domingo, 17 de agosto de 2025

Destruidores da paz, protagonistas da corrida armamentista

No último dia 4, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia anunciou uma declaração afirmando que o país não estará mais vinculado à proibição de implantação de mísseis de curto e médio alcance.

A declaração ressaltou que os repetidos avisos da Rússia foram ignorados e que a situação está, de fato, se desenvolvendo no sentido da implantação de mísseis terrestres estadunidenses de curto e médio alcance na Europa e na região da Ásia-Pacífico. A Rússia avaliou que as condições para manter unilateralmente a medida de proibição da implantação de tais armas deixaram de existir, e destacou que não estará mais vinculada às restrições autoimpostas adotadas anteriormente.

O Tratado de Eliminação de Mísseis de Curto e Médio Alcance foi um acordo de desarmamento assinado em 1987 entre a União Soviética e os EUA para reduzir o nível de tensão da confrontação da Guerra Fria. O tratado estipulava a eliminação completa e o desmantelamento de todos os mísseis balísticos e de cruzeiro terrestres com alcance entre 500 e 5.500 km. O desenvolvimento e os testes de lançamento de novos mísseis desse tipo também foram naturalmente proibidos.

Na época, em termos de posse de mísseis terrestres de alcance intermediário, a União Soviética tinha mais do que o dobro em comparação aos EUA, mas em relação aos mísseis de alcance intermediário baseados no mar, os EUA eram esmagadoramente superiores. Portanto, para ser justo, seria necessário eliminar todos os mísseis de alcance intermediário, mas, ao restringir apenas os terrestres, o tratado acabou favorecendo exclusivamente os EUA.

Entretanto, os EUA avançaram até mesmo para a direção de abandonar esse tratado.

Em 2019, proclamaram unilateralmente sua retirada, alegando de forma injusta uma “violação” por parte da Rússia. A Rússia, por sua vez, vinha fazendo esforços pacientes para restaurar o tratado e manter sua validade.

A Rússia declarou que continuaria congelando a implantação dos sistemas de armas proibidos pelo tratado e apelou para que os países-membros da OTAN tomassem medidas correspondentes. Também exigiu que os aliados dos EUA na região da Ásia-Pacífico não permitissem uma corrida armamentista desse tipo na área.

No entanto, mal proclamaram a retirada do tratado, os EUA se lançaram no desenvolvimento e modernização de mísseis de alcance intermediário e, no final de 2022, concluíram o sistema de lançamento terrestre de mísseis de alcance intermediário “Typhon”. Esse sistema de lançamento pode disparar os mísseis de cruzeiro de longo alcance do tipo “Tomahawk” já existentes, bem como os mísseis guiados multifuncionais do tipo “SM-6”.

Além disso, os EUA, utilizando o pretexto da situação na Ucrânia, vêm instigando a insegurança na Europa e revelaram abertamente sua intenção de implantar mísseis de alcance intermediário na região europeia. No ano passado, veio à tona que os EUA introduziram esse sistema de mísseis na Dinamarca sob o disfarce de treinamento. Em seguida, anunciaram publicamente o plano de implantar sistemas de mísseis de alcance intermediário na Alemanha a partir de 2026.

Também estenderam suas garras para a região da Ásia-Pacífico.

Logo após a retirada do tratado, o secretário de Defesa dos EUA já havia declarado abertamente que implantaria mísseis de alcance intermediário na Ásia. De fato, em abril do ano passado, sob o pretexto de um exercício militar conjunto, os EUA implantaram um sistema de lançamento de mísseis de alcance intermediário no norte da ilha de Luzon, nas Filipinas. O secretário do Exército dos EUA também afirmou publicamente que pretende implantar mísseis terrestres de alcance intermediário em território japonês.

A firme posição da Rússia, agora declarando que não estará mais vinculada às medidas de proibição do tratado, tem como pano de fundo essa evolução da situação.

Em maio do ano passado, a Rússia anunciou que tinha o direito de responder de forma imediata e proporcional sempre que e onde quer que surgissem mísseis de alcance intermediário estadunidenses. Em novembro, em meio à situação de combate na Ucrânia, lançou o novo míssil balístico hipersônico de alcance intermediário “Oreshnik”. Segundo o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, isso demonstrou a capacidade potencial de resposta diante da implantação de mísseis de alcance intermediário pelos EUA.

Com a dissolução do tratado que regulava a eliminação das forças nucleares de alcance intermediário, cresce o risco de surgimento de uma crise nuclear.

O jornal chinês "Huanqiu Sibao" advertiu que, caso os mísseis de alcance intermediário dos EUA ataquem alvos estratégicos terrestres, isso poderá provocar uma crise nuclear. Um especialista militar britânico afirmou que isso pode levar a um “ciclo vicioso de competição” no desenvolvimento de armas nucleares, acrescentando que o reforço dos mísseis nucleares de alcance intermediário pelos EUA inevitavelmente incitará a Rússia a fortalecer ainda mais suas forças nucleares.

É tão claro quanto a luz do dia por quem está sendo criado esse perigo que surge no campo da segurança estratégica internacional.

Jang Chol

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