terça-feira, 18 de março de 2025

A "primazia do nosso Estado" norte-coreana é completamente diferente da doutrina "América primeiro" dos EUA

Com o retorno da administração Trump ao poder nos Estados Unidos, uma série de mudanças é notada na política externa estadunidense. O diálogo com a Rússia, que era impensável para a administração anterior, visando negociar o fim da Guerra na Ucrânia, e propostas insanas, como tomar posse de Gaza para reconstruí-la enquanto os palestinos são deslocados, e anexar a Groenlândia e o Canadá — ambas sob o pretexto de segurança nacional e internacional —, juntamente com a aplicação de inúmeras tarifas sobre vários países, fizeram o cenário internacional estremecer.

Tais ações são explicadas claramente na fala "Há um novo xerife na cidade", proferida pelo vice-presidente dos EUA, Vance, na Conferência de Segurança de Munique.

Ademais, essas ações constituem a essência da doutrina "América Primeiro", adotada por Trump na campanha eleitoral de 2016, uma doutrina de chauvinismo e protecionismo que revela com exatidão a verdadeira face dos EUA: um império inescrupuloso que pisoteia a soberania, a segurança e os interesses de outros países em benefício próprio — ou, melhor dizendo, em benefício da elite política e dos monopólios.

Não há nada de novo nessa doutrina. 

O termo "América primeiro" surgiu no século XX, mas suas raízes podem ser rastreadas até Thomas Jefferson, que implementou políticas isolacionistas, como a Lei de Embargo de 1807.

Também houve, no período entre guerras, o "Comitê América Primeiro", que defendeu a participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial sob o pretexto de que nenhuma potência estrangeira poderia atacar os EUA e que uma eventual vitória da Alemanha nazista não seria um problema.

A doutrina "América Primeiro" de Trump, além de incorporar chauvinismo, isolacionismo e protecionismo, também se fundamenta no populismo de direita, no "realismo político" e na oposição ao multilateralismo.

A administração Trump se vê ameaçada pela ascensão da China, que, gradualmente, se torna mais influente nos campos político, econômico e diplomático, desafiando o papel de liderança dos EUA e contribuindo para a formação de um mundo multipolar. Como os EUA dependem de hegemonia e tirania, um cenário onde os países possam se desenvolver de maneira independente, cooperando mutuamente e compartilhando responsabilidades de forma justa, é visto como um golpe fatal para o império estadunidense. Na tentativa desesperada de conter essa mudança histórica, os imperialistas buscam impor seus interesses pela força, não hesitando em sacrificar até mesmo seus aliados nesse processo, o que gera um caos profundo no cenário internacional.

Não é surpreendente o incômodo dos EUA com organizações de cooperação regionais como o BRICS, a Organização para Cooperação de Xangai, a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América e a União Africana, que, ao promovem a cooperação multilateral, a união, o desenvolvimento econômico e social de forma independente, o respeito à soberania e à autodeterminação dos povos, desafiam a ordem hegemônica estadunidense.

O multilateralismo foi especialmente incômodo para a administração Trump. Por interesses egoístas, a administração retirou os Estados Unidos de várias organizações e tratados internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, o Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Tratado de Céus Abertos e o Acordo de Paris sobre o Clima. Na visão da administração, todos os acordos dos quais se retiraram, sejam multilaterais ou bilaterais, e as organizações das quais saíram, não atendiam aos interesses exclusivos dos EUA ou eram prejudiciais a eles. Para esses sujeitos, uma visão de responsabilidade coletiva simplesmente não existe; eles agem exclusivamente em benefício próprio.

O populismo direitista, apoiado na paranóia sobre ameaças de correntes ideológicas no interior dos EUA, que faz recordar o infame Macarthismo, mobiliza uma legião de pessoas identificadas com ideais extremistas, que incluem a "supremacia branca", o neonazismo, o anticomunismo, o antiglobalismo e a xenofobia, a apoiar a atual administração como se estivesse lutando contra o "establishment" (grupo social dominante) ou o "deep state" (Estado profundo), quando na verdade estão apenas fomentando o caos e a divisão social, que pode eclodir numa guerra civil, e sustentando um grupo político que, igualmente aos democratas, é subserviente aos conglomerados econômicos e ao complexo industrial-militar que constituem o verdadeiro "xerife" dos EUA.

Por outro lado, seu "realismo político", fundamentado na busca pelo poder e garantia da segurança internacional, fomenta discórdia e divisão e, inevitabelmente promove oposição aos EUA e o isolamento deste. Neste aspecto, pode-se dizer que é positivo para os países independentes e contribui, mesmo que sem a intenção, ao processo de multipolarização do mundo.

A exposição mais explícita de que os EUA não se importam com os outros, apenas com os próprios interesses, assusta aqueles que foram iludidos pelos democratas, mas, na prática, a nocividade da política externa estadunidense nunca mudou.

É preciso ter uma concepção correta sobre essa doutrina estadunidense e do resultado positivo que pode trazer ao movimento de multipolarização, sem nunca compará-la a uma política de caráter independente e progressista de defesa dos interesses nacionais como a "Primazia do nosso Estado" norte-coreana.

Na verdade, a "Primazia do nosso Estado" não é uma simples "política", mas uma série de políticas que marcam uma nova "época" em que os interesses nacionais são defendidos com firmeza e a dignidade nacional é exaltada com mais fervor.

Essa terminologia, que foi oficializada no Oitavo Congresso do Partido do Trabalho da Coreia, em janeiro de 2021, já havia sido utilizada anteriormente em publicações norte-coreanas, mas ganhou mais ênfase como "terminologia da época".

Desde a realização do Oitavo Congresso do Partido do Trabalho da Coreia, a República Popular Democrática da Coreia veio enfrentado diversas dificuldades, tanto no setor econômico, devido às duras sanções, quanto na área da saúde, com a pandemia de COVID-19, que se infiltrou no país em 2022. Além disso, as forças hostis intensificaram seus movimentos bélicos ao redor da Península Coreana, enquanto condições climáticas anormais e desastrosas causaram danos significativos. No entanto, ao destacar a força do povo e sua capacidade de superar qualquer adversidade, a RPDC alcançou êxitos impressionantes, consolidando-se mais uma vez como uma nação poderosa, que se fortalece e se desenvolve com seus próprios esforços.

O poder de defesa nacional, para fazer frente às ameaças dos imperialistas estadunidenses e da camarilha títere da República da Coreia, foi consideravelmente reforçado, consolidando a posição do país como potência militar. Ademais, promulgação da lei sobre as forças armadas nucleares oficializou o status do país como Estado nuclear que jamais abandonará o desenvolvimento dessas forças dissuasivas de guerra que amedrontam os ferozes imperialistas e seus lacaios.

A "primazia do nosso Estado" também promove a exaltação dos símbolos nacionais e de todo tipo de conteúdo que eleve a dignidade e o orgulho de ser cidadão da RPDC.

É comum ver cada vez mais bandeiras norte-coreanas nas ruas e moradias em todo o país, muitas pessoas usam camisas estampadas com a bandeira nacional e músicas e obras que exaltam a nação surgiram uma após a outra. 

Na concepção norte-coreana, o Estado, assim como o Partido, só existe para o povo. Portanto, diferentemente do "nacionalismo" direitista, a exaltação do caráter nacional num país socialista como a Coreia Juche está intimamente relacionado com a promoção da felicidade, do orgulho e do bem-estar do povo.

Diferentemente dos trumpistas, que apoiam cegamente uma elite política sem interesse real em promover o bem-estar das amplas massas trabalhadoras, os norte-coreanos exaltam um governo que continuamente lhes proporciona bens materiais e culturais, incluindo a construção de moradias, cuja entrega é gratuita, a modernização e construção de fábricas da indústria local, e a promoção de leis populares, como as de educação e saúde pública, além de diversas outras medidas benevolentes que são tratadas como uma obrigação legal do Estado, que se destina a servir ao povo.

A "primazia do nosso Estado" norte-coreana é um conjunto de políticas de caráter socialista, progressista e genuinamente nacionalista, enquanto a doutrina "América Primeiro" é um artifício ideológico criado para enganar os estadunidenses insatisfeitos com a situação atual de seu país, beneficiando um grupo político reacionário.

Imagem: "Façamos brilhar a época da primazia do nosso Estado sob a direção do grande Partido!"

Lenan Menezes da Cunha, criador e administrador do "A Voz do Povo de 1945"

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