Em uma sociedade capitalista onde a desigualdade e os privilégios imperam desenfreadamente, as relações de desconfiança e antagonismo, de ódio e hostilidade, vêm se aprofundando cada vez mais.
Nos últimos anos, forças políticas rotuladas como de extrema-direita surgiram em cadeia nos países ocidentais, agudizando a fragmentação e o confronto social.
Essas forças, que se autoproclamam representantes dos interesses das camadas mais baixas, como os desempregados e os de baixa renda, opõem-se à entrada de imigrantes e rejeitam outras etnias e culturas. Propagam o lema do “país em primeiro lugar” e desenvolvem atividades extremistas. Diferentemente das forças políticas tradicionais estabelecidas, que controlam os meios tradicionais de comunicação de massa, como jornais e emissoras de rádio e televisão, baseiam-se principalmente na internet para realizar propaganda, infiltrando com facilidade suas doutrinas e reivindicações.
A extrema-direita é um conceito que engloba o chauvinismo que incita um nacionalismo extremo ao alardear os “interesses de toda a nação” e os “interesses comuns da etnia”, bem como as forças que o representam. Contém o significado de “nova direita”, distinta do conservadorismo tradicional (direita) e do neonazismo.
As forças de extrema-direita existiram por muito tempo como correntes marginais em um canto da política ocidental e, sempre que crises econômicas eclodiam nos países capitalistas, costumavam erguer a cabeça apresentando-se como porta-vozes do descontentamento das camadas de baixa renda.
No fim do século XIX, um partido político dos Estados Unidos alegou que os imigrantes que entravam no país ameaçavam os empregos dos cidadãos e desenvolveu atividades extraparlamentares para bloquear esse fluxo, logrando a aprovação da primeira lei anti-imigração. Isso é visto como o embrião das forças de extrema-direita.
Posteriormente, não poucos partidos surgidos nos Estados Unidos e na Europa ergueram bandeiras semelhantes às atuais reivindicações da extrema-direita, como a oposição à imigração e os slogans de “país em primeiro lugar”. Essas forças conseguiram, em certa medida, reunir apoiadores, mas acabaram sendo, na prática, identificadas com o neonazismo e confinadas às margens do cenário político.
Entretanto, nos últimos anos, em vários países, passaram a emergir como a principal força de oposição ou até mesmo a conquistar o poder. Na eleição para o Parlamento Europeu realizada no ano passado, partidos que defendem políticas extremas de imigração conquistaram a maioria das cadeiras. Muitas camadas da sociedade demonstram simpatia e adesão à propaganda que apregoa a oposição à imigração, a eliminação da desordem e do caos e a defesa dos empregos.
O fortalecimento das forças de extrema-direita está estreitamente relacionado ao aprofundamento da polarização social no mundo ocidental, em meio à persistência da estagnação econômica.
A feroz competição pela sobrevivência que se desenrola nos países capitalistas, em que uns procuram esmagar os outros, inevitavelmente intensifica as contradições e os confrontos entre as pessoas e amplia, em especial, o abismo entre ricos e pobres.
Trata-se do resultado inevitável de políticas reacionárias que vêm sendo mantidas ao longo da história.
Ao longo da história, os políticos burgueses bradaram sobre “liberdade”, “democracia”, “garantia dos direitos humanos” e “igualdade”, alardeando que fariam uma “política para o povo”, mas, na prática, o que fizeram foi apenas elaborar e impor políticas que representam os interesses dos monopólios. O fato de, sempre que crises econômicas e financeiras eclodem em decorrência da especulação do capital, imporem aos povos baixos salários e desemprego, saqueando-os indiscriminadamente, e, ao mesmo tempo, despejarem somas astronômicas de impostos para socorrer grandes bancos e empresas que provocaram a crise, mostra claramente que o capitalismo é uma sociedade que aplica políticas benéficas apenas a uma minoria.
É natural que a polarização social se agrave, com o aumento ainda maior da disparidade entre ricos e pobres.
O capitalismo, por se basear na desigualdade que estimula e amplia as diferenças na vida econômica das pessoas, carrega contradições internas insolúveis, mas nunca essas contradições haviam se tornado tão agudas quanto agora. Isso expõe a verdadeira face da sociedade capitalista, que representa apenas os interesses do capital e permite que os fortes saqueiem os fracos, ao mesmo tempo que aprofunda ainda mais suas contradições internas.
Enquanto um número ínfimo de ricos monopoliza fortunas de dezenas de bilhões e leva uma vida dissoluta, dezenas de milhões de pobres padecem de infelicidade e sofrimento. Uma organização internacional já denunciou que a desigualdade entre ricos e pobres é uma “violência econômica” que empurra inúmeras pessoas para a doença, a fome e a morte.
A polarização extrema do enriquecimento dos ricos e do empobrecimento dos pobres, que chegou a um limite, intensifica o confronto e as contradições entre as massas trabalhadoras e uma ínfima camada privilegiada, empurrando a sociedade capitalista para o abismo da destruição.
Desde o surgimento do capitalismo, ao longo de vários séculos, acadêmicos burgueses a serviço do sistema dedicaram-se a encobrir o caráter reacionário e antipopular da sociedade capitalista, brandindo teorias econômicas enganosas e levantando a questão da mitigação da desigualdade entre ricos e pobres. Contudo, hoje, lamentam a enorme disparidade de riqueza e os diversos males dela decorrentes. A visão de que a desigualdade é a principal causa das múltiplas contradições da sociedade capitalista tornou-se dominante nos meios acadêmicos ocidentais, e nada do que os políticos ocidentais vêm concebendo tem se mostrado uma alternativa capaz de superar a crise.
Após o fim da Guerra Fria, o fato de os países ocidentais terem alardeado ruidosamente a “globalização” da economia e se lançado de forma sistemática à expansão, em escala mundial, das esferas de penetração do capital também acelerou as crises sociopolíticas.
As indústrias nacionais enfraqueceram e, como resultado, surgiu um enorme contingente de desempregados. Grandes empresas transferiram suas bases de produção para o exterior, desencadeando ondas de demissões que lançaram muitas pessoas no desemprego. O aumento acentuado do número de imigrantes que afluíram aos países ocidentais como consequência da chamada “guerra ao terror” também passou a ameaçar diretamente a estabilidade do emprego nesses países.
Nesse contexto, após a crise financeira de 2008, as políticas excessivamente austeras adotadas pelos governos ocidentais, seguidas do colapso hipócrita dos “sistemas de bem-estar social”, da queda generalizada da renda familiar e da aceleração da expansão do desemprego, atuaram como um estopim que fez explodir o descontentamento acumulado nas pessoas em relação ao governo e à sociedade.
É precisamente nesse pano de fundo que as forças de extrema-direita vêm emergindo rapidamente.
Atualmente, em muitos países europeus, o índice de apoio às forças de extrema-direita continua subindo. Na Alemanha, inúmeras pessoas estão registradas como extremistas perigosos de extrema-direita, e os crimes violentos cometidos por eles vêm aumentando dia após dia. Há alguns anos, na cidade alemã de Dresden, foi declarado um “estado de emergência nazista”, e a região foi classificada como uma “zona de desastre grave” onde a extrema-direita atuava livremente, porque, à época, incidentes de ataques violentos perpetrados por essas forças ocorriam de forma sucessiva.
Nos Estados Unidos, o supremacismo branco e a xenofobia estão amplamente disseminados, e diversos grupos raciais e étnicos minoritários — incluindo povos originários, afrodescendentes, asiáticos, latino-americanos e árabes — sofrem discriminação generalizada e sistemática.
Um jornalista conhecido como autor de um livro de grande circulação que analisa a fragmentação da sociedade capitalista avaliou que, no futuro, as forças de extrema-direita ampliarão sua influência em todo o mundo ocidental.
Especialistas preveem que, enquanto não houver soluções para graves problemas sociopolíticos como a questão da imigração e do desemprego em todos os países ocidentais, será impossível conter a expansão das forças de extrema-direita. Acrescentam que a rápida ascensão dessas forças reflete as profundas contradições sociopolíticas do mundo capitalista e que, no futuro, intensificará as contradições internas dos países ocidentais, gerando novos confrontos e choques em escala internacional.
O clamor de que “a democracia entrou em crise e confusão” ecoa repetidamente em todo o mundo ocidental.
Os sinais incessantes de colapso interno que surgem hoje levam as pessoas a antever um futuro sombrio para o mundo capitalista.
Em uma sociedade capitalista que carrega diversos males incuráveis e contradições insolúveis, o agravamento contínuo das crises é inevitável.
Ho Yong Min

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