sábado, 12 de julho de 2025

A proposta de coexistência pacífica de Ri Jae Myong é sensata

Depois de quase três anos do conservador de extrema-direita Yun Sok Yol no poder na República da Coreia — período que marcou a intensificação da tensão na Península Coreana, com tramas de guerra com o Norte, infiltração de drones panfletários, imposição da lei marcial e, por fim, a quebra da política de reunificação pacífica por parte da RPDC — um presidente do Partido Democrata voltou ao poder.

Ri Jae Myong, considerado por muitos como “centrista” e favorável ao diálogo com Moscou e Pequim — o que faz com que a camada reacionária o odeie — foi eleito em 3 de junho de 2025, derrotando o conservador Kim Mun Su, do partido “Poder Popular”.

Ao contrário de outros “liberais” ou “democratas” que ocuparam esse cargo no passado, ele não deu grande ênfase à questão do Norte em seu discurso inaugural, apontando apenas brevemente que o fortalecimento da aliança com os EUA seria suficiente para fazer frente ao desenvolvimento militar norte-coreano, e que buscaria reabrir canais de comunicação com o Norte em nome da paz e da cooperação na Península Coreana.

Embora tenha falado sobre “unidade”, ao buscar reunir uma sociedade sul-coreana polarizada, não mencionou “reunificação”, o que deixou algumas questões em aberto.

Mais recentemente, na conferência de imprensa pelos 30 dias no poder, esclareceu seu posicionamento ao dizer que não busca a reunificação, mas sim a coexistência pacífica com o Norte. Esse pensamento, ao meu ver, parece sensato.

Ele apontou que falar sobre o tema “reunificação” poderia ser interpretado pelo Norte como uma “intenção de mudança de regime” ou uma tentativa de incorporação forçada.

Tendo em vista que a RPDC abandonou oficialmente a política de reunificação em janeiro de 2024, promovendo uma série de mudanças em tudo que se relacionava com a noção de "uma só Coreia" — incluindo o hino nacional e a Constituição — e passou a definir a República da Coreia (Daehan Minguk, e não mais Nam Joson) como Estado inimigo, a posição sobre reunificação por parte do Sul tem sido vista como um interesse unilateral de unificação pela força, impondo a democracia liberal em toda a Península Coreana.

Antes da recente declaração em que esclareceu um pouco mais sua posição como mandatário, Ri Jae Myong já havia expressado suas ideias sobre a coexistência pacífica em abril de 2025, quando ainda era candidato à presidência. Na ocasião, destacou a importância da paz para o desenvolvimento econômico do país e criticou a postura belicosa de Yun, que havia elevado significativamente a tensão na Península Coreana.

A posição do atual presidente sul-coreano de buscar o diálogo para melhorar as relações interestatais entre os dois países parece representar um novo caminho, que surge da convergência de opinião entre as partes de que a República da Coreia e a República Popular Democrática da Coreia são dois Estados soberanos na Península Coreana. Por uma série de fatores históricos que remontam à Guerra da Coreia — e que estão profundamente relacionados com a intervenção estrangeira — esses dois países permanecem tecnicamente em estado de guerra, embora o conflito tenha cessado oficialmente em 1953.

Me parece, como já ressaltei em um artigo que escrevi em janeiro de 2024, que buscar a melhoria das relações entre os dois países é algo mais realista do que uma nova mudança de postura pró-reunificação.

Porém, há uma série de questões que precisam ser levantadas em relação à proposta de Ri Jae Myong.

Primeiramente, ele destaca — como muitos outros presidentes sul-coreanos já fizeram — a "importância" da aliança militar com os EUA, apontando que isso seria um dissuasor suficiente para lidar com o Norte, salientando que este dificilmente abriria mão de seu programa nuclear e de mísseis. Mas até que ponto a realização de manobras militares extremamente provocativas, lideradas pelos EUA em território sul-coreano, funciona de fato como dissuasão? Como Ri Jae Myong pode enfrentar o chefe estadunidense e limitar até onde a República da Coreia está disposta a ir para manter a paz e evitar a intensificação das tensões? Conseguirá fazer o que nenhum outro presidente sul-coreano conseguiu: transformar seu país em um Estado verdadeiramente soberano, que decide por conta própria — livrando-se, assim, de uma posição histórica de semicolônia?

Essa subjetividade alimenta o ceticismo quanto à realização daquilo que Jae Myong propõe como solução para a situação atual.

Outro ponto é justamente a Constituição da República da Coreia. Embora o atual mandatário tenha uma posição sensata quanto à reunificação no cenário atual, a constituição do país considera o território norte-coreano como parte integrante do Estado sul-coreano. Além disso — e com base nisso — existe um Ministério da Unificação, que, sob governos conservadores, costuma funcionar na prática como um Ministério do Anticomunismo. Como ele lidará com isso? Só o tempo dirá.

Dado que a RPDC não pensa mais em reunificação, a discussão sobre se o Sul é soberano ou lacaio deixou de ser uma pauta recorrente. De fato, os informes sobre a situação política sul-coreana tornaram-se escassos nos últimos tempos. Inclusive, sobre a eleição presidencial, foi divulgada apenas uma nota breve, sem comentários — apenas informativa. Porém, se Ri Jae Myong mantiver as coisas como estão, apenas palavras bonitas não tocarão o coração gelado de Pyongyang.

Seja conservador, liberal ou democrata, se não tomar medidas práticas para a paz e a reconciliação, não obterá nada em troca de Pyongyang.

Lenan Menezes da Cunha

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