"Um período extremamente difícil, no qual os países europeus precisam romper seus laços com os Estados Unidos, chegou."
Essa foi a declaração de um diplomata publicada recentemente no jornal francês "Le Figaro", refletindo a grave realidade do crescente racha entre os Estados Unidos e a Europa.
Atualmente, as relações entre os dois lados estão conturbadas. Isso ficou evidente na 61ª Conferência de Segurança de Munique, realizada há pouco tempo.
O vice-presidente dos EUA, que participou da conferência, criticou a Europa, alegando que sua maior ameaça vem de dentro e que o continente se afastou de seus valores fundamentais. A imprensa europeia descreveu essa declaração como um "ataque aos valores europeus". Além disso, um funcionário da administração dos EUA afirmou categoricamente que a Europa não teria lugar na mesa das negociações de paz sobre a Ucrânia.
Embora autoridades da União Europeia e de diversos países europeus tenham insistido que qualquer reunião ou negociação sobre a segurança da Ucrânia e da Europa deveria incluir a participação europeia e alertado para graves consequências caso fossem excluídos, os Estados Unidos ignoraram tais advertências. Entre os participantes da conferência, surgiram declarações como: "Precisamos nos preocupar com o fato de que nossos valores já não coincidem mais" e "As divergências entre a Europa e os Estados Unidos estão se aprofundando".
Um consultor da Fundação Francesa para Pesquisa Estratégica afirmou que as recentes ações dos EUA levaram a relação de parceria entre os dois lados a enfrentar uma "divisão estratégica" e que os métodos adotados por Washington "enfraquecerão a posição da Europa e prejudicarão sua segurança a longo prazo".
Já um analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA destacou que, no passado, as relações entre os dois lados sofreram abalos, mas puderam ser reparadas. No entanto, os conflitos que ocorrerão no futuro poderão alterar permanentemente a natureza da parceria transatlântica.
Atualmente, os Estados Unidos alegam que os países membros da OTAN contribuem pouco para os gastos militares e ameaçam se retirar da aliança caso esses gastos não aumentem. No passado, Washington já utilizou essa pressão com sucesso e agora pretende repetir a estratégia. Em 2017, apenas 8 dos 29 membros haviam atingido a meta de gastos militares equivalente a 2% do PIB, mas atualmente esse número subiu para 23 entre os 32 países da aliança. A OTAN está considerando elevar essa meta para 3% do PIB até 2030, mas os EUA não estão satisfeitos e exigem um aumento para 5%.
A Europa está em alvoroço, pois as ameaças de Washington ultrapassaram os limites.
Recentemente, por sugestão do presidente francês, líderes de França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Polônia, além do presidente do Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia e o secretário-geral da OTAN, realizaram uma reunião de emergência para discutir a situação na Ucrânia e a segurança coletiva da Europa.
No entanto, a reunião não alcançou os resultados esperados e acabou expondo ainda mais as divergências dentro da Europa. A principal discordância surgiu em relação ao envio de tropas para a Ucrânia. O Reino Unido declarou que já está preparado para enviar forças terrestres "quando necessário", enquanto a Suécia também afirmou que não descarta essa possibilidade. Por outro lado, Alemanha, Espanha, Polônia e a maioria dos outros países responderam que "não há planos para isso", classificando a ideia como "extremamente complexa e ineficaz" ou "prematura". Como resultado, não foi possível emitir uma declaração conjunta após o encontro.
A revista estadunidense "Politico" avaliou que a reunião fracassou em seu objetivo de unificar a posição dos países europeus sobre a questão da Ucrânia.
Decepcionado, o presidente francês afirmou recentemente que a Europa deve aumentar seus investimentos em defesa para garantir sua própria segurança. Ele defendeu que, para fortalecer sua autonomia e poder, a Europa precisa tomar "decisões rápidas tanto em nível nacional quanto continental", pois a segurança europeia está em risco.
Ele também reconheceu que os Estados Unidos já não priorizam a Europa, afirmando que essa realidade precisa ser aceita. "Uma nova era nos forçará a fazer escolhas", concluiu.
Durante décadas, a Europa seguiu os passos dos Estados Unidos, mas o desfecho não está sendo favorável. Para Washington, seus aliados não passam de meros instrumentos para alcançar seus próprios interesses. Essa aliança desigual inevitavelmente gera conflitos e divisões.
Ho Yong Min
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