sábado, 21 de abril de 2018

Descontinuação do programa nuclear (Opinião)



No dia 20 de abril de Juche 107 (2018), uma decisão histórica foi tomada pelo Bureau Político do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coreia, anunciando oficialmente a descontinuação do programa nuclear da República Popular Democrática da Coreia e o fechamento da base de testes nucleares de Punggye-ri.

A decisão estudada entre os altos membros do Partido e do Estado da RPDC foi concretizada na Terceira Reunião Plenária do Sétimo Comitê Central do PTC liderada pelo Máximo Dirigente Kim Jong Un que foi convocada pelo Bureau Político do Comitê Central do PTC em 18 de abril, dizendo em seu relatório oficial que iria "discutir e decidir a questões políticas de nova etapa em consonância com a demanda do importante período histórico da revolução coreana em desenvolvimento."

Realizada com a mais alta atenção do povo coreano e de todos os povos do mundo, sobretudo os envolvidos diretamente com as decisões tomadas pelo país do leste asiático, discutiu de forma minuciosa e esclareceu questões importantes acerca do futuro da revolução coreana, o futuro da República Popular Democrática da Coreia. Debateu novamente questões de organização, acerca de fazer aprimoramentos necessários no quesito para um maior avanço geral ao progresso desejado, como seu terceiro tema da agenda, bem como debateu como segundo tema a questão de imprimir uma viragem revolucionária em trabalho científico e educativo que se põe necessário com a nova linha a ser tomada pelo Partido do Trabalho da Coreia, linha essa que chamou muita atenção e merece ser bem analisada.

Como primeiro item da agenda, foi discutido "Sobre as tarefas de nosso Partido para acelerar com mais vigor a construção socialista conforme a demanda da nova etapa elevada de desenvolvimento da revolução" que abordou a questão da descontinuação do programa nuclear, algo que outrora parecia algo impensável vindo de Pyongyang.

O respeitado Líder Supremo, Kim Jong Un, esclareceu que o programa nuclear norte coreano chegou a uma fase elevada onde não se fazia necessário prosseguir com novos testes de mísseis de médio a longo alcance, ICBM, ou mesmo testes nucleares, pois a chamada "espada nuclear da justiça" tornou-se o suficiente para garantir uma dissuasão segura frente aos imperialistas dos EUA.

Destacou também que a presente reunião plenária marcou um momento de significado histórico pois a linha de desenvolvimento paralelo das duas frentes, que iniciou-se primeiro com o Presidente Kim Il Sung e que passou de "questões militares" para "desenvolvimento nuclear" com o Dirigente Kim Jong Il, alcançou sua grande vitória. Ele disse:

"A vitória milagrosa de haver alcançado em menos de 5 anos a grande causa histórica da construção das forças armadas nucleares do Estado é a grande vitória da linha de desenvolvimento paralelo do PTC e, ao mesmo tempo, a vitória brilhante que somente pode ser alcançada pelo heróico povo coreano"  

Anunciou também como clara demonstração de sinceridade do lado da RPDC, o fechamento da base de testes nucleares de Punggye-ri no condado Kilju, província de Hamgyong Norte, que deve ser desativada em muito breve e algumas partes podem ser destruídas para garantir que novos testes não sejam feitos. Ele afirmou:

"Se realizaram de maneira científica e sistemática não somente os processos de desenvolvimento nuclear, mas também os meios de transporte e ataque, de maneira que foi verificado o aperfeiçoamento do armamento nuclear", disse e continuou que nestes condições não se necessita mais provas nucleares, nem lançamento de mísseis de médio a longo alcance e de ICBM e que se pôs fim à missão do campo de testes nucleares na zona setentrional do país. (KCNA)

Isso foi uma prova clara da abertura ao diálogo com os Estados Unidos que prontamente aceitou de bom grado e mostrou-se muito otimista com os futuros diálogos a serem realizados entre o Presidente Donald Trump e o Máximo Dirigente Kim Jong Un em um futuro próximo.

Todavia, a palavra "desnuclearização", que foi tema de muitos artigos críticos de sites norte coreanos e de declarações diretas do Partido e governo da RPDC, jamais foi citada. Antes deste anúncio, veiculava-se que Kim Jong Un havia dito para a delegação sul coreana que visitou Pyongyang em março à pedido do presidente sul coreano Moon Jae In, que a RPDC estava aberta para conversar sobre a desnuclearização, quando entre janeiro e fevereiro recusavam-se a colocar armas nucleares na mesa de negociação quando reuniam-se os delegados do norte e do sul para discutir temas relacionados ao envio da delegação do norte para os Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang e outras questões para "descongelar" as relações intercoreanas.

Seria uma imensa contradição, ou talvez interpretaria-se como um "último suspiro" do governo da RPDC, caso realizasse uma desnuclearização de fato, abrindo mão de seus mísseis e armas nucleares. Seria repetir o que fizera a Líbia em um passado não muito distante, e poder terminar igual ou parecido com o país africano, ou como o Iraque.

Mas a decisão tomada não foi tão drástica e nem foi um desvio de política interna. Trata-se de uma decisão tomada a partir de uma análise abrangente sobre a situação atual da revolução coreana que avança suas tarefas do VII Congresso do Partido do Trabalho da Coreia para o fortalecimento da economia nacional. Não foi pensada de "um dia para o outro". Vem com certeza sendo estudada desde que a RPDC declarou que completou as forças nucleares do Estado.


Voltemos para setembro de Juche 106 (2017) quando Kim Jong Un reuniu-se com os mais altos membros do Partido e Estado e foi tomada a decisão de "Realizar o teste de bomba H para ICBM como parte dos esforços para alcançar o objetivo final de completar a força nuclear do Estado"

O teste de bomba H no mês do 69º aniversário do pais causou grande repercussão em todo o mundo e provocou a ira das forças imperialistas que chamaram por novas sanções contra o país. Era o penúltimo passo para a vitória da linha de desenvolvimento parelelo das duas frentes que seria alcançada com o teste do ICBM  Hwasong 15 com capacidade de atingir com precisão todo território dos Estados Unidos portando ogiva nuclear de tamanho grande.


Não se imaginaria que haveria uma descontinuação no programa nuclear, até porque sempre afirmava-se que apesar de todas as sanções impostas contra o país, nunca iriam largar o caminho do desenvolvimento nuclear. Entretanto, o discurso começou a mudar de forma cautelosa desde o início de Juche 107 (2018) quando o respeitado Líder Supremo Kim Jong Un fez seu discurso de ano novo falando sobre a importância de descongelar as relações com o sul, fazendo esforços necessários para tal, e garantir a paz na Península Coreana, acrescentando brilho ao ano em que o país completa seus 70 anos.

A não realização de novos lançamentos de mísseis apresentou-se como uma postura consciente de Pyongyang para com a realização dos eventos esportivos na Coreia do Sul que englobaram os meses de fevereiro e março, mas analisava-se que o futuro das relações poderia voltar a se esfriar com a realização de operações militares conjuntas entre EUA e Coreia do Sul que levaria a RPDC a responder com novos testes de mísseis. Parecia um dilema que não tinha solução a questão de que o sul, movido pelos interesses dos EUA pedia pela desnuclearização e o norte não aceitava e pedia para que os compatriotas entendessem que as armas nucleares são somente para se defender contra os EUA e não contra seus próprios irmãos. Mas, novamente nos últimos tempos, a RPDC surpreendeu o mundo e deu um passo muito significativo para a resolução do dilema.

Agora, espera-se pela histórica cúpula Norte-Sul a ser realizada na "Casa da Paz" em Panmunjom em 27 de abril onde a questão sobre por um fim definitivo na Guerra da Coreia, desejo de todo o povo coreano e dos povos progressistas do mundo, será debatida entre os líderes de ambas partes e outras questões relevantes com relação à reunificação da Coreia também serão abordadas para um relatório final ser divulgado de forma conjunta nesse dia. Porém, como a Coreia do Sul não assinou o armistício de Panmunjom, pois era uma colônia dos EUA, que junto à ONU assinou por uma parte, em oposição à RPDC e a China do outro lado, o fim definitivo da guerra da Coreia só será possível através de um tratado de paz definitivo entre RPDC e EUA.

As outras partes, a ONU e a China mostram-se muito favoráveis para a assinatura do acordo, o que abre um caminho brilhante para a realização tão esperada pelo povo coreano.

Um encontro entre Kim Jong Un e Donald Trump, na China ou na RPDC, ou talvez até mesmo em Panmunjom, em maio ou junho, será uma ocasião histórica de grande importância para toda a humanidade. E será uma grande vitória política da RPDC, liderada por um líder sábio, com grande conhecimento político.

No entanto, não pode-se esquecer que a decisão, embora não seja igual, assemelha-se ao que o Dirigente Kim Jong Il fez ao assinar acordos com os EUA e permitir a assinatura por parte da RPDC do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares em mesmo período em que realizou o encontro histórico com o então presidente Kim Dae Jung em Pyongyang. O resultado, como bem se sabe foi que os EUA manteve uma política de hostilidade para com a RPDC, incluindo-a como "Eixo do Mal" sob a administração de George W. Bush, e forçou a mesma a sair do tratado e voltar a desenvolver suas forças nucleares. Na época a RPDC teve que construir novos campos para testes pois havia destruído os que fazia nos anos 90, e embora não tenha "começado do zero", teve um longo caminho pela frente, que seria aperfeiçoado a um nível elevado na era de Kim Jong Un.

Aquela ocasião mostrou que não pode-se confiar nem um pouco sequer nos EUA, e que acordos para eles só são cumpridos se avaliarem no momento como vantajoso. Por isso, foi notavelmente necessário o fortalecimento da defesa para garantir uma dissuasão de guerra frente a ameaças cada vez mais constantes vindo dos imperialistas dos EUA. Kim Jong Il também sabia que futuramente, quando a RPDC alcançasse um nível maior de desenvolvimento nuclear poderia barganhar com os EUA e a Coreia do Sul de alguma forma para alcançar a paz, e embora o dilema de "desnuclearização" tenha continuado, o objetivo de Kim Jong Il pode-se dizer que foi ou está próximo de ser alcançado, e trata-se de uma vitória para a política inteligente do país.

Diferentemente daquela ocasião, a RPDC é mais desenvolvida economicamente e militarmente e possui suas armas nucleares necessárias para dissuasão e não prosseguir com o desenvolvimento, embora tenha seus riscos calculados, não significa um perigo iminente como foi naquela época em que ocorreu a desnuclearização.

Não obstante, é necessário dizer que a "descontinuação do programa nuclear" que deu início à nova linha de desenvolvimento prioritário da economia, abrirá perspectivas para um grande desenvolvimento do país e da melhoria da vida do povo, com a possibilidade da redução de grande parte das sanções impostas ao país e com uma perspectiva muito provável de cooperação norte-sul, incluindo em zonas econômicas especiais. Isso significa uma ponto de viragem na revolução coreana, que alcançou um nível nunca antes visto na história.

É necessário notar que também não terá que destinar verbas para o desenvolvimento nuclear como nos últimos anos, o que segundo o relatório divulgado recentemente pelo Ministro das Finanças, Ki Kwang Ho, na 6ª Sessão da 13ª Assembléia Popular Suprema ocuparia uma porcentagem considerável dos 15,8% (da verba estatal) destinados ao reforço das capacidades militares e de defesa.

A fala de Kim Jong Un - "O objetivo imediato da luta para realizar a nova linha estratégica é por em base normal a produção em todas as fábricas e empresas no período do cumprimento da Estratégia Quinquenal para o desenvolvimento da economia nacional e alcançar boa colheita em todo o campo para que o aspecto feliz do povo reine em todo o país" - destaca que foi dada uma prioridade para o desenvolvimento econômico justamente em um ano decisivo para o Plano Quinquenal (2016-2020) e tal decisão pode elevar de vez o progresso que o país vem fazendo, sem, é claro, se esforçar muito e manter o caráter Juche, defendendo a autossuficiência pois no caminho da revolução há muitas pedras no caminho.

Críticos à Ideia Juche, alguns leigos e outros que possuem outras interpretações sobre a questão, apontam que a RPDC está seguindo o caminho da China, com uma possível abertura ampla ao mercado mundial, de forma a modificar seus sistema social gradativamente e promover e promover um Capitalismo de Estado sob a liderança de um partido historicamente de viés socialista. Contudo, este tipo de análise é precipitado demais e até mesmo, de certa forma oportunista. O Líder Supremo  Kim Jong Un em seu discurso falou sobre autossuficiência como parte da nova linha revolucionária do Partido, não "reforma" ou algo do tipo como promoveu a China décadas atrás. É visível uma mudança na administração da economia da RPDC e uma certa "abertura", mas trata-se ainda de uma economia socialista, que baseia-se em autossuficiência e em cooperação benéfica para ambas partes, diferentemente do que acontece na China, com quem a RPDC fortaleceu laços de amizade recentemente.

"A auto-confiança é o núcleo e principio fundamentais da nova linha revolucionária do partido", e destacou que no futuro também como fizeram no passado tem que se esforçar baseando-se no espírito de apoio em suas próprias forças e lutar firmemente para abrir o caminho da prosperidade e adiantar o futuro brilhante. (Kim Jong Un)

Não se pode esquecer que a postura sincera da RPDC, com o fechamento da base de testes nucleares de Punggye-ri, de forma ou outra, trata-se de uma concessão aos Estados Unidos, e assim, ao imperialismo. E com o imperialismo, qualquer concessão tem seus perigos. Por isso, a atitude de fechar o local é digna de discussões críticas à decisão da liderança da RPDC, mas, com um entendimento que o país não mais está desprotegido e pode em pouco tempo, se necessário, retornar suas atividades, é uma decisão bem compreensível.

Líderes de nações anti-hegemônicas estão sempre na mira de ataques de seus inimigos e precisam sempre fazer escolhas difíceis e, Kim Jong Un, que mostrou-se ao longo do tempo um líder muito sábio, fez uma decisão muito corajosa. Além disso, mostrou seu grande desejo pela paz e pela reunificação, além de sua intenção de melhorar as condições de vida do povo como sempre desejou os líderes antecessores que fizeram esforços contínuos para tal. Mostra-se um líder que preocupa-se de fato com seu povo e que faz tudo para o seu bem e tem grande preocupação para com as futuras gerações e por isso trabalha para dar para eles uma vida melhor.

Os progressistas de todo o mundo olham com ansiedade e muita esperança sobre os encontros de Kim Jong Un com Moon Jae In e Donald Trump e espera-se resultados positivos e históricos.

Por: 레난 쿠냐

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