No último dia 18, em toda a França ocorreram ações de protesto contra as medidas de austeridade do governo. Professores, maquinistas e funcionários de hospitais entraram em greve, exigindo com firmeza que o governo aumentasse os gastos com o setor público e aplicasse impostos mais altos aos ricos. Um dos participantes desabafou com fúria: “O descontentamento já chegou ao céu. Agora só resta a decisão.” No dia 10, também, manifestantes bloquearam estradas em todo o país e queimaram barricadas. Como a tensão aumentou em várias regiões, as autoridades mobilizaram 80 mil efetivos em todo o território. A polícia de Paris usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão e prendeu centenas de pessoas.
Vários partidos políticos da França tentam aproveitar a situação confusa para alcançar seus objetivos políticos. Apesar de suas diferenças programáticas, compartilham a intenção de conquistar o favor dos descontentes com a situação atual e ampliar suas zonas de influência.
A Assembleia Nacional também está profundamente dividida, e nenhum dos três principais partidos conseguiu conquistar a maioria absoluta. O primeiro-ministro e seu gabinete, empossados há apenas nove meses, renunciaram em bloco, e em seu lugar foi empossado um ex-ministro da Defesa de perfil conservador. Essa troca de primeiro-ministro já é a quarta em dois anos.
O que, afinal, provocou esse caos sociopolítico?
Após a eclosão da crise ucraniana, a União Europeia impôs sanções contra a Rússia. No entanto, países como França e Alemanha, que mantinham relações relativamente estreitas, sobretudo no campo energético, com a Rússia, sofreram enormes prejuízos. Muitos passaram a enfrentar a escassez de energia e a disparada dos preços das mercadorias.
Em particular, na França a economia registrou baixo índice de crescimento e o saldo fiscal deteriorou-se. A situação ficou ainda mais grave que a da Grécia quando esta mergulhou na crise da dívida, a ponto de se levantar a ideia de recorrer a empréstimos do Fundo Monetário Internacional para cobrir os pontos mais urgentes.
Enquanto alegava estar resolvendo a confusão, a França se apegou à implementação de políticas de austeridade. Reprimiu ao máximo os gastos fiscais e aumentou a carga tributária sobre a população. Apenas os gastos militares, conforme o acordo com os países-membros da OTAN, foram ampliados significativamente. Isso tornou ainda mais difícil a já debilitada economia francesa. A polarização entre ricos e pobres se agravou, e o problema do desemprego também piorou. A França passou a carregar uma bomba-relógio de explosão social.
A taxa de apoio ao governo, que fomentou desigualdades e acelerou o abismo entre ricos e pobres, despencou. O povo se queixou de que a cúpula dirigente não se preocupa com os meios de subsistência, mas apenas despeja recursos em apoio à Ucrânia e em armamentos, visando unicamente seus interesses políticos.
Mesmo assim, os governantes não tomam medidas, apenas se culpam mutuamente e transformam tudo em disputa. Isso fez com que as pessoas percebessem claramente que os partidos e políticos não atuam pelo bem-estar do povo, mas apenas pelos interesses de seus partidos e para conquistar popularidade, lançando políticas sem substância alguma.
A França não é o único lugar onde a insatisfação do povo cresce devido às dificuldades de vida causadas pela alta dos preços e pelo aumento das desigualdades. Também no Reino Unido, na Alemanha e em outros países ocidentais, a instabilidade sociopolítica continua.
As políticas antipopulares e a chamada “democracia liberal”, que o Ocidente apresenta como “remédio universal” para todos os problemas, foram precisamente o que levou a essa situação.
Os políticos ocidentais alegam que a instabilidade sociopolítica é apenas uma ocorrência temporária causada por mudanças acidentais ou fatores externos, mas isso não passa de desculpa esfarrapada. A realidade caótica dos países capitalistas, que tomam a “democracia liberal” como base da política, comprova isso. Nesses países, quase nunca se vê continuidade de políticas. Sempre que o governante não agrada a seus opositores, os deputados apresentam moções de desconfiança no parlamento, submetem a votação e o destituem, algo que já se tornou corriqueiro.
No mundo ocidental, também é comum que escândalos envolvendo altos funcionários venham à tona, e que esses episódios sejam aproveitados como excelente oportunidade para usurpar o poder, o que demonstra o processo de corrupção da política ocidental. É evidente demais que uma política assim não pode garantir o desenvolvimento de um país nem contribuir para a vida do povo.
Que tipo de crise catastrófica se abaterá sobre o Ocidente no futuro? A realidade dos países ocidentais, onde os confrontos e contradições entre forças políticas se agravam e inúmeras pessoas, assoladas por extrema instabilidade e pobreza, tomam as ruas em protestos, dá uma resposta vívida a essa questão.
Nos países ocidentais, a polarização social, a crise econômica, os conflitos entre etnias e as disputas religiosas, bem como as turbulências da extrema-direita, transformaram-se em problemas sem solução.
Essas contradições e crises que o mundo ocidental carrega são um tumor maligno incurável.
Ri Hak Nam
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