"Literatura" para doentes mentais e depressivosUm dos diversos movimentos existentes na literatura reacionária sul-coreana é aquele que, tendo como base estética diversas correntes do pensamento literário e artístico burguês ocidental — como o existencialismo, o freudianismo e o modernismo —, exalta a solidão, o desespero e a morte do ser humano, instigando o ódio à humanidade e o niilismo.
Essas obras literárias há muito se tornaram alvo de críticas devido à sua influência nociva sobre a vida ideológica, moral e cultural do povo. No entanto, essa tendência literária continua ocupando uma posição dominante na literatura reacionária sul-coreana.
Um crítico da Coreia do Sul, em seu texto “Os escritores coreanos e a questão da postura”, aponta que o objeto criativo dos escritores modernos e a base de suas obras é a “angústia do homem causada pela civilização moderna”. Isso nada mais é do que a repetição das lamentações vazias dos literatos burgueses ocidentais decadentes. Com base em tais teorias reacionárias, a literatura sul-coreana atual está repleta de obras cujo conteúdo central é o louvor à solidão, ao desespero e à morte do homem.
“No terraço”, “A praça ensolarada” e “Lugar deixado” são exemplos representativos dessa tendência.
Na novela “A praça ensolarada”, o autor mostra o percurso de um protagonista que, sem emprego e sem rumo, passa os dias vagando e ateando fogo, até ir ao encontro de sua irmã, que vive se vendendo para sobreviver, sob a luz ardente do sol que queima a praça. Utilizando os lábios trêmulos do protagonista, o autor exalta a miséria, o desespero e a morte humanos.
Ao atravessar a praça ensolarada, o protagonista pronuncia em tom de morte:
“Aquele sol transbordante eleva da terra tudo o que é humano. Tudo o que pode derreter, tudo o que pode evaporar, ele varre para o ar, para fora do universo — é o instinto natural da seleção divina em ação. Nas paredes, a sombra do homem, tingida de açúcar, vacila.”
Dentro desse contexto, o “eu” do personagem, ainda sensível, sente uma fome profunda.
Ele observa os objetos e diz coisas como: “são cruéis... depois derreta-os e apague-os”, como um louco, e sente-se pressionado por algo até mesmo pela sombra que se estende a seus pés. Sentindo-se prisioneiro, ele se debate tentando libertar-se disso. Em certos momentos, ele experimenta uma sensação de perigo, como se estivesse prestes a cair num abismo sem fim de desespero e ruína. É exatamente nesse estado que o protagonista presencia a morte do pai, com quem vivia junto de sua irmã, e murmura consigo mesmo:
“Poder morrer por vontade própria é a única forma de descanso.”
Escolher a morte é uma decisão consciente. “Assim como escolhemos o caminho da vida, a própria morte deve ser também uma escolha dentro da ação. Se isso não for possível, é preciso morrer durante a ação. E, se nem isso for possível, que ao menos sejamos mortos. Essa é a morte verdadeiramente humana.”
Como se vê, esta obra exalta o niilismo extremo e a misantropia.
Além disso, “No terraço” também instiga a ideia da falta de sentido da vida e o ódio ao homem, retratando o protagonista — um funcionário de escritório sem propósito e sem esperança — que vive mergulhado na monotonia.
Nesse conto, o protagonista narra que, enquanto o pai ainda vivia, o repreendia severamente, dizendo que a “liberdade” era algo errado, e desejava a morte dele. Quando via a mãe enferma na cama, também desejava em segredo que morresse logo. Quando começou a sentir repulsa por uma mulher que amava, concluiu que ela não tinha outro destino senão morrer. É descrito como alguém que, ao sair do trabalho, vai todos os dias a um café no 12º andar para tomar chá, num gesto vazio e repetitivo.
Assim, o autor desse conto exalta a falta de sentido da vida e o ódio ao ser humano, conduzindo-se a um pessimismo fantástico.
O mesmo desvio ideológico pode ser observado no poema “Lugar deixado”.
Nesse poema, o poeta vê o mundo real como um espaço vazio e pálido — um “mundo branco e silencioso”, onde apenas a escuridão e o silêncio florescem em plenitude —, e clama, em desespero, sua própria solidão e desesperança.
Como visto, essas séries de obras literárias reacionárias avançam, também em termos de método criativo, em direção a um formalismo extremo.
Entre as técnicas mais radicais do formalismo na narrativa, destaca-se o “fluxo de consciência”, que, especialmente neste ano, tem se manifestado com evidência notável.
Literatura de incitação à guerra anticomunista dos lacaios do imperialismo estadunidense
Outro fenômeno observado na literatura reacionária sul-coreana deste ano é o aumento de obras de incitação à guerra anticomunista, produzidas por escritores reacionários que se tornaram meros lacaios do imperialismo estadunidense.
O tema da incitação à guerra não é novidade. Na literatura reacionária sul-coreana, isso tem sido intensificado recentemente, em paralelo à propaganda anticomunista reforçada pelos EUA e pelo regime de Pak Jong Hui, bem como às provocações e incursões militares conduzidas sob sua direção.
Um jornalista sul-coreano, em seu artigo “Patriotismo sem amor”, comenta sobre o crescimento da propaganda de Pak Jong Hui:
“Em cada rua, os cartazes e sinais mostram… há uma dose exagerada de histeria. Tudo relacionado à cultura coreana é marcado por essa histeria, e isso não é exagero.”
O regime de Pak Jong Hui, utilizando os órgãos de imprensa, reforçou a propaganda anticomunista e impôs sua execução de forma autoritária. Nesse contexto, o conto “High Society Love” tornou-se um exemplo representativo da técnica do “fluxo de consciência”. Um crítico sul-coreano elogiou a obra, afirmando que o leitor sente a tensão e a hostilidade presentes no mundo descrito pelo autor.
Outro crítico reacionário afirmou que autores desse tipo representam um sinal da “revolução da literatura moderna” e devem ser aceitos de forma ativa.
Além disso, deve-se mencionar a tendência modernista na poesia sul-coreana. Como já sabemos, os modernistas defendem que a poesia deve ser de difícil compreensão. Com base nesse princípio, os poetas modernistas produzem obras que nem mesmo eles próprios conseguem ler plenamente, criando uma “poesia de mercado” inacessível ao leitor comum.
Mesmo neste ano, o número de leitores de poesia tem diminuído em relação ao número de obras publicadas, o que tem gerado críticas. Ainda assim, os modernistas alegam, de forma infundada, que a responsabilidade pela falta de interesse é do leitor, e não da obra.
Um crítico literário reacionário sul-coreano afirmou que, mesmo nos séculos passados, poesias que refletiam a época e antecipavam o futuro eram difíceis para aqueles sem sensibilidade ou paciência. Ele tenta justificar a dificuldade das poesias modernistas atuais, chegando até a exagerar em sua defesa, mas, independentemente disso, essas obras continuam sendo rejeitadas pelo público, pois é verdade que poesia que o povo não compreende não pode ser considerada poesia de fato.
Entre os escritores reacionários submetidos aos EUA e ao regime fantoche, muitos seguem ativamente essa linha, produzindo obras reacionárias baseadas em falsidade e distorção.
A literatura sul-coreana que eles produzem busca denegrir o sistema socialista estabelecido na metade norte da República e atacar as qualidades políticas e morais dos comunistas.
Neste ano, várias dessas obras anticomunistas mostram protagonistas que, ao se lançarem na luta, demonstram lealdade ao inimigo, servindo como veículo para propaganda anticomunista. Exemplos representativos são os contos “Namjung” e “Partido e União”. Ambas as obras pregam a ideologia da cooperação de classes.
Com o apoio ativo dos EUA e do regime fantoche, essas obras ilusórias estão sendo divulgadas na Coreia do Sul, reforçando o sentimento anticomunista e antipopular, ao mesmo tempo em que dificultam o crescimento contínuo dos comunistas. Por meio dessas obras, tenta-se desestimular o povo sul-coreano de participar da luta revolucionária e afastar os heróis nacionais que se engajaram na luta contra a opressão.
Na literatura reacionária, também há diversas obras que incitam a guerra, associadas à preparação militar do inimigo. O conto “Veteranos reunidos” retrata quatro soldados reformados que, bebendo juntos, recordam cenas de combate, promovendo a propaganda bélica e difamando o Exército Popular, ao mesmo tempo que estimulam a ideologia do inimigo.
Para estimular a produção das obras reacionárias, os EUA e o regime fantoche reúnem escritores reacionários que participaram de programas culturais anteriores, organizando conferências e concursos com prêmios em dinheiro, incentivando a criação de obras de temática militar.
Assim, os escritores reacionários sul-coreanos, alinhando-se às políticas belicistas dos EUA e do regime fantoche, continuam produzindo obras reacionárias e destrutivas, comprometidas com a propaganda antissocialista e antipopular.
Literatura do povo que luta
Por outro lado, é importante destacar, na literatura sul-coreana, a tendência progressista que se posiciona ao lado do povo em luta. Os escritores progressistas, enfrentando severa repressão do regime de Pak Jong Hui, escreveram obras que refletem a experiência do povo na luta pela reunificação nacional e denunciam problemas sociais, mesmo sob condições extremamente difíceis.
Entre essas obras progressistas, merece atenção a literatura que critica o governo pró-EUA. O conto “Casa triangular” expõe a vida miserável do povo sob o regime fantoche sul-coreano e a política opressiva do governo aliado dos EUA, que força demolições de casas sem autorização, alegando oferecer “graça divina aos pobres”.
A obra evidencia a indignidade do povo coreano submetido a uma ocupação estrangeira e utiliza a visita de um fotógrafo amigo a uma exposição internacional em Paris para simbolizar a Coreia, expressando assim sentimentos anti-EUA.
No conto “Parte inferior do corpo”, o autor satiriza a política invasiva dos EUA, mostrando que, embora o protagonista compreenda a opressão, não consegue sentir sua gravidade real, ironizando a alienação da população submetida.
Na literatura progressista sul-coreana, também são produzidas obras de temática antibélica e antirrepressiva, refletindo o crescente descontentamento do povo com a política opressiva de Pak Jong Hui. As obras denunciam a arbitrariedade do regime, como julgamentos sumários e ameaças de guerra nuclear, e propagam uma visão de mundo desejada pelo povo, em contraste com a ideologia belicista do inimigo.
Entre as obras que refletem criticamente a realidade, destaca-se o conto “O Encontro de Meio-Dia"
Esta narrativa expõe de forma incisiva a tirania policial do regime fantoche, que oprime o povo inocente sob o pretexto de manter a ordem.
O protagonista, que perdeu o emprego e vagueia pelas ruas de Seul, deixa cair inadvertidamente um pacote. Pouco depois, ao tentar recuperá-lo, é acusado falsamente de roubo por um estranho que se apropria do objeto, sofrendo consequências injustas. Diante de tal arbitrariedade, ele reflete: “Neste mundo, é quase impossível viver sem se tornar culpado; sobreviver sem cometer erros é quase inacessível.” Ele descreve o abuso policial contra cidadãos inocentes da seguinte forma:
“O cassetete preso à cintura do policial bloqueia qualquer pergunta; mesmo que se tente passar despercebido, as garras de ferro do poder se abatem rapidamente. Os dois pés que caminham experimentam o medo de imediato. Roupa suja, objetos carregados — qualquer ação pode ser interpretada como crime, e todos devem receber a marca de suspeito. É como se todos fossem culpados."
Dessa forma, o autor denuncia a brutalidade do regime fantoche e de sua polícia, destacando a opressão extrema enfrentada pelo povo, apresentada como algo “assassino” e sem precedentes em três décadas.
Na literatura de tendência progressista na Coreia do Sul, várias obras abordam criticamente a corrupção e o abuso do regime fantoche, retratando como seus líderes ignoram o bem-estar do povo e acumulam riquezas para si, explorando posições de poder para benefício próprio.
Devido à exploração e corrupção dos administradores do regime fantoche, o povo da Coreia do Sul tem desenvolvido resistência e luta contra essas injustiças, e esses conflitos têm sido vividamente refletidos em obras literárias progressistas.
Um exemplo é o romance "Qual a utilidade de ser jovem?”, cuja ação se passa pouco antes de uma revolta popular. A narrativa segue estudantes universitários progressistas que criam e encenam suas próprias peças, expondo de forma crítica a corrupção administrativa, o favoritismo, os abusos de comerciantes e a conivência social, denunciando uma sociedade corrupta. A obra não se limita a criticar apenas o regime de Ri Sung Man, mas também denuncia de forma direta as práticas opressivas do governo de Pak Jong Hui.
Além disso, na literatura progressista sul-coreana, existem obras que refletem a preparação militar do regime fantoche e dos EUA, abordando o espírito de combate de soldados e sugerindo o destino final de unidades militares no campo de batalha.
O conto “Hoeung” mostra as atrocidades cometidas no reforço das preparações de guerra pelo regime fantoche e evidencia a importância do espírito de luta dentro das forças armadas. O protagonista, um oficial com o título militar de “Bujang”, é submetido a rígidas regras diárias, sendo controlado e monitorado constantemente, o que simboliza a disciplina opressiva e a mentalidade militar dentro do regime.
Em outro conto, uma oficial feminina protagonista enfrenta perigos durante exercícios militares, e seu destino sugere as dificuldades e o sacrifício enfrentados pelas forças armadas.
Por fim, a literatura progressista sul-coreana enfatiza a necessidade de combater a influência da literatura reacionária ocidental e de valorizar o patriotismo e a herança cultural própria. Os autores defendem que a expressão literária deve se inspirar na realidade sul-coreana, criticando e transformando suas contradições, e não buscar temas isolados de solidão ou mundos idealizados. Criticam o formalismo e outras tendências ocidentais, defendendo a necessidade de um realismo que dialogue com as experiências e lutas do povo.
Publicado em "Munhak Sinmun" (Jornal da Literatura) em 20 de dezembro de 1966