por preces murmuradas em uma língua desconhecida. Diante do ambiente misterioso e da imagem de um deus sagrado, sentiam-se fracas e insignificantes.
Para enganar as massas, os clérigos usavam eventos e objetos supostamente milagrosos. Quando falo disso, costumo citar um trecho do romance "Os Cavaleiros da Cruz", de Henryk Sienkiewicz.
Um monge ambulante passava por uma aldeia e, rodeado por uma multidão curiosa, anunciava os “produtos” que trazia: uma escama do olho de Santa Sofia, a palma da mão de Santa Brígida, um fragmento da pele de Santo Antão, e um pedaço da madeira da Santa Cruz. Ele declarava que todos esses objetos tinham o poder de realizar milagres e curar qualquer doença. Em pouco tempo, vendia tudo como se suas mercadorias tivessem asas. Em seguida, hospedava-se em uma estalagem e começava a preparar sua próxima pregação. Talhava restos de cerca em forma de relíquia, envolvia-a em trapos, fingia machucar as mãos, e logo partia para outra aldeia.
Em especial, a intolerável crueldade da Inquisição religiosa provoca grande indignação nas crianças. Eu conto aos alunos sobre as centenas de pessoas que sofreram perseguições durante esse período. Fanáticos religiosos, em nome da fé, torturaram e assassinaram brutalmente crianças inocentes, idosos e jovens em plena flor da idade, utilizando leis cruéis e impiedosas.
Procuro mostrar de forma clara como figuras históricas de enorme valor foram perseguidas por essa intolerância, como os grandes estudiosos Copérnico, Galileu e Giordano Bruno.
A educação ateísta no ensino é uma obrigação absoluta de todo professor. Se refletirmos seriamente sobre os métodos pedagógicos, integrarmos de maneira natural o conteúdo didático com a vida real e soubermos utilizar habilmente elementos da literatura e das artes, o sucesso estará garantido.
As conquistas científicas extraordinárias dos estudiosos de nosso país oferecem aos alunos provas concretas e convincentes do poder infinito do pensamento humano livre.
Professor de História da Escola nº 10 de Lviv, Ucrânia
Jornal da Educação, 8 de fevereiro de 1958
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