sábado, 4 de julho de 2020

Respostas às perguntas de um grupo de jornalistas do Washington Times, dos EUA



Pyongyang, 12 de abril de 1992.

Saúdo sua visita a nosso país.

Agradeço-lhes pelas palavras felicitação que me expressaram por ocasião de meu aniversário.

Responderei de modo sucinto suas perguntas.

Pergunta: Nos últimos tempos se observa que são realizados uma série de esforços para melhorar as relações entre Coreia do Norte e Estados Unidos.

Senhor Presidente, como você avalia os atuais vínculos entre ambos países e o que espera para melhorá-los?

Resposta: Ultimamente foram iniciados os movimentos dirigidos a melhorar as relações RPDC-EUA, o que atrai a atenção do mundo. Em poucas palavras, podemos afirmar que se até agora entre os dois países persistiram os vínculos anormais, isso está relacionado com a Guerra Fria existente entre o Leste e o Oeste. É lógico que ao finalizar a mesma, se apresente como ordem do dia o problema de por fim às truncadas relações RPDC-EUA.

Algumas pessoas, ao observar que terminou a Guerra Fria, falam como se uma parte tivesse ganhado e a outra perdido, porém esta pode ser qualificada como uma opinião superficial ante as mudanças da realidade histórica. Como desde seu inicio a Guerra Fria foi uma competição injusta que perseguía demostrar a superioridade das forças, hoje em dia não se pode apontar a questão de quem venceu e quem perdeu quando a mesma fracassou.

Da óptica do desenvolvimento da história mundial, o fim da Guerra Fria significa precisamente o fracasso da política de forças, o que podemos considerar como uma importante premissa para implantar a independência em todo o mundo. Se uma parte, considerando por si só ter vencido a outra parte e monopolizado as forças em escala mundial, e valendo-se de uma política de forças, segue pelo caminho da manutenção e da ampliação da velha ordem de domínio e subjugação, não só tropeçará com a resistência dos povos do mundo, amantes da paz, como também, incluso, será repudiada pelos aliados que seguiram-lhe até agora, o que finalmente lhe acarretará na ruína. Acerca de mudança, se os Estados Unidos, que permaneceu como única superpotência do mundo, abandona por si mesmo essa política de forças com motivo do fim da Guerra Fria, e respeita e materializa os princípios da justiça e igualdade internacionais, ganhará o apoio dos povos, e na mesma medida se acelerará o processo de democratização da comunidade internacional, o de realização da independência no mundo.

Se os políticos dos Estados Unidos, responsáveis pelo destino de sua nação, retificam sua política a respeito da RPDC, com uma visão de longo alcance e de acordo com a corrente da atual época, que aspira à independências, também será resolvido sem dificuldades o problema do melhoramento das relações RPDC-EUA.

Esperamos que os Estados Unidos mude com audácia esta política à Coreia, faça os devidos aportes à reunificação pacífica de nosso país e, posteriormente, se una de modo ativo à marcha da história tendente a implantar a soberania na Terra.

Pergunta: Na atualidade todo o mundo está muito interessado sobre a questão da exploração nuclear na Coreia do Norte.

O governo dos Estados Unidos fala desse assunto como se possui informações seguras.

O governo de seu país expôs em várias ocasiões sua posição a respeito. E na recente sessão da Assembleia Popular Suprema foi examinada e ratificada a assinatura do acordo relativo à aplicação de garantias no marco do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que o governo de seu país acertou com a Organização Internacional de Energia Atômica.

Senhor Presidente, você, como dirigente da Coreia do Norte, poderia dar hoje, ante aos Estados Unidos e ao mundo inteiro, uma garantia responsável de que a inspeção seria realizada de modo tal que o mundo confie nela?

Resposta: Na Terceira Sessão da IX Legislatura da Assembleia Popular Suprema da República Popular Democrática da Coreia, recém-efetuada, foi debatido e ratificado o mencionado acordo. Assim, podemos considerar solucionado todo o problema dos procedimentos legais, relacionado com a inspeção nuclear. Creio que não é necessário falar mais deste assunto, porque será resolvido sem dificuldades.

Pergunta: Nos últimos dois anos, em Panmunjom foram entregues aos Estados Unidos os restos de dois cadáveres, considerados como caídos na Guerra da Coreia. Este fato criou em nosso país uma impressão muito positiva sobre sua qualidade humana.

Gostaríamos de saber se todavia há outros restos mortais de estadunidenses caídos, que serão transferidos. Sua entrega serve de projétil de sinal muito favorável para o melhoramento das relações EUA-Coreia do Norte.

Rogamos a você, senhor Presidente, que expresse sua opinião a respeito.

Resposta: O governo de nossa República, mesmo depois de concluída a transferência dos restos de cadáveres entre RPDC e Estados Unidos, em virtude do Acordo de Armistício da Coreia, vem efetuando interruptamente sua busca, partindo de uma posição humanitária e, nos últimos anos, entregou os restos de vários cadáveres a seu país. Espero que a medida que melhorem as relações RPDC-EUA vá sendo resolvido de modo mais satisfatório o assunto da transferência dos restos de seus caídos.

Pergunta: Na atualidade no mundo se estima que a RPDC vai ampliando cada vez mais seus laços econômicos com o exterior e se inclina à uma abertura econômica.

Gostaríamos ouvir as opiniões do Presidente sobre as perspectivas de abertura econômica da Coreia do Norte, sobre os investimentos estrangeiros e sobre o comercio externo.

Resposta: Nossa orientação para a construção de uma economia nacional independente, se opõe à dependência econômica de outras nações e não aos intercâmbios e à colaboração neste campo, com estas. Desenvolver com outros países as relações de cooperação econômica com base nos princípios de independência, igualdade e beneficio mútuo é uma política que o Governo de nossa República mantém de maneira invariável.

Nos últimos anos, desenvolvemos de modo mais ativo a colaboração e os intercâmbios econômicos com alguns Estados. Isso é natural em vista de que, ao finalizar a Guerra Fria, existe uma tendência mundial à ampliação e desenvolvimento dos intercâmbios e cooperação econômico-tecnológicos entre as nações. E extensão e o fomento dos vínculos econômicos com outros países não significam nenhuma mudança em nossa posição de princípios de defender o autossustento econômico. Doravante, partindo desta postura independente, seguiremos promovendo ativamente os intercâmbios e a cooperação técnico-econômicos com todas as nações que nos tratem amistosamente.

Pergunta: Com frequência se tende a considerar a China como modelo do desenvolvimento da economia socialista.

Ademais, sabemos que dirigentes de sua República visitaram zonas especiais econômicas da China.

Peço-lhe, senhor Presidente, que nos diga qual é sua opinião a respeito do modelo de abertura econômica da China e qual relação tem este com a exploração econômica e a política de abertura da Coreia do Norte.

Resposta: A China é um país amigo, vizinho e velho companheiro de lutas. No passado, nosso povo e o fraterno povo chinês derramaram seu sangue na batalha conjunta contra o imperialismo e, também hoje, no esforço pela construção socialista, se apoiam e cooperam estreitamente entre si.

Desejamos com sinceridade que na China todos os trabalhos marchem bem. Estamos muito contentes de que nos últimos anos o fraterno povo chinês, guiado pelo Partido Comunista, está obtendo relevantes êxitos na edificação socialista.

Enquanto à via concreta para a construção do socialismo, opino que não se pode tomar como modelo universal o método de um país, pois entre as nações existem diferenças enquanto ao tamanho territorial e ao nível de desenvolvimento, assim como são distintas as condições em que se encontram. Cada qual deve idear a vida de construção socialista de acordo com sua própria realidade. Consideramos que a política de edificação econômica da China atende à sua situação, razão pela qual a apoiamos de modo ativo.

Pergunta: Senhor Presidente, poderia falar-nos de suas opiniões acerca da perspectiva de diálogo Norte-Sul depois da assinatura do acordo entre ambas partes, a perspectiva e a possibilidade de reunificação da Península Coreana e a possibilidade do estabelecimento da embaixada dos Estados Unidos em Pyongyang?

Resposta: A assinatura do acordo Norte-Sul constitui um grande avanço na luta de nossa nação pela reunificação. Atualmente, para colocá-la em prática, ambas partes efetuam conversações em várias vertentes. É necessário desenvolvê-las em correspondência com o desejo de todos os coreanos de lograr que o acordo se materialize até tal ponto que se alcance a reunificação da pátria.

Do ponto de vista histórico, o problema da reunificação da Coreia se relaciona muito com os fatores externos, porém seu sujeito é, em todos os casos, nossa nação. Se todos os coreanos do Norte, do Sul e em ultramar lutam unidos com firmeza, sobre a base do principio da grande unidade nacional, poderão realizar sem falta a obra de sua reintegração, rejeitando as intervenções de forças estrangeiras e vencendo toda classe de obstáculos interpostos neste caminho.

A respeito da possibilidade do estabelecimento de uma embaixada dos Estados Unidos em Pyongyang, é uma questão que pode ser decidida segundo a melhora das relações RPDC-EUA.

Pergunta: Muitas pessoas argumentam que por razões econômicas os EUA deve retirar-se da Ásia e da Coreia do Sul. Neste caso, o resultado seria que o Japão teria que rearmar-se para responder por si só por sua defesa.

Senhor Presidente, poderia nos dizer qual é sua opinião a respeito?

Resposta: A questão da retirada das tropas estadunidenses da Ásia deve ser comprovada com o passar do tempo, porém, mesmo neste caso, não há necessidade de que o Japão se rearme, convertendo-se em potência militar.

Hoje em dia, ainda que existam países que querem promover a cooperação econômica com o Japão, convertido em potência econômica, não há nenhum que lhe ameace militarmente, nem nenhum que aplauda sua conversão em potência militar.

Se o Japão orienta-se a converter-se em potência militar, esquecendo as severas lições históricas do passado, isto não só iria contra a tendência da época, mas também seria igual a escolher por si mesmo o caminho do suicídio. Portanto, o povo e os políticos progressistas deste país não devem tolerar o ressurgimento do militarismo japonês.
 
Pergunta: Se diz que o século XXI seria a era do Pacífico e se fala de que no futuro a força principal da economia mundial estará na Ásia.

Senhor Presidente, acredita que sua República possa apresentar-se como uma das nações econômicas avançadas nessa época, ou que, não logrando isso, será inevitável ceder a China ou ao Japão a iniciativa na economia do continente? Poderia dizer-nos quais aspectos teria a Península Coreana na era do Pacífico?

Resposta: Considero que para dizer que o século XXI será a era do Pacífico e que a força principal da economia mundial estará na Ásia, leva em conta o grande potencial que esta zona possui para o desenvolvimento econômico e a realidade de que seus povos entraram em nova fase de progresso.

Para converter a Ásia na força principal da economia mundial, mediante a exploração e a utilização suficiente desse potencial, é necessário que os países do continente cooperem entre si, atendo-se aos princípios da independência, da igualdade e do benefício mútuo. Para não falar de que é intolerável a tentativa de dominar outras nações plano político e militar, tem o mesmo papel o propósito de aproveitar-se da prerrogativa econômica para submetê-las nesta esfera. Quando os países asiáticos colaborem sinceramente uns com os outros pela prosperidade comum, poderão superar suas diferenças no nível de desenvolvimento e marchar por um novo caminho de desenvolvimento e progresso.

Nosso povo não só se esforçará pelo progresso nacional, como também lutará, ombro a ombro com seus homólogos asiáticos para lograr a prosperidade comum do continente.

Quando se alcance a reunificação da pátria, que é o desejo de nossa nação, esta, como digno membro da Ásia, contribuirá em grande medida a essa causa valendo-se de sua cultura desenvolvida e suas forças econômicas.

Pergunta: São muitos os que consideram o colapso da União Soviética e de outros países do Leste Europeu como uma derrota do socialismo. Todavia, em seus recentes discursos, você, senhor Presidente, declarou que este ponto de vista é incorreto.

Qual é sua análise e opinião sobre essa questão? Agradeceríamos, ademais, se nos falasse sobre o caráter e as peculiaridades do socialismo ao estilo coreano.

Resposta: Em seu processo de desenvolvimento, é possível que o socialismo tropece com reveses e contratempos temporários, porém é inalterável seu ideal, que encarna a natureza social do ser humano que exige acabar com a exploração e a opressão do homem pelo homem e que todos vivam felizes com independência. Na medida que se desenvolve a sociedade, necessariamente se afiança a natureza dos seres humanos que exigem o socialismo e portanto é uma lei irrevogável que eles sigam por esse caminho.

O fracasso do socialismo em alguns países tem várias causas, porém a principal radica em que não respeitaram seu princípio fundamental. A sociedade socialista é uma sociedade onde as massas populares são donas desta e do Estado e que progride em função de seu papel criador. Lograr que estas ocupem essa posição e cumpram seu rol como tais, vem a ser, precisamente, o princípio fundamental que se deve observar sem falta na edificação do socialismo. Para aplicá-lo é indispensável uni-las e torná-las coesas em um coletivo socialista mediante sua educação com as ideias correspondentes, e fomentar plenamente a democracia socialista na administração estatal, ao materializar a linha de massas sob a direção do Partido. Do contrário, é impossível impedir a penetração das correntes ideológicas anti-socialistas, o efeito negativo do incremento do burocratismo e não se poderá lograr que as massas populares desempenhem o papel de donas do Estado e da sociedade e que o socialismo mostre suas vantagens. Em certos países não se prestou a devida atenção a esse problema essencial que deve ter maior prioridade na construção do socialismo, como resultado do qual este perdeu a vitalidade e sua causa se viu frustrada.

As massas populares são as donas do mundo e o sujeito da história. No processo de construção do socialismo, dirigimos sempre nossos esforços principais a fortalecer este sujeito e elevar seu papel, e realizamos, segundo suas demandas, todos os trabalhos para a transformação da natureza e da sociedade.

O socialismo que nós construímos é um sólido socialismo centrado nas massas populares, onde estas e o Partido estão vinculados estreitamente como um ente sócio-político e onde tudo serve ao povo. Atualmente, em nosso país todas as esferas da política, da economia e da cultura progridem equilibradamente conforme à exigência de independência das massas populares e todos os integrantes da sociedade desfrutam por igual de uma existência material, de uma vida cultural fecunda e de valiosas atividades políticas. Aqui estão precisamente as peculiaridades essenciais e as vantagens do socialismo de nosso país, que avança com vigor, imperturbável ante a qualquer tempestade.

Pergunta: Dentro de oito anos mudará o século. Poderia dizer-nos o que espera do século XXI?

Ademais, qual dirigente que existiu na história, ou que ainda esteja vivo, você mais admira e por qual razão?

Resposta: Na atualidade, a independência, a paz e a amizade constituem o ideal comum dos povos progressistas do mundo. Dada a condição do fim da Guerra Fria, se acelerará mais o progresso de democratização e independência da comunidade internacional, e o século XXI será uma nova época histórica onde todos os povos desfrutarão por igual de felicidade e prosperidade em um mundo novo, livre e pacífico.

Na história, houveram muitos dirigentes renomados que sacrificaram sua vida em aras da liberdade e emancipação dos povos. Eram diferentes, tanto as épocas e as condições sócio-históricas em que eles atuaram, como as personalidades que possuíam. Por isso, é difícil destacar um deles para dizer que admiro.

Admiro todos os dirigentes que lutaram com abnegação pela causa da independência das massas populares.

Pergunta: Felicitamos-lhe, senhor Presidente, com motivo de seu aniversário de 80 anos.

São muitos os que dizem que você, embora tenha 80 anos, goza de uma saúde igual a de uma pessoa de 50 anos de idade. Qual é o segredo?

Ademais, fale-nos, por favor, sobre a emoção que experimenta ao completar 80 anos.

Você é o mais antigo entre os atuais governantes no poder, em escala mundial. Qual impressão tem disso?

Quais são seus gostos? Diga-nos, por favor, as diversões e esportes que você pratica.

Resposta: Cada vez que me perguntam qual é o segredo de minha boa saúde, respondo que consiste no otimismo com que vivo.

Desde o primeiro período em que tomei o caminho da revolução, encontrei o valor de viver e a felicidade, em confiar no povo e compartilhas com este as penas e alegrias, Posso dizer com convicção que, quando um se apoia em sua força inesgotável, não há tarefa irrealizável, nem existe maior honra que dedicar tudo ao povo; esta é a fonte de meu otimismo.

Considero que minha maior felicidade está em ter vivido meus 80 anos em meio ao amor e confiança do povo, e estou decidido a realizar todos meus esforços para corresponder à sua esperança e confiança.

Não tenho gosto ou diversão especial que mereça ser destacada.

Poderia dizer que meu gosto é ler e viver entre o povo.

Desejo que vocês tenham êxitos em seu trabalho.

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