quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Sobre a construção de uma nova Coreia e a Frente Unida Nacional


Discurso proferido ante aos altos funcionários do Partido nas províncias em 13 de outubro de Juche 34 (1945).

Antes de falar sobre o problema da frente unida nacional, vou referir-me à experiência de outros países a respeito da frente unida.

No informe “A ofensiva do fascismo e as tarefas do Comintern na luta pela unidade da classe operária contra o fascismo”, rendido ante ao VII Congresso da Internacional Comunista celebrado em  1935, o camarada Dimitrov apresentou a orientação de formar uma ampla frente popular antifascista sobre a base da unidade e coesão da classe operária. Nessa época a mais bárbara ditadura fascista de Hitler reinava na Alemanha, enquanto a ditadura fascista de Mussolini ia fortalecendo-se na Itália.

Os fascistas trataram de escravizar não só o povo de seu próprio país mas também toda a humanidade, e de fascistizar o mundo inteiro. A fim de lutar contra a ditadura sanguinária e a política de agressão dos fascistas era necessário formar a frente popular em vários países da Europa.

Na frente popular podiam tomar parte não só os trabalhadores, com a classe trabalhadora na vanguarda, mas também aqueles capitalistas que exigiam a liberdade e a democracia. Porque para alguns capitalistas —para não falar dos povos trabalhadores, com os trabalhadores e camponeses na primeira fila—, também se apresentou de maneira apremiante a necessidade de contra-atacar o fascismo internacional que tendia a conquistar o mundo inteiro e escravizar toda a humanidade. A conquista da Etiópia pela Itália fascista constituiu um senal de perigo do estalar da Segunda Guerra Mundial. Ao confrontar esta crise, a Internacional Comunista expôs em seu VII Congresso o problema da frente popular. Dito Congresso recomendou aos partidos comunistas de todos os países que formassem a frente popular antifascista. A orientação tática de formá-lo foi adotada primeiramente pelos Partidos Comunistas de França e Espanha.

No Oriente, sob as condições em que se tornavam ainda mais abertas as intrigas agressivas dos imperialistas japoneses, encaminhadas a conquistar os povos asiáticos, não se podia menos que organizar a frente unida nacional contra o imperialismo japonês.

Nos países que empreenderam a luta contra o domínio colonialista do imperialismo e pela eliminação do perigo de colonização se formou a frente unida nacional, e nos países que eram confrontados com o perigo da fascistização, como França e Espanha, foi criada a frente popular. Tanto a frente popular como a frente unida nacional tiveram a mesma essência no sentido de que se opunham igualmente ao fascismo e à agressão do imperialismo, porém apareceram estas duas formas segundo a situação concreta em que cada país se encontrava.

Um bom exemplo de frente unida nacional  podemos encontrar na China. Assim que o imperialismo japonês estendeu suas garras agressivas ao continente chinês, logo após ocupar a Manchúria, o Partido Comunista da China propôs-se a colaborar com o Guomindang e todas forças da nação a unir-se e levantar-se na luta antijaponesa de salvação nacional. Esta proposta não foi aceita durante longo tempo, dada a atitude obstinada dos reacionários do Guomindang. Todavia, os esforços consequentes e sinceros do Partido Comunista da China desfrutaram pouco a pouco do apoio de todo seu povo e, com o estalar da Guerra Sino-Japonesa, foi enfim formada a frente unida nacional antijaponesa com a colaboração entre o Partido Comunista e o Guomindang. Assim, os reacionários do Guomindang, tão porfiados como eram, não puderam menos que estar de acordo, inevitavelmente, com a proposta do Partido Comunista, ao se verem forçados pela exigência unânime do povo chinês em favor da unidade nacional e da salvação do país frente ao Japão.

A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra de libertação das forças democráticas de todo o mundo contra o fascismo. Na Segunda Guerra Mundial foram derrotados Alemanha, Itália e Japão graças ao papel decisivo do exército soviético, com o qual numerosos países da Europa e Ásia se libertaram do jugo fascista.

Qual caminho a Coreia liberada deve tomar? Existe o problema mais importante e fundamental que devemos tomar em consideração para determinar o caminho que a Coreia deve seguir. É o fato de que a Coreia foi colônia do imperialismo japonês durante muito tempo. Devido à dominação do imperialismo japonês, o desenvolvimento do capitalismo na Coreia se viu seriamente contido e a sociedade coreana seguia sendo uma sociedade colonial com muitos remanescentes feudais. De modo particular, em nosso campo predominam as relações feudais de exploração.

Por isso que atualmente se apresentam ante ao povo coreano a tarefa de levar a cabo a revolução democrática antimperialista e antifeudal e de fundar uma República Popular Democrática..

Quem deve então dirigir esta revolução? Deve ser dirigida pela classe operária ou pela capitalista? No passado, em contubérnio com o imperialismo japonês, a classe capitalista da Coreia explorou e oprimiu o povo e o enganou utilizando os lemas de “reforma da nação” e “autonomia nacional”. Entretanto, isso não significa que não houveram em absoluto capitalistas nacionais que se opuseram ao imperialismo japonês.

Foi a classe operária coreana a que lutou valentemente, até o final, contra o imperialismo japonês. O Partido Comunista da Coreia, fundado em 1925, foi dissolvido em 1928 como consequência das disputas faccionalistas, porém isso não suspendeu o movimento comunista. Desde a década de 1930, os comunistas coreanos lutaram valorosamente empunhando as armas contra o imperialismo japonês.

É óbvio que a classe capitalista da Coreia, que capitulou ante ao imperialismo japonês e se coligou com ele, não pode dirigir a revolução. Somente a classe operária, que combateu com valentia o imperialismo japonês até o fim, pode e deve indubitavelmente dirigir a revolução coreana.

Para fixar o caminho que devemos seguir temos que levar em conta, ademais da situação internacional favorável que foi criada depois da Segunda Guerra Mundial, o fato de que se estacionaram no Sul e no Norte respectivamente, com o Paralelo 38 de latitude Norte como linha de demarcação, o exército dos Estados Unidos, país imperialista, e o exército da União Soviética, Estado socialista, assim como a condição de que o poderio de nosso Partido ainda não é suficientemente sólido.

A fim de construir uma República Popular Democrática é necessário formar uma frente unida em que participem todas as forças patrióticas e democráticas, desde a classe operária e o campesinado até os capitalistas nacionais. É possível ganhar as massas para nosso lado, não com meras palavras mas no transcurso de uma luta real pela construção da República Popular.

Devemos saber que também as classes de intelectuais, religiosos e capitalistas se movem agora, ainda que não estejam organizados. Quanto mais se fortaleçam nossas organizações e forças, mais eles tenderão a organizar-se gradualmente deixando seu estado de dispersão. À luz destes fatos, na etapa atual não podemos ignorar as forças dos nacionalistas, nem podemos por obstáculos na formação da frente unida nacional rejeitando-os sem princípio.

Por consequência da propaganda maligna dos imperialistas japoneses contra o Partido Comunista e das ações perniciosas dos faccionalistas no passado, ele não pôde lograr todavia o apoio das amplas massas, e certas pessoas, politicamente inconscientes, não se libertaram da ilusão a respeito dos nacionalistas.

Naturalmente, nossa frente unida é uma frente unida para a construção da República Popular Democrática, motivo pelo qual não se deve pensar jamais na coalizão com os lacaios do imperialismo japonês. Podemos nos aliar com os capitalistas nacionais conscientes que exigem a construção de um Estado democrático e independente, e devemos fazê-lo. Somente formando esta frente unida, poderemos construir uma República Popular Democrática e agrupar todas as classes e estratos das massas populares.

Nesta luta o Partido Comunista não deve ser pouco ativo ou passivo. Na luta para estabelecer a República Popular Democrática, os membros do Partido Comunista devem desempenhar o papel mais ativo e dinâmico e conduzir as massas populares pondo-as na linha de frente. Só então, as massas populares seguirão o Partido Comunista.

Os capitalistas nacionais sempre podem vacilar no curso da luta para fundar a República Popular Democrática. A experiência demonstra que não é raro que eles enganem as massas ou traiam os interesses da nação em proveito de seus estreitos interesses de classe. É que os capitalistas nacionais temem o avanço revolucionário das massas e podem vacilar facilmente a medida que progrida a revolução. Por este motivo, mesmo quando os capitalistas nacionais não empreendam seu entusiasmo e titubeiem no trabalho de construção da República Popular Democrática, devemos nos unir com eles e, ao mesmo tempo, expor e criticar sem cessar seus crimes e caráter vacilante. Só assim poderemos lograr que as massas conheçam claramente sua verdadeira natureza e compreendam também de forma cabal a política do Partido Comunista.

O Partido Comunista deve cooperar sem vacilação com os partidos que se pronunciam pela reunificação e independência de nosso país. Porém, o Partido Comunista de maneira alguma deve andar a reboque, nem muito menos permitir que se dilua em outro partido. O Partido Comunista deve manter sempre sua independência ao colaborar com eles.

Agora, o Partido Democrático da Coreia do Sul se opõe furiosamente a que liquidemos os lacaios do imperialismo japonês. Isso não é nada casual. O Partido Democrático da Coreia do Sul é um grupo de latifundiários e capitalistas entreguistas que até pouco tempo estiveram confabulados com os imperialistas japoneses. Depois da derrota do imperialismo japonês, eles se converteram imediatamente em elementos pró-ianques e pediram a proteção dos Estados Unidos no lugar da proteção do Japão. Não se pode ocultar que só uma pequeníssima minoria de latifundiários e capitalistas coreanos não se converteram em lacaios do imperialismo japonês, enquanto que a esmagadora maioria explorou e oprimiu o povo, servindo de mãos e pés aos imperialistas japoneses. Por isso, é absolutamente justo liquidar por completo os latifundiários pró-japoneses, capitalistas entreguistas e traidores da nação.

Os capitalistas nacionais também se atemorizam muito com nossa luta contra os elementos sobreviventes do imperialismo japonês. Porque eles, igualmente, no passado, serviram de uma forma ou de outra ao imperialismo japonês. É um erro insistir em que não devemos denunciar nem criticar seus crimes, enquanto propomos a frente unida nacional. Dentro da frente unida devemos manter os princípios de unir-nos com eles e, ao mesmo tempo, de combatê-los. Somente procedendo assim poderemos elevar a consciência política das massas trabalhadoras e superar o caráter vacilante dos capitalistas nacionais.

Eis aqui um problema que devemos aclarar. Nos referimos ao problema de como definir os lacaios do imperialismo japonês. Não podemos qualificar indiscriminadamente como esbirros desse imperialismo todos aqueles que trabalharam a seu serviço. Durante quase 40 anos, numerosos coreanos não podiam subsistir se não entrassem nos organismos do imperialismo japonês. Sendo assim, devemos qualificar de lacaios os elementos que reprimiram e assassinaram deliberadamente a população na tentativa de destruir a revolução, os que traíram e venderam os interesses da nação em benefício dos interesses do imperialismo japonês e os que prestaram ajuda de maneira ativa e intencionada. A nação há que liquidar estes traidores, mobilizando as massas e através da luta massiva. Porém, não podemos definir como lacaios as pessoas que serviram inevitavelmente aos organismos do imperialismo japonês para poder subsistir ou ao ver-se forçada a isso, nem os empregados inferiores que só desempenharam um papel inativo e passivo em ditos organismos. Temos que educar e transformar estas pessoas e abrir-lhes o caminho da ressurreição.

Nossa tarefa imediata é fundar a República Popular Democrática. Não podemos saltar por cima da etapa de desenvolvimento da revolução e por isso devemos traçar sem falta a estratégia e tática corretas para levar a cabo as tarefas que se apresentam na etapa atual da revolução.

O alvo de nossa luta imediata são os lacaios do imperialismo que tratam de abrir caminho de novo para as forças imperialistas e os latifundiários, forças feudais coligadas com aquelas. Para opor-nos às forças remanescentes do imperialismo e às forças feudais e levar a cabo a revolução democrática, temos que formar uma frente unida democrática que abarque as grandes massas camponesas e os intelectuais patrióticos, e incluso os capitalistas nativos de consciência nacional, com a classe trabalhadora como núcleo, e assim construir a República Popular Democrática, Poder popular dirigido por esta classe.

O programa básico do Partido, exigência estratégica que se apresenta na etapa atual da revolução, não pode variar, porém, o programa de ação, exigência tática, pode mudar a qualquer momento. O programa básico do Partido Comunista, tal como “as fábricas, aos operários” e “a terra, aos camponeses”, não pode variar; porém o programa de ação deve ser traçado segundo a mudança de situação e de acordo com ela. Por isso, nos vemos obrigados a lutar com o programa de ação mais de acordo com a situação atual.

Para formar agora a frente unida, devemos fortalecer sobretudo a aliança entre o obreirismo e o campesinado e ganhar para nosso lado as vastas massas camponesas. Porém, a fim de defender os interesses do campesinado e ganhá-lo, temos que lutar para confiscar a terra dos imperialistas japoneses e seus lacaios, começando com o combate para reduzir ou anular o arrendamento e, ao mesmo tempo, empreender gradualmente a luta para confiscar a terra dos latifundiários e distribuí-la entre os camponeses. Assim, a luta deve se estender pouco a pouco de menor a maior.

O mais importante para ganharmos as amplas massas e debilitar as forças inimigas é fortalecer as filas do Partido Comunista.

Devemos lutar antes de tudo contra os oportunistas que se infiltraram no Partido. Estes não tem princípios consequentes, e tentam minar a unidade do Partido, pondo-se hoje deste lado e amanhã do outro lado como se fossem morcegos. Eles formam um grupo que devemos odiar e vigiar ao máximo.

Logo, devemos estar alerta ante aos esbirros do imperialismo japonês, camuflados de membros do Partido Comunista. Eles fingem ser ardentes comunistas para ocultar seus crimes. Recorrem habitualmente às palavras e ações ultra-esquerdistas e vociferam como se pudessem estabelecer imediatamente o Poder “soviético” derrotando a classe capitalista. Porém, seu verdadeiro propósito consiste em conduzir a revolução ao fracasso, destruindo o Partido Comunista e enganando a classe trabalhadora. Devemos lutar sem piedade contra estes elementos estranhos que penetraram no seio do Partido.

Além disso, não devemos ser negligentes na auto-educação, para  não cair na degradação e na degeneração. Não é raro que, uma vez tomado o Poder, os comunistas que antes eram puros e sensíveis, se degradem e degenerem atraídos pela notoriedade e interesses pessoais. Isso não só acarreta no fracasso individual, mas também traz a grave consequência de que o Partido se divorcie das massas. Para os membros de nosso Partido Comunista não há outro objetivo que não seja servir ao povo e dedicar-se com abnegação a seus interesses.

Se os membros de nosso Partido Comunista lutam verdadeiramente pelo povo, este nos abrirá sua alma e incluso as pessoas que não compreendem corretamente e nos olham com hostilidade, passarão a nos entender.

Nos últimos dias se ouvem frequentemente estas palavras: o “direito civil” e a “democracia”. Todas estas palavras são boas no sentido de que se trata de uma política que oferece ao povo o direito e lhe entrega o Poder. Hoje em dia, porém, não convém à Coreia a “democracia” de tipo estadunidense ou inglês. A “democracia” da Europa Ocidental não só já não se ajusta à época, mas também que se a adotamos não poderíamos realizar nosso objetivo de lograr a independência do país, mas nos levaria a converter-se novamente em colônia do imperialismo estrangeiro. Por isso, devemos estabelecer na Coreia um novo e progressista sistema democrático que se ajuste à realidade coreana.

Nossa tarefa imediata é educar com rapidez as massas que todavia não estão suficientemente despertas, para que lutem pela verdadeira democracia. As massas não distinguem claramente quem defende seus interesses e quem os viola. Por isso, devemos fazer todos os esforços para explicar e divulgar incansavelmente entre as massas as abordagens de nosso Partido. Não só devemos saber educar as massas mas também aprender com elas, ouvir suas opiniões e dar solução a suas exigências.

O problema de poder construir ou não uma nova Coreia democrática dependerá absolutamente de que logremos êxito ou não neste trabalho de fortalecer o Partido Comunista, de formar a frente unida nacional e de agrupar as amplas massas em torno ao Partido Comunista. Todos os membros do Partido Comunista devem lutar esforçadamente para ampliar e fortalecer sem cessar as filas do Partido, cooperar de modo sincero e consciente com os partidos amigos e conquistar as grandes massas.

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