sábado, 18 de julho de 2020

Conversação com Son Won Thae, compatriota residente nos EUA



Pyongyang, 15 e 31 de maio e 2 de junho de 1991.

A vocês, senhor Son Won Thae, e sua esposa, custou muito realizar esta longa viagem.

Realmente me alegra muito voltar a ver-lhe a cabo de mais de 60 anos. Embora já seja um ancião, com seus oitenta anos, posso reconhecer-lhe por certos traços que permanecem da juventude. Me sinto muito feliz de poder compartilhar com você emotivas recordações.

Vocês deve ter sofrido muito ao ver-se obrigado a abandonar sua terra-natal no período da dominação do imperialismo japonês e viver no exterior. No mundo, os mais ferozes imperialistas foram os japoneses. Aos coreanos proibiram falar a língua coreana e os obrigaram a mudar até seus nomes por nomes japoneses. Somente os que possuíam nome e sobrenome japoneses podiam encontrar trabalho para ganhar o sustento ou estudar nas escolas. Porém, os coreanos defenderam com firmeza sua honra nacional. Realmente foi um feito digno que os coreanos tenham procedido assim apesar da cruel opressão e desprezo do imperialismo japonês. Me sinto infinitamente feliz ao encontrar-me com você, senhor, que sob tão difíceis e complexas condições conservou o espírito nacional, atitude digna de filho do pastor Son Jong Do, que dedicou toda sua vida ao movimento pela independência da Coreia. Se você tivesse vivido sem conservar a inteireza nacional não teria sido possível ver-nos agora com tanta alegria.

Me disse que sempre sentia minha falta, comigo não foi diferente. Por isso, indaguei em diversos lugares, porém não pude ter conhecimento sobre seu paradeiro. Também quando o pastor Kim Song Rak, residente nos EUA, visitou a pátria, perguntei-lhe se tinha notícias sobre você e sua irmã mais nova Son In Sil.

O pai do pastor Kim Song Rak foi um dos dirigentes do Levante Popular de Primeiro de Março. Desde muito tempo eu conhecia o pastor Kim Song Rak porque foi colega de meu pai na escola secundária Sungsil de Pyongyang. Parece que antes da libertação foi objeto de perseguição por haver rejeitado a “visita ao templo xintoísta” que impunham os imperialistas japoneses e se transladou aos EUA onde mudou de cidadania. Esteve aqui duas vezes: em 1981 e 1982, respectivamente. Nessas ocasiões, ao conversar com ele perguntei se você residia nos EUA, e ele me respondeu que como vivia junto com estadunidenses no bairro de pastores não sabia de seu paradeiro e prometeu que se interessaria em buscar por você e me avisaria depois. Ele não conheceu você, mas conheceu o pastor Son Jong Do. Como faleceu pouco depois, não pôde averiguar sobre seu paradeiro para comunicar-me.

Segundo o que você me disse, desde muito tempo pensava em visitar-me e, quatro anos atrás, ao encontrar-se com um funcionário de nossa embaixada acreditada em determinado país falou sobre suas relações comigo e entregou-lhe uma carta dirigida a mim, porém eu não soube deste fato. Talvez, o referido diplomata, não conhecendo nossas relações, não me informou. Se eu tivesse recebido essa carta você teria podido vir à pátria antes, mais cedo.

Por fim, recentemente cheguei a saber de você ao informar-me pelo organismo correspondente. Segundo o informe que me chegou alguns dias atrás, o chefe da delegação de felicitação de coreanos residentes nos EUA que esteve aqui em abril passado, em vésperas do regresso entregou a um funcionário correspondente uma carta sua. Segundo me disseram, o organismo ao ver que a carta estava relacionada comigo, me informou de imediato a respeito e enviou-lhe o convite. Ao meu ver, nossos funcionários procederam assim porque me ouviram falar muito do pastor Son Jong Do e de você. Ao ser informado disso, disse que haviam procedido muito bem. E ao receber a notícia de que você viria à pátria fiquei imensamente alegre.

Uma vez frente a você afloram em minha mente mais vividamente as recordações de seu pai, o pastor Son Jong Do, e evoco com emoção diversos fatos ocorridos no tempo de Jilin. Quando eu realizava minhas atividades nessa cidade o pastor Son me tratou com particular atenção e me ajudou ativamente no material e espiritual. Por esta razão, desde os dias após a libertação até o presente, cada vez que tenho oportunidade falo sobre ele.

O pastor Son era amigo de meu pai. Parece que meu pai o conhecia bem desde que estudava na escola secundária Sungsil de Pyongyang. Naquele tempo em Pyongyang existia a escola média Kwangsong e, em frente a ela, a média superior feminina. A primeira era um edifício de tijolos vermelhos, que existiu até depois da libertação. Antes da libertação não havia nenhum instituto universitário em Pyongyang. 

Meu pai foi detido por policiais do imperialismo japonês quando em Pyongyang se produziu o “incidente de 105 pessoas” e naquela ocasião também o pastor Son foi preso. Como os primeiros detidos não confessaram seus segredos, os policiais submeteram a cruéis torturas meu pai que foi o último a ser preso para que falasse. Por isso, foi golpeado mais que ninguém. Naquela ocasião ficou gravemente enfermo e desde então sofreu muito.

Depois de sair da prisão se transladou a Junggang, onde estavam Kang Ki Rak e outros muitos amigos. Ali realizou atividades relacionando-se com O Tong Jin, o pastor Son e outros companheiros. Naquele tempo, um amigo seu lhe fez saber que seu nome estava na lista de pessoas vigiadas pela polícia japonesa. Assim sendo, passou ao outro lado do rio Amnok, a Linjiang, ao nordeste da China. Ali abriu um dispensário chamado Sunchon e seguiu suas atividades revolucionárias mantendo relações com os independentistas. 

Porém, também em Linjiang a vigilância inimiga era rigorosa. Se viu obrigado a abandonar esse lugar, transladando-se a Badaogou, no condado de Changbai. Em Badaogou, situado frente ao condado de Kim Hyong Jik, ao outro lado do rio, viviam muitos coreanos. Nesse lugar continuou as atividades revolucionárias enquanto atuava como médico. Aprendeu a medicina autodidaticamente quando estava preso no cárcere de Pyongyang e posteriormente abriu um dispensário com a licença de graduado do Instituto Especializado de Medicina de Severance que seus companheiros lhe conseguiu. Tratava os coreanos gratuitamente, cobrando-os algo somente pelos medicamentos mais caros. Por isso, muitos coreanos e independentistas vinham vê-lo e ele empreendeu o movimento independentista vinculando-se com eles.

Aos 7 anos de idade fui à China para unir-me com meu pai e logo após aprender com um chinês o idioma durante seis meses me matriculei em uma escola primária. Concluí os estudos primários em Badaogou. Então meu pai me aconselhou que fosse à pátria para continuar minha instrução, explicando-me que a fim de lutar para lograr a independência do país devia conhecer bem sua realidade. Cumprindo com sua vontade, aos 11 anos de idade regressei à pátria e ingressei na escola Changdok.

Passado quase dois anos depois de estar estudando na escola Changdok, meu pai voltou a ser detido pela polícia japonesa. Isso ocorreu quando quando cruzou o rio e foi a Pophyong para contatar com os independentistas, porém enquanto era conduzido por escoltas logrou escapar com a ajuda de alguns companheiros e regressou à China. Nesse tempo sofreu uma grave frieira. Enquanto empreendia suas atividades em Fusong, em 1925, apesar de estar mal de saúde, visitou todas as regiões da Manchúria do Sul, passando por Huadian, Jilin, Liuhe, Sanyuanpu e Xingjing, para prevenir a cisão e lograr a unidade do Movimento independentista coreano. Quando foi a Jilin se encontrou com o pastor Son. Por aquele tempo se agravou sua enfermidade por causa dos esforços excessivos. Ele morreu em 1926.

Logo após o falecimento de meu pai, no verão do mesmo ano ingressei na escola Hwasong, em Huadian, por mediação de O Tong Jin, Ryang Se Bong, Jang Chol Ho, Kim Si U e outros amigos dele. Dita escola funcionava com o fim de preparar os quadros do exército independentista, e Choe Tong O era seu diretor. Como nela estudavam jovens selecionados, em sua maioria, do exército independentista, eram maiores de idade. Eu me hospedava na casa de Kim Si U. 

Os independentistas radicados em Huadian, entre outros Kim Si U e Kang Je Ha, mantinham, em sua maioria, relações tanto com o “governo provisório em Shanghai” como com a “junta Kukmin”, e eram todos amigos de meu pai. Kang Je Ha era chefe de finanças da “junta Jong-ui”. Quando eu estudava na escola Hwasong ia constantemente a sua casa. Seu filho Kang Pyong Son militava na União para Derrotar o Imperialismo. Posteriormente, morreu enquanto atuava na Manchúria do Norte. Sua esposa me enviou uma carta e um obséquio na ocasião de meu 79º aniversário.

Choe Tok Sin, filho de Choe Tong O, diretor da escola Hwasong, visitou várias vezes a pátria quando residia nos EUA. Uma vez, me disse que já tinha uma idade avançada e que se morresse no exterior seria enterrado em terra estranha; ele expressou seu desejo de repatriar-se e ser enterrado na terra-pátria; e me regou que se regressasse à pátria, lhe deixasse administrar um campo de golfe. Então lhe disse que se queria repatriar-se que viesse à pátria, que aqui encontraria suficientes ocupações. Posteriormente se radicou aqui e trabalhou com abnegação como vice-presidente do Comitê pela Reunificação Pacífica da Pátria até que morreu de uma penosa enfermidade. Tinha câncer no pâncreas. Se diz que é difícil curá-lo. Se enfermou enquanto vivia na Alemanha e outros países. Nos esforçamos muito para curá-lo, porém sem resultado. O enviei a outro país para o tratamento, porém os médicos desse país tampouco lograram curá-lo.

Você disse que a esposa do senhor Choe Tok Sin o convidou a visitá-la outra vez em sua casa quando volte à pátria; creio que seja um bom gesto. Este ano também me encontrei com ela e compartilhamos uma refeição. É filha de Ryu Tong Yol, que atuou muito em Shanghai como partidário do movimento nacionalista.

A cabo de alguns meses de instrução na escola Hwasong, seu conteúdo não me agradava. Por isso a abandonei e fui a Fusong e logo após explicar minha mãe o motivo de meu abandono me transladei a Jilin.

Ao chegar a Jilin me dirigi à casa do pastor Son que era amigo de meu pai e havia mantido com ele estreitas relações. Essa casa se encontrava em Niumaxing, em Jilin. Ele me recebeu com muito prazer. Por recomendação dos independentistas, amigos de meu pai, me encontrei com Kim Kang que atuava  como professor de inglês na escola secundária Yuwen. Com sua ajuda ingressei nessa escola no segundo ano, saltando um ano, sem passar por nenhuma prova de admissão.

Era uma escola privada, administrada por pessoas influentes, porém era a melhor de Jilin. Seu diretor chamado Li Guanghan, que havia sido condiscípulo de Zhou Enlai na escola secundária e pertencia à facção esquerdista do nacionalismo chinês, me tratava com particular esmero entre os alunos coreanos. Outra escola considerada boa em Jilin ademais da Yuwen, foi a Wenguang que era administrada por cristãos.

Posteriormente, Kim Kang se transladou à escola secundária nº 5 de Jilin, onde seguiu sendo professor de Inglês. Foi desprezado por parte dos chineses por ser coreano. Então, eu também teria podido aprender inglês, porém não o fiz porque os chineses menosprezavam os coreanos. Também seu irmão mais velho Son Won Il conhecia bem Kim Kang. Segundo afirma Choe Tok Sin, ao libertar-se o país, Kim Kang foi à Coreia do Sul, onde serviu de tradutor na marinha de guerra. Na época de estudo na escola secundária Yuwen de Jilin conhecia você e muitas outras pessoas.

Nessa época estive várias vezes na casa do pastor Son. Em cada ocasião que nos encontramos ele me tratou com amabilidade e também sua mãe gostava muito de mim. Ainda recordo como comi tok de jjondgi que ela me preparou. Um dia, ao visitar a casa do pastor Son junto com Sin Yong Gun, ela nos convidou a provar tok feito, segundo explicou, com a erva jjondgi que Son In Sil havia recolhido no parque Beishan. Ao dizer-lhe que era saboroso ela disse que em Pyongyang abundava o jjondgi. Essa planta tem folhas cobertas com finos pelos sem odor nem veneno. Depois da libertação, ao recordar-me do que ela havia me dito enquanto eu comia o tok pediu aos meus companheiros que fizessem-o, porém não conheciam nem sequer a palavra tok. Nos mais de 60 anos transcorridos desde que comi esse tok feito por ela não o voltei a provar novamente. Se você se encontrar com Son In Sil e lhe perguntar sobre o tok de jjondgi que se fazia quando vivia em Jilin, talvez ela possa recordar. Ela poderá se lembrar de muitos fatos daquele tempo. Era muito inteligente. Com frequência ela me visitava por encargo de seu pai.

No interior da casa do pastor Son eram criados coelhos soltos. Haviam coelhos brancos, negros e de outras cores. Uma vez, estive ali junto com Sin Yong Gun e sua mãe nos serviu coalhada de soja com carne de coelho. Ficou tão saboroso como um rico prato de carne de frango. Em mais de uma ocasião comi esse prato cozinhado por sua mãe.

Depois da libertação, ao recordar que eram criados soltos os coelhos na casa do pastor Son, recomendei a meus companheiros que fizessem igual. Então disseram que isso não seria possível por conta do forte odor da urina. Todavia recordo ter visto o pastor Son criá-los em casa, porém não recordo bem como fazia.

Também comi ammodytes personatus na casa do pastor Son. Na província de Hwanghae se comem muito estes pescados. Naquele tempo não era tão fácil consegui-los e prová-los no nordeste da China. Os comi também na casa de Jang Chol Ho. Como sabiam que eu gostava desse prato me serviam-o cada vez que visitava ia à sua casa.

Ia constantemente às casas de Jang Chol Ho, O Tong Jin e de outros amigos de meu pai que, em memória dele, me tratavam com expressa amabilidade.

Jang Chol Ho tinha duas filhas que se chamavam Yun Son Ho e Yun Yang Ho; eram na verdade enteadas. O o pai verdadeiro se mudou de Shanghai a Jilin onde morreu de uma enfermidade. A mãe, depois da morte do marido, como lhe era difícil viver sozinha, se casou com Jang Chol Ho, que na época era chefe de companhia do Exército independentista. Yun Son Ho estudava música em Tóquio, Japão. Era bonita e tocava piano muito bem. Depois da libertação me encontrei com ela. Visitava frequentemente minha casa.

Você disse que tenho boa memória; mesmo agora, voltando a pensar atentamente na época de Jilin, recordo até os nomes das pessoas. Não me esqueci do emocionante encontro de Kim Ok Bun com seu esposo em Jilin. Originalmente, os pais dos dois viveram em Kimhae, na província de Kyongsang Sul, e decidiram casá-los utilizando a união predestinada. União predestinada significa o casamento acertado de antemão pelos pais das duas famílias para seus filhos que estão por nascer. Antes, em nosso país havia o costume de organizar o casamento entre vizinhos íntimos quando suas respectivas esposas estavam grávidas, prevendo que uma família teria um homem e a outra uma mulher. No caso de que em ambas famílias nascessem homens ou mulheres, os uniriam como irmãos ou irmãs jurados. 

Quando Kim Ok Bun tinha 8 anos, seus pais atravessaram o rio Amnok em busca de meios de vida, e ao chegar em Dandong tiveram até que vender sua filha à uma chinesa devido sua extrema pobreza. Segundo se sabe, no momento da separação a mãe entregou à sua filha metade de um pano de seda com esta explicação: “Este pedacinho de seda é o sinal de que estás casada por união predestinada e a outra metade está com seu esposo. Quando for maior de idade o buscarás com isso.” Kim Ok Bun aprendeu com uma chinesa a arte do changxi e viajou por várias regiões para se apresentar. Segundo os caracteres chineses, changxi está composto por chang que significa cantar e xi, que significa alegria. 

É chamada assim também a ópera clássica chinesa, a qual começou a ser difundida amplamente desde a época do Império Qing. Os chineses gostavam muito desta arte. Kim Ok Bun era uma mulher alta e boa artista de changxi. Por isso, seu nome apareceu várias vezes nos jornais daquele tempo. Seu esposo, de sobrenome Choe, se radicou na infância em Jilin junto com seus pais e estudava na escola secundária Wenguang. Naquele tempo, perto do hotel Sanfeng estava o moinho de arroz de Taifenghe e depois da porta Chaoyang havia outro moinho, cujo dono era o pai de um tal Choe. Me recordo da casa onde ele vivia, porém não me lembro seu nome. Kim Ok Bun realizava apresentações em Changchun e outras regiões e nestas ocasiões perguntava aos coreanos pelo paradeiro de seu esposo.

Uma vez, ela atuou em Jilin. Eu também fui vê-la junto com um grupo de alunos das escolas secundárias Yuwen e Wenguang, e ela realmente o fez muito bem. Depois do espetáculos entramos em um restaurante e comemos macarrão chinês, e então ela entrou naquele local. Pensando que era chinesa, dissemos em coreano que havia atuado muito bem, e então ela se aproximou de nós e nos perguntou se éramos coreanos. 

Parece que embora todos nós estivéssemos vestidos com vestimentas típicas chinesas se deu conta de imediato de que éramos coreanos porque falamos em coreano. Ao responder-lhe afirmativamente mencionou o nome de seu esposo e do pai deste, perguntando-nos se não os conhecíamos. Afortunadamente, naquele lugar se encontrava seu esposo predestinado que disse que ele e seu pai se chamavam assim. Então ela o abraçou e chorou de alegria. Como se separaram aos 8 anos de idade e voltaram a se ver aos 18 anos, em resumidas contas aquele encontro foi o primeiro no espaço de 10 anos. Foi então que chegou a chinesa que a criou e fez um alvoroço perguntando por que fazíamos sua filha chorar. Tivemos que sair do restaurante. Posteriormente, Kim Ok Bun visitou a casa de seu esposo, porém os pais deste não a viam com bons olhos por ela ser artista. Kim Ok Bun explicou que embora fosse artista havia mantido a castidade, e que como para liberar-se da chinesa deveria pagar-lhe dinheiro, ela conseguiria a soma necessária. A partir de então ela não entregou à chinesa todo o dinheiro que ganhava com suas atuações; sem que ninguém soubesse, escondia uma pequena parte em um vaso. Depois do ocorrido o chamado esposo decidiu viver com ela; pagou a quantia à chinesa e  levou Ok Bun para sua casa. Ele, que até então não havia casado, se tornou marido de uma mulher muito conhecida. Como naquele tempo você residia em Pequim não pôde conhecer esta fato tão novelesco.

Você disse que quando era jovem se comprometeu sem saber nem o nome nem a idade da noiva; seguramente foi sua mãe quem escolheu a noiva. Como se casou com quem foi eleita por sua mãe terá muita sorte. Sua esposa disse que pôde encontrar-se comigo graças a estar casada com você. Creio que tenha razão. Um indivíduo pode sentir-se feliz quando há harmonia na família. Por isso, cada vez que me encontro com os jovens lhes digo que “a harmonia na família resolve tudo”, o que significa que somente quando há harmonia na família todas as outras coisas marcharão perfeitamente.

Você disse que se recorda de Ri Tong Son, amigo de quando vivia em Jilin. Era o segundo filho do dono do hotel Sanfeng e irmão mais novo de Ri Tong Hwa. Sua irmã Ri Kyong Un se casou com An Pung. Este e Pak Hun eram graduados da Academia Militar de Huangpu e combateram bem. Nessa época o diretor dessa instituição militar era Chiang Kai-shek e o político adjunto, Zhou Enlai. Nela havia muitos jovens coreanos. Seus cadetes também foram as principais forças do levante de Kuangzhou. An Pung e Pak Hun participaram nela e ao fracassar a ação conseguiram escapar. Como depois não se soube o paradeiro de An Pung, se supõe que foi detido e assassinado pelos japoneses. Pak Hun é Pak Song que aparece no filme revolucionário "Estrela da Coreia". Nos combates ele disparava com suas pistolas, uma em cada mãe; era um excelente atirador.

Você recorda que quando eu estudava na escola secundária Yuwen em Jilin era mais alto e esbelto que outros colegas, razão pela qual atrai de imediato a atenção. Por este motivo era difícil me disfarçar quando atuava na luta revolucionária clandestina. Para deter-me os militaristas reacionários chineses controlavam todos os homens de grande tamanho.

Eu organizei e dirigi a Associação de Crianças Coreanas em Jilin e a Associação de Estudantes Coreanos em Jilin. Mas, na realidade, tendo-as como visor dirigi em segredo as atividades da União da Juventude Comunista. Com o grupo artístico-propagandístico que formei com os membros daquelas duas organizações ia frequentemente às casa rurais dos contornos de Jilin e tudo isso era para esconder o trabalho da União da Juventude Comunista. Naquele tempo, na União da Juventude de Coreanos em Jilin militou também uma jovem chamada Kim On Sun. Na presente viagem você trouxe uma foto do tempo da União das Crianças Coreanas em Jilin, na qual aparecem Choe Jin Mu, Sin Yong Gun, An Sin Yong, Son Won Il e Pak Il Pha. An Sin Yong vivia no caserío de coreanos em Jiangdong e não sabia japonês. O teu irmão, Son Won Il, naquele tempo estudava na escola secundária Wenguang. Primeiro ele se matriculou na escola secundária Yuwen, porém pouco depois se transladou para Wenguang. Me parece que quando estudava na Yuwen viveu por um tempo no internato. 

Você disse que teu irmão, depois de concluir os estudos na escola secundária Wenguang, foi a Shanghai e se graduou na Universidade Central, na Faculdade de Navegação; eu não sabia em detalhes, somente ouvir dizer que havia partido. Posteriormente, o vi uma vez quando foi à Jilin. Como estudou nesta cidade ele também deve ter lido muitos livros de marxismo-leninismo. Em 1947 me encontrei com Pak Il Pha em Pyongyang. Segundo soube, ele se graduou no Instituto Superior de Leis e Justiça de Jilin e até a libertação do país atuou como advogado em Haerbin. Sua irmã mais nova se casou com Ko Jae Rim. Este estudou na escola de medicina Mantie. Também me encontrei com ele e Ko Jae Bong depois da libertação. Na foto que você trouxe eu não apareço. Quando atuava em Jilin tratei, na medida do possível, de não tirar fotos porque se alguma foto minha caísse nas mãos dos inimigos correria perigo. Uma vez, quando fui ao monte Longtan, em Jiangdong, para participar da excursão organizada pela Associação das Crianças, no momento em que os companheiros tiravam umas fotos me afastei do lugar.
 
Você disse que recorda que quando eu ia à sua casa levava você e Son In Sil à rua para agasalhar-lhes com jianzhiguozi; é uma evocação emocionante. Me recordo também quando nós três cruzávamos o rio Songhuajiang e nos divertíamos no parque Jiangnan. Você disse que Son In Sil recorda a ocasião quando eu falei sobre a revolução coreana ante aos membros da Associação de Crianças reunidos no parque Beishan; é possível que ela o recorde. Na atualidade, os chineses acondicionaram bem e estão fazendo manutenção minuciosa do parque Beishan e outros lugares históricos de Jilin, relacionados comigo. Segundo me disseram, conservam em forma original o templo Yakwang, onde eu realizava reuniões secretas com os membros da Juventude Comunista e da Juventude Antimperialista, e levantaram uma estátua minha de bronze na escola secundária Yuwen em Jilin.

O pastor Son me respaldou de modo ativo quando eu desenvolvia minhas atividades em Jilin. Como se refere ao filme revolucionário "Estrela da Coreia", no período incipiente de minhas atividades revolucionária me defendeu ante a Hyon Muk Gwan, que insistia em opor-se a mim, explicando-lhe que não deveria proceder assim. Na realidade, não usava bigode, porém no filme aparece com bigode. Talvez, nossos funcionários o descreveram assim por não conhecê-lo bem. Ele cortava o bigode e era uma pessoa de aparência comum. Se você está vendo a série de filmes revolucionários "Estrela da Coreia", seria bom que continue vendo-a.

Se diz que Hyon Muk Gwan morreu em Changsa. Segundo afirma Choe Tok Sin, não morreu em combate mas em um atentado. Tinha uma filha chamada Suk Ja, porém não sei o que ocorreu com ela. Sua esposa havia se mudado anteriormente à região nordeste da China, onde havia se unido com Hyon Muk Gwan.

Quando eu estava em Jilin permaneci por algum tempo na casa de Hyon Muk Gwan. Naquele tempo, ele passava a maior parte do tempo na Manchúria do Sul, em Wangquingmen, e em Jilin ficavam sua esposa e filha. Por isso, sofriam escassez, apenas se sustentavam com o pouco que ganhava a senhora com seu trabalho de seleção de grãos de arroz no moinho Fuxingtai. Hyon Suk Ja nos serviu muitas vezes de funcionário de enlace e sua mãe nos alimentava.

Na época de Jilin, uma vez ocorreu que eu tive que ajudar o pastor Son que se encontrava em apuros pelo problema do matrimônio de sua filha Son Jin Sil. Ao estabelecer-se as relações amorosas entre ela e Yun Chi Chang, irmão mais novo de Yun Chi Ho, o problema de seu matrimônio foi objeto de discussões entre os independentistas. Unanimemente censuraram o pastor Son pelo fato de que um militante do movimento independentista permitisse que se casasse um membro da família de um pró-japonês. Incluso armaram um grande alvoroço: quando Yun Chi Chang foi a Jilin para ver o pastor, o pegaram como refém e não queriam soltá-lo até que desse dinheiro de ajuda ao seu exército.

Ao difundir-se rapidamente o rumor relacionado com esse fato em toda a cidade, e ao estarem envolvidas muitas pessoas, o pastor Son se viu em uma situação muito embaraçosa. Então visitando Jang Chol Ho, Ko Won Am, Kim Sa Hon e outros  independentistas, lhes expressei: Não é justo atuar assim tendo em conta a amizade com o pastor Son; como agora os jovens se casam livremente, por que os do exército independentista querem interferir? Não é suficiente que os jovens se gostem? O justo seria por Yun Chi Chang em liberdade. Posteriormente eles reconheceram seus excessos e soltaram Yun Chi Chang. Se eles ouviram meus conselhos, foi porque, a meu parecer, deviam favores ao meu pai e, ademais, eu exercia influência entre os estudantes. Embora eu também fosse um estudante, me encontrava realizando diversas atividades políticas. Se eu não houvesse respaldado e ajudado o pastor Son, ele não teria podido sair de semelhante apuro. Son Jin Sil ainda é viva e fará 89 anos, o que é algo que me alegra muito.

O incidente da detenção de Yun Chi Chang ocorreu quando no seio do exército independentista começaram a dividir-se as forças retrógradas e as progressistas. Foram as caducas as que provocaram o incidente do refém, porque tinham como hábito recolher dinheiro como doação para ajuda do exército ou tirá-los à força das pessoas. Pessoas como Kim Sa Hon e Ko Won Am pertenciam às forças progressistas que se opunham às caducas. Ko Won Am era um homem de consciência, tinha uma drogaria de medicamentos Koryo.

O pastor Son foi uma presença benfeitora e importante em minha vida. Quando em Jilin fui detido e encarcerado pelos militaristas reacionários chineses, ele empreendeu uma ativa campanha para que eu fosse solto. No outono de 1929 houve em Jilin um grande incidente com os estudantes, do qual não sei se você se recorda. Nessa ocasião muitos alunos das escolas secundários Nº 5 e Nº 1 de Jilin e da Yuwen foram encarcerados na prisão de Jilin. Minha detenção e encarceramento de que lhe falei antes foi devido precisamente a esse incidente. A maior parte dos alunos presos naquela época na prisão de Jilin eram chineses, sendo mais numerosos os que pertenciam à escola secundária Nº.5.

Na prisão conheci muitos estudantes chineses. Um que não esqueço até hoje era Huang Shudian, que liderou a luta contra as brutalidades e perseguições das autoridades da prisão. No cárcere havia um chefe de carcereiros que cometia todo tipo de maus-tratos contra os presos. Decidimos tirar-lhe esse costume e deliberamos para encontrar a pessoa a quem encomendar esta tarefa.

Como não podíamos discutir o assunto na cela, se avisamos aos companheiros de confiança e nos reunimos do lado de fora fingindo que necessitávamos ir ao banheiro. Quando estavam de guarda os carcereiros que simpatizavam conosco eu podia ir livremente de uma cela a outra e por meio deles, ter contato com outros reclusos. Disse aos companheiros: “O chefe dos carcereiros é o pior de todos. Vale a pena dar-lhe um merecido castigo. Não nos maltratará mais!” Então Huang Shudian, aluno do terceiro ano da escola secundária Nº 5 de Jilin, manifestou que ele se encarregaria dessa tarefa. Ao preguntar-lhe de que maneira o faria, disse que tinha uma ideia. Lhe adverti que o encarregado de dar uma dura naquele homem ruim, teria que sofrer mais cinco meses como castigo em uma cela solitária, ao qual ele expressou sua disposição de sacrificar-se pelos companheiros. Por fim, decidimos encomendar-lhe essa tarefa e todos retornamos às nossas celas. Ao chegar em sua cela, Huang Shudian afiou a punta de um palito de bambu e, certo dia, quando o chefe dos carcereiros estava tratando de espiar o interior da cela através de um orifício da porta, furou seu olho com aquele palito.

Na porta das celas havia um orifício para vigiar os presos e o chefe dos carcereiros em questão sofreu aquela inesperada desgraça enquanto realizava esta inspeção de rotina no interior da cela. De seu olho saíram gotas de tinta e sangre e finalmente esse homem recebeu o que merecia, ficando zarolho. Ao presenciar este fato todos os presos se sentiram contentes e elogiaram Huang Shudian. Como consequência desse incidente ele foi encerrado em uma cela solitária sem calefação, onde sofreu muito durante o inverno. Nós protestamos por esta medida e ameaçamos os carcereiros que se não o tirassem de imediato daquela cela furaríamos os olhos de todos eles. As autoridades da prisão, assustadas anta a nossa ação, se viram obrigadas a aceitar nossas exigências tirando Huang Shudian da cela solitária Desde então, fizemos tudo o que quisemos nas celas, incluso as reuniões, e podíamos ir livremente uma cela a outra. Eu dirigi a luta dos estudantes dentro da prisão e se dissesse aos carcereiros que necessitava ir a uma cela determinada eles abriam a porta sem nenhuma objeção.

Como você estudou na escola secundária Nº 5 de Jilin, deve conhecer o professor Shang Yue. Ele trabalhou nessa escola com o nome de Xie Zhongwu. Anteriormente ele havia participado no movimento comunista. Participou neste movimento na província de Zhejiang mantendo estreitas relações com os comunistas chineses, e quando se recrudesceu a repressão dos militaristas reacionários se refugiou em Henan, e logo em Dalian, estabilizándo-se em Jilin onde casou uma de suas filhas. Ao ser produzido o incidente estudantil, foi considerado como um dos promotores. Quase todos os estudantes que mantinham relações com ele foram presos e incluso eu fui detido pelo mesmo motivo. O conhecia desde que comecei a estudar na escola secundária Yuwen de Jilin e ele dava aula de caracteres e literatura da China. Os militaristas reacionários chineses detiveram os alunos por serem vinculados com ele, porém não puderam obter provas de que militávamos no movimento comunista.

A única prova que tinham contra nós consistia em termos lido muitos livros de tendência esquerdista, o que não era suficiente para demostrar que os alunos participaram no referido movimento. Como naquela época em Jilin se encontravam muitos esquerdistas do Guomindang que insistiam na necessidade de lograr a aliança com os comunistas e se vincularam com eles elos, os estudantes receberam sua influência em grande medida. Na escola secundário Yuwen de Jilin e em outras várias escolas se ensinavam incluso os três novos princípios de Sun Zhongshan (Sun Yat-sen) para o povo. Dentre os filhos do professor Shang Yue, duas filhas estiveram aqui há alguns anos.

Graças à enérgica luta dos camaradas revolucionários e a ajuda de personalidades progressistas como o pastor Son, pude sair da prisão de Jilin. Teu pai se preocupou muito em encontrar a maneira de salvar-me. Penso que ele estava disposto a fazer todo o possível para me libertar tendo em consideração a amizade que manteve com meu pai. Para este fim manteve muitos contatos com Zhang Zuoxiang, Zhang Xueliang e outras autoridades do poder real do governo provincial e da administração militar de Jilin e entregou-lhes consideráveis subornos em dinheiro. Zhang Zuoxiang e Zhang Xueliang, sendo governadores do poder real na região do nordeste da China, implantaram uma administração militarista. Eles não mostravam obediência nem ao que o Guomindang dizia. Zhang Zuoxiang era um homem altivo. Quando os imperialistas japoneses atuaram arbitrariamente apoderando-se da via ferroviária Nanman, ele não quis utilizá-la e fez construir outra entre Jilin e Fentian. Zhang Xueliang era seu sobrinho. Ele odiava muito os imperialistas japoneses porque seu pai Zhang Zuolin que viajava de Pequim ao nordeste da China morreu no acidente de explosão de trem tramado por estes. Por isso, se negociava-se com habilidade com estes dois homens, era possível tirar da prisão até quem era objeto de vigilância dos órgãos de inteligência do Guomindang e do imperialismo japonês.

Em sua campanha empreendida para libertar-me, o pastor Son contava também com certas condições favoráveis. Se fosse comprovado que eu não era comunista mas um estudante inocentes, não havaria grande problema para tirar-me da prisão. Ele afirmou ante a Zhang Zuoxiang e Zhang Xueliang que podia jurar que eu não era comunista e pediu que meu problema fosse tratado com urgência porque eu não tinha nada a ver com os envolvidos no incidente estudantil. Nessa campanha participaram também o pai de Pak Il Pha, Ko Won Am, Kim Sa Hon, O Sang Hon, O In Hwa e outras pessoas, sendo o pastor Son  a figura principal. Choe Tong O, pai de Choe Tok Sin, se uniu também a essa campanha.

Uma vez, ao ser tirado de minha cela, fui submetido a um interrogatório, vi que alguém me olhava por trás de uma cortina. Era Choe Tong O, que ao me ver deu um sorriso e se dirigiu ao escritório do chefe da prisão. Alguns minutos depois, os carcereiros cessaram a tortura de torcer os dedos de minha mão colocando um lápis entre eles e me convidaram para almoçar. Perguntando-me assustado por que me tratavam com essa amabilidade, comi tudo o que me serviram. Logo me deixaram voltar para a cela. Uma vez na cela, refleti para lograr uma conclusão: Por que suspenderam o interrogatório? O que Choe Tong O pode ter dito e quem poderia ter-lhe rogado que viesse até a prisão? Posteriormente, cheguei a saber meio de Cha Kwang Su e outros companheiros que o pastor Son empreendia uma intensiva campanha para salvar-me. Me disseram que já que era  ele quem levava a cabo a ação, poderiam me por em liberdade alguns dias depois.

Agora, recordando o que ocorreu naquela época, parece que o objetivo da ida de Choe Tong O ao cárcere foi para confirmar se eu era Kim Song Ju. Suponho que logo ao me ver na prisão assegurou à administração militar de Jilin e às autoridades do cárcere que esse estudante era verdadeiramente Kim Song Ju, filho de Kim Hyong Jik, e que antes havia estudado na escola Hwasong. Não sei exatamente quem lhe pediu que visitasse o cárcere; possivelmente foram o pastor Son e outros independentistas ou mesmo a administração militar de Jilin. A meu ver, foram os funcionários de justiça desse instituição que fizeram Choe Tong O, que me conhecia bem, ir ao cárcere para comprovar se era era verdade o que dizia o pastor Son que, subornando-os continuamente com dinheiro, assegurava que eu não era comunista. Não pude saber o motivo da aparição de Choe Tong O na prisão, porém desde então não me submeteram a mais interrogatórios nem a novas torturas.

Depois da libertação do país, com motivo da Conferência Conjunta dos Representantes dos Partidos Políticos e Organizações Sociais do Norte e do Sul da Coreia me encontrei com Che Tong O, presente nessa reunião, porém ele não me explicou o motivo de sua visita ao cárcere de Jilin. Como ele não falou a respeito eu também não perguntei. Pensei em fazê-lo se voltasse a vê-lo, porém lamentavelmente ele morreu por enfermidade. Assim ninguém soube desse fato. Teria sido muito difícil sair da prisão se o pastor Son não tivesse empreendido ativamente essa campanha de salvação. No outono de 1930, quando me encontrava em Wujiazi, ouvi dizer que Huang Shudian e todos os demais envolvidos no incidente estudantil tinham sido postos em liberdade; se eu não tivesse saído naquela época da prisão e tivesse ficado junto com os que estavam envolvidos na rebelião de 30 de maio, teria me ocorrido uma grande desgraça.

Depois que saí do cárcere, me transladei de imediato à Dunhua, porque permanecer em Jilin era desfavorável em vários pontos de vista. Quando me encontrava recebendo tratamento para recuperar-me da debilidade física na casa de Ko Jae Bong, em Dunhua, foi produzida a rebelião de 30 de maio.

Esta foi uma ação aventureira de esquerda, que os faccionalistas que serviam às grandes potências e que se autodenominavam partidários do movimento comunista, provocaram para lograr sua ambição política. Desde o principio, longe de pensar em fazer a revolução apoiando-se nas massas populares, se dedicaram às rinhas sectárias dividindo-se na Direção Geral da Manchúria ou no grupo de restauração do partido, e quando a Internacional apresentou o princípio de um só partido em um país, se entregaram às disputas para ingressar cada qual ao Partido Comunista da China. Li Lisan, que então tinha o poder real nesta organização disse que os comunistas coreanos teriam que ingressar em seu partido segundo o referido princípio e para alcançá-lo deviam ser postos à provas através da luta prática e acumular méritos. Então os faccionalistas servis, sem ter em conta a situação que havia sido criada à revolução e o grau de preparação de suas forças, instigaram os coreanos da região da Manchúria do Leste à um levante insensato.

Tomando este evento como pretexto os militaristas reacionários chineses prenderam os rebeldes e os comunistas coreanos e assassinaram muitos de nossos jovens. Devido à grande onda de detenção que abarcou todo o território da Manchúria do Leste, me vi obrigado a atuar na clandestinidade. Foi uma fortuna que saí do cárcere antes de que fosse produzido o levante de 30 de maio. Segundo o que ouvi, posteriormente, logo que se apoderaram da Manchúria, os imperialistas japoneses estiveram na prisão de Jilin e eu fui o primeiro que eles buscaram. E ao saber que eu já havia saído lamentaram por ter chegado tarde. Se não houvesse saído da prisão com ajuda do pastor Son e outros independentistas e tivesse permanecido recluso por mais um ano lá, teria caído possivelmente nas mãos dos imperialistas japoneses. E se tivesse me ocorrido isso, embora eu não tivesse grande culpa, me condenariam a uns 10 anos de prisão por ser filho de Kim Hyong Jik, e então teria perdido a magnífica oportunidade de empreender a Luta Armada Antijaponesa. Por esta razão, considero o pastor Son como meu benfeitor e nunca o esquecerei.

A última vez que o vi foi por volta de 7 de maio de 1930. Logo que saí do cárcere de Jilin me dirigi diretamente a vê-lo, o cumprimentei e logo após conversar com ele durante uma hora mais ou menos, me despedi. Depois, como realizava atividades clandestinas não pude voltar a vê-lo. Ele morreu em Jilin em 1931, aos 52 anos. Viveu demasiadamente pouco.

Se você foi morar em Pequim por volta de 1930, não terá podido estar ao lado de teu pai quando este morreu. Se em uma carta que seu padre lhe escreveu quando você se encontrava em Pequim se referiu à exitosa negociação com Zhang Zuoxiang acerca da venda de terras aos coreanos residentes na região nordeste da China, isso me faz supor que o pastor Son havia efetuado muitas negociações com esse homem. Até hoje tinha entendido que ele havia mantido esses contatos somente para tirar-me da prisão de Jilin. Naquele tempo, em Jilin chamavam este homem de administrador militar. Você expressou que também quando An Chang Ho foi preso em Jilin pelos militaristas reacionários enquanto dava uma conferência, o pastor Son entrou em negociações com a administração militar de Jilin e logrou que o pusessem em liberdade, fato que eu conheço bem.

Depois deste caso nos dirigimos ao pastor Son com a proposta de realizar uma campanha para a libertação de An Chang Ho. Ele esteve de acordo com nosso projeto e se mostrou ativo no cumprimento desta tarefa Se o pastor Son não tivesse interferido ativamente, teria sido difícil libertar An Chang Ho. Se dizia que também havia desempenhado um rol importante neste fato uma pessoa chamada O In Hwa que atuava como funcionário na administração militar de Jilin. Como tal ele usava um gorro redondo, ao qual a gente chamava de chávena de lua minguante.

Você disse que posteriormente sua família se transladou da China para Seul, o que, segundo suponho, foi devido ao fato de que Son Jin Sil vivia ali. Se o pastor Son estivesse vivo você não teria ido para lá.

Agora me visitam muitos amigos dos quais nos separamos na juventude. Me sinto muito feliz cada vez que volto a vê-los. Você afirma que muitos amigos vem me ver porque realizo um trabalho importante, mas na verdade é o povo que o realiza. O único que faço é cumprir com meu dever confiando nas forças do povo e apoiando-se nele. Sua força é inesgotável. Se posta em ação não há no mundo tarefa irrealizável, e incluso se pode conquistar o céu. Foi o povo quem alcançou a restauração da pátria e implantou aqui um regime socialista superior, assim como foi ele também quem, fiel à direção do Partido, criou todos nossos bens sociais.

A vitória da revolução islâmica no Irã constitui outro bom exemplo que mostra que ninguém pode fazer frente às forças das masas populares. Em 1979, nesse país todo o povo se levantou guiado pelo lema da revolução islâmica e derrubou o poder do imperador, proclamando a República Islâmica. Naquele tempo, no Irã, o imperador tinha um exército numeroso e centenas de milhares de militares estadunidenses, porém, quando as populares se rebelaram, o imperador não pôde fazer nada, e se viu obrigado a fugir do país. Como já foi publicado nos jornais, há alguns dias recebi e conversei com o ministro de Correios e Comunicações Telegráficas e Telefônicas do Irã que visitou nosso país e, nessa ocasião, ao apresentar-me os equipamentos telefônicos que trouxe de presente, ele disse que desde a época universitária estudava a Ideia Juche e que tem grande admiração por mim.

Nossa doutrina Juche é uma ideia humanocêntrica que se baseia no principio filosófico de que o homem é o dono de tudo e decide tudo. Ela exige manter uma posição independente e criadora no processo revolucionário e construtivo.

Desde os primeiros dias em que empreendia o caminho da revolução, sempre resolvia todos os problemas que se apresentavam ante a revolução com uma postura independente e apoiando-se nas massas populares.

Na fase inicial de minhas atividades revolucionárias a Internacional e os camaradas me sugeriram que fosse a Moscou para estudar na universidade que essa instituição administrava, porém não o fiz. Certo ano, a princípios da década de 1930, recebi uma carta do camarada Pak So Sim que escreveu que a organização havia decidido enviar-me para estudar na União Soviética e que como também o camarada Cha Kwang Su estava de acordo era aconselhável que eu viajasse. De imediato me dirigi ao povoado de coreanos, localizado próximo de Taolaizhao, onde se encontrava Cha Kwang Su. Ao chegar ali, encontrei ele, Pak So Sim e muitos outros camaradas que haviam conseguido conseguido trajes, sapatos, artigos de primeira necessidade e utensílios de estudo e me esperavam-me para estragá-los. Ao preguntar ao camarada Cha Kwang Su tudo havia ocorrido, ele explicou que como estavam seguros de que eu não aceitaria a proposta eles discutiram e decidiram entre eles enviar-me para estudar na União Soviética. De fato, naquele tempo, entre os comunistas coreanos que atuavam nas regiões da Manchúria, na China, existia a tendência de ir como bolsistas a esse país. Consideravam como algo muito natural e digno ir estudar na União Soviética e efetivamente muitas pessoas o faziam. Me parece que também meus companheiros estavam determinados em enviar-me para lá com o desejo de que aprendesse muito e que em meu regressos os conduzisse melhor.

Enquanto me felicitavam de todo coração por motivo de minha viagem, disseram que estavam esperando-me para dar saudações de despedida. Então lhes disse que compreendia o desejo que eles tinham de enviar-me para estudar, porém considerava que na União Soviética não teria grande coisa para aprender. Lhes expliquei que coisas como as teorias sobre o socialismo e o comunismo, se poderia aprender tanto quanto queira sem precisar ir até lá, somente lendo as obras de Marx ou de Lenin; o que se poderia estudar nesse país somente estaria vinculado com a Revolução Socialista de Outubro e suas experiências na construção socialista, cosas que não serviam à situação concreta de nosso país; o que tínhamos que aprender e conhecer era a estratégia e tática para levar adiante a revolução coreana, assuntos impossíveis de estudar na União Soviética; os soviéticos sabiam muito bem sobre tudo relacionado com sua revolução, porém não sabiam sobre nossa revolução; o melhor conhecedor desta era nosso povo; para encontrar a estratégia e tática e a metodologia para desenvolver a revolução coreana era preciso relacionar-se com a população e compartilhando com estas as alegrias e as penas havia que encontrar a metodologia para levá-la a cabo; e que , não indo à União Soviética, nos compenetraríamos com o povo para aprender a teoria e o método a seguir pela revolução coreana. Então, os camaradas se alegraram profundamente. Posteriormente, junto com meus companheiros adentrei nas filas do povo e convenci-me de modo mais firme da verdade do Juche.

Pensando agora retrospectivamente considero ter procedido de forma correta ao não ir estudar na União Soviética. Se tivesse ido, talvez tivesse me incorporado a um dos grupos pró-russos: o M-L e o Irkutsk. Os faccionalistas como Kim Chan e Pak Hon Yong estudaram em Moscou. Eles causaram graves danos a nossa revolução.

Após a rebelião de 30 de maio a situação no Leste da Manchúria piorou extraordinariamente. Após essa rebelião se produziram sucessivamente o levante de primeiro de agosto e, no ano seguinte, o incidente de Wanbaoshan e o de 18 de setembro. O incidente de Wanbaoshan foi um complô que o imperialismo japonês fabricou intencionalmente instigando os elementos faccionalistas subornados com o fim de ter um pretexto para a agressão ao Nordeste da China e semear a discórdia entre os coreanos e os chineses. Dos faccionalistas que naquele tempo foram detidos pela polícia do consulado japonês, quase todos assinaram a ata de conversão e se tornaram seus agentes. Como consequência disso, os chineses pegaram ainda mais inimizade com os coreanos dizendo que todos, sem exceção, eram esbirros dos japoneses e que estes traíam a China.

Depois do levante de 30 de maio os comunistas coreanos realizaram ingentes esforços para liquidar suas consequências, consolidar as forças revolucionárias e preparar a luta armada. Ao conseguir com ajuda de Han Yong Ae, Han Il Gwang e outros companheiros o dinheiro para cobrir os gastos de viagem, fui a Haerbin e outras várias regiões para restaurar e reordenar as organizações revolucionárias destruídas e preparar a luta armada e, por fim, em 1932 fundei em Antu a Guerrilha Antijaponesa.

Para desenvolver a Luta Armada Antijaponesa nos apresentou como uma questão importante formar uma frente conjunta com as tropas antijaponesas chinesas e constituir a frente unida com as tropas independentistas coreanas, e nos empenhamos muito neste sentido. Em primeiro lugar, me dirigi ao Sul da Manchúria dirigindo o grosso da recém-nascida Guerrilha Antijaponesa para formar a frente unida com a tropa independentista de Ryang Se Bong. Este era amigo de meu pai. Estava de acordo com nossa linha de frente unida, porém não pudemos alcançar nosso propósito por causa da persistente oposição de um integrante do Estado Maior que era um esbirro a serviço do imperialismo japonês. Ao regressar do Sul da Manchúria passei por Xiaoshahe e soube que durante minha ausência minha mãe havia falecido. Depois, perdemos numerosos companheiros revolucionários, entre outros, Cha Kwang Su.

Ryang Se Bong era uma boa pessoa. Porém, morreu vítima de uma intriga forjada pelos imperialistas japoneses ao não haver podido distinguir o amigo do inimigo. Enquanto à sua esposa e filho, convidei-os a regressar à pátria depois da libertação. O filho, depois de estudar na Escola Revolucionária de Mangyongdae ingressou no Exército Popular e serviu como piloto até morrer. A esposa de Ryang Se Bong faleceu em 1988. Quando estava viva vinha me visitar constantemente.

Depois da morte de Ryang Se Bong, o comando da tropa independentista foi assumido por Kim Hwal Sok, que se empenhou em estabelecer contatos com o Guomindang de Chiang Kai-shek. Os imperialistas japoneses, ao inteirar-se desse propósito, infiltraram na tropa independentista um agente seu fazendo-se passar por um enviado de Chiang Kai-shek. Sem ter conhecimento disso, Kim Hwal Sok foi a Xingjing seguindo o tal agente. Segundo me disseram, como produto de engano, ele entrou em uma residência pensando ser um hotel administrado por pessoas ligadas ao Guomindang, mas ao despertar-se no dia seguinte se deu conta de que era uma estação de polícia japonesa. Os imperialistas japoneses deram-lhe um licor com algum sonífero para fazê-lo dormir e, no outro dia, pela manhã, encarceraram-o. Depois, o comandante da tropa independentista foi Choe Yun Gu, que na primavera de 1938 venho me ver à frente de sua unidade. Kim Myong Jun foi um dos integrantes desta tropa que faleceu no ano passado. O Tong Jin foi detido pelos imperialistas japoneses quando o pastor Son residia em Jilin. Isso ocorreu-lhe quando, sem prestar atenção ao conselho do pastor, foi a Changchun para conseguir fundos para o movimento independentista estabelecendo negócios com o gerente de uma mina de ouro que se encontrava nessa cidade.

Você expressou que eu devo ter sofrido muito durante a Luta Armada Antijaponesa; efetivamente percorri um caminho indescritivelmente árduo. Porém não experimentei isso como um sofrimento. Graças ao que sofremos naquela época foi possível derrotar o imperialismo japonês e recuperar o país. Grande orgulho me proporciona haver empreendido com resolução a Luta Armada Antijaponesa superando múltiplas dificuldades. Esta batalha foi empreendida de modo mais dinâmico depois que apresentamos a linha da frente unida nacional antijaponesa e o Programa de 10 Pontos da Associação para a Restauração da Pátria.

Você perguntava de quem havíamos recebido ajuda econômica; recebemos um inestimável auxilio do povo. Víveres como alimentos e uniformes conseguíamos umas vezes com a ajuda da população e outras com o que tomávamos do inimigo.

Os habitantes cultivavam a terra e enviavam víveres à Guerrilha Antijaponesa. Os camponeses da zona do condado de Changbai da China e Hyesan, Kapsan e Samsu em nosso país, assim como os das regiões limítrofes do rio Tuman, se dedicavam fundamentalmente ao cultivo de batata e e não lhes faltavam víveres. Todavia, cada vez que os imperialistas japoneses vinham averiguar o rendimento de batatas vistas a determinar a quantidade da entrega obrigatória, os enganavam dizendo que somente haviam recolhido 2 ou 3 toneladas por hectare, embora na realidade tenha sido 10, e limpavam as plantações de forma que parecesse que todas as batatas tinham sido recolhidas, para que os guerrilheiros viessem e as levassem logo. No caso de não poder recolher todas as batatas deixadas pelos camponeses, regressavam para levá-las congeladas na primavera do ano seguinte. Você talvez não tenha provado os pratos feitos com batatas congeladas, porém posso lhe dizer que são muito ricos. No ano passado, ao oferecer uma recepção para os compatriotas residentes no exterior que participaram na Conferência Pan-nacional de 15 de Agosto fiz servir o kuksu feito com batata congelada e muitos dos convidados disseram que o provavam pela primeira vez e que era muito saboroso.

Também no caso do milho, se rendia umas 5 toneladas por hectare, os camponeses diziam aos japoneses que somente haviam recolhido uma tonelada mais ou menos para que os guerrilheiros antijaponeses pudessem levar o resto. Se o milho, sem desgranar-se da espiga, se guarda em um depósito construído no meio de uma montanha, pode ser conservado durante muito tempo sem estragar. Os membros da Associação para a Restauração da Pátria guardavam assim o milho e para que os levássemos nos avisavam apontando onde podíamos encontrar esses depósitos. Os guerrilheiros antijaponeses passavam o inverno com as provisões que os camponeses lhes entregavam dessa maneira. No verão, não era tão difícil resolver o problema dos alimentos porque uma parte destes podíamos satisfazer com ervas comestíveis que recolhíamos.

O povo amava os guerrilheiros antijaponeses como se fossem seus próprios irmãos. Sempre que estes, durante uma marcha passavam por uma aldeia, os acolhia com cálida hospitalidade.

Uma vez, nossa unidade passou por um povoado. O dono da casa em que entramos nos serviu espigas de milho cozidas. Ao vê-la me veio uma profunda saudade de minha terra-natal. Em minha terra-natal, quando comemos as espigas de milho cozidas as acompanhamos com pimentões verdes junto com camarões pequenos. Este plato era delicioso. Por isso, disse ao anfitrião que para comer espigas de milho cozidas ficaria bom também os camarões pequenos e então ele me perguntou: O General também gosta desse prato? Respondendo afirmativamente expressei que não o provava desde muito tempo porque sendo oriundo da província de Phyongan vivia onde residiam muitas pessoas provenientes da província de Hamgyong. Os habitantes da província de Phyongan fazem bons pratos, porém não igual ao de Hamgyong que alguns não gostam por seu odor. O dono da casa me ofereceu dizendo que o havia trazido para sua nora ao regressar de visita à sua casa natal. Era tão bom que comi cinco espigas de uma vez. Como me deram em um recipiente, o pude comer durante algum tempo.

No período da Luta Armada Antijaponesa, também as pessoas de sobrenome Kang da região de Changsong nos prestaram muita ajuda. Muitas delas eram chondoistas. Os Kang tinham um elevado sentimento patriótico. Naquela época pudemos estabelecer relações com os chondoistas deste lugar e até criar uma filial da Associação para a Restauração da Pátria.

Como você sabe, por haver passado pelos lugares onde foi levada a cabo a luta revolucionária na zona do monte Paektu, ali são conservados na forma original os acampamentos secretos onde vivíamos ou as marcas de seus vestígios e também os lugares onde nos abrigamos durante a marcha. São conservados os dados históricos e relíquias e muitas árvores com lemas gravados. Depois de estabelecer a base no monte Paektu tendo-a como ponto de apoio, combatíamos na terra chinesa para onde nos deslocávamos se recrudescia a ofensiva “punitiva” do inimigo no interior do país ou o fazíamos aqui quando a ação inimiga voltava e ser intensificada lá. Realmente, para nós era muito difícil atuar assim.

Você afirma que em sua época de estudante ouviu dizer que durante a realização de seus exercícios os guerrilheiros antijaponeses enchiam de areia as perneiras para aumentar a capacidade de correr rapidamente; realmente naquele tempo entre os habitantes circulavam muitas lendas sobre nós.

Ademais, os inimigos se dedicavam a divulgar toda classe de propaganda vil para semear discórdia entre a Guerrilha Antijaponesa e a população. A principio chamavam a Guerrilha Antijaponesa de Exército Revolucionário, porém depois passaram a chamar de exército comunista ou guerrilha de bandidos comunistas e finalmente a catalogaram como grupo de bandidos a cavalo. Difundiram também muitas notícias falsas sobre minha pessoa.

Foi depois da Batalha de Pochonbo quando foram publicados alguns detalhes sobre minha pessoa, nos jornais. Organizamos este combate para salvar a unidade liderada pelo camarada Choe Hyon que ficou cercada pelos inimigos quando em tentativa de atraí-los empreendeu uma incursão à região de Musan. Logo após essa batalha os inimigos nos perseguiram e nós os aniquilamos no monte Kouyushan.

Ao terminar esta operação, o camarada Choe Hyon veio me ver. Ele, que comandava um regimento, assaltou a serraria de um japonês e nos trouxe dois japoneses como reféns. Ao perguntar-lhe por que os havia capturado, disse que havia feito isso para conseguir por mediação deles os tecidos para confeccionar uniformes. Efetivamente, um dos reféns trouxe tecido de algodão com o qual se podiam fazer uniformes para mais de 2 mil pessoas. Logo após ser liberado ele publicou um artigo em um jornal onde escreveu que meu nome original era Kim Song Ju, que era originário da província de Phyongan e tinha 25 anos.

Uma vez, também o jornal Tong-a Ilbo me descreveu com alguns dados relativamente corretos. Escreveu que meu nome original é Kim Song Ju; que era chamado assim tanto em casa como quando estudava em Jilin, porém que ganhei o nome de Kim Il Sung desde que comecei a empreender as atividades revolucionárias. Realmente, este nome foi posto pelos companheiros revolucionários. No período inicial os companheiros me chamavam de Han Pyol, desejando que eu fosse a estrela orientadora para a revolução coreana, e posteriormente Kim Il Sung que significa o Sol que salvaria o destino da nação. Como me chamavam assim todos meus companheiros de revolução eu não podia me opor. Foi assim que ganhei o nome de Kim Il Sung.

Você disse que encontrando-se em Shanghai, por volta de 1939, pôde ler no jornal Dagongbao, que saía em inglês, a notícia de que o independentista Kim Il Sung, comandando centenas de milhares de subordinados, empreendia a Luta Armada Antijaponesa, o que é possível. Antes, Zhou Enlai igualmente afirmou que também nos jornais do Guomindang eram publicadas frequentemente as notícias sobre nossa luta. Ele, que trabalhou no Bureau do Partido Comunista da China quando este radicava em Chongqing pôde ter bom conhecimento sobre nossa luta.

Depois da libertação estive várias vezes em Pequim, porém anteriormente nunca tinha ido. Durante a Luta Armada Antijaponesa, mantivemos muitos contatos com Wang Delin, Li Du e outras pessoas que se encontravam em Pequim. Eles se radicaram ali depois de seu regresso da União Soviética. Wang Delin enviou uma pessoa chamada Yi Junshan para estabelecer relações conosco. Este homem trabalhou durante muito tempo como nosso secretário e nós o chamávamos de chefe Yi. Como havia estudado em um colégio de idioma russo em Pequim e no Instituto Superior Imperial no Japão, falava fluentemente tanto em russo como em japonês. Em muitos casos se ocupava de nossas relações com os chineses e com Pequim.

No período da Luta Revolucionária Antijaponesa houveram muitos companheiros chineses que compartilharam comigo a vida e a morte.

Zhang Weihua foi um dos que me ajudou no material e espiritual nas atividades revolucionárias e me defendeu com sua vida. Seu pai era um rico proprietário que possuía na região de Fusong extensas terras e até guardas particulares. Zhang Weihua, embora fosse filho de um homem rico, estabeleceu uma boa amizade comigo e me ajudou ativamente em minhas tarefas revolucionárias. Sobre tudo isso poderá conhecer se assiste o filme revolucionário "Estrela da Coreia". Graças a que me encontrava com ele no trem quando viajava à Hailong, com sua ajuda, pude burlar a rigorosa vigilância dos inimigos e escapar sem dificuldades da estação ferroviária dessa cidade. Nesse momento, Zhang Weihua que ia estudar em Shenyang passou por Jilin para ver-me, porém ao não me encontrar se dirigiu à Hailong para receber seu pai que vinha da região de Yingkou onde ele havia estado para vender insam e foi durante esta viagem que me viu. Posteriormente, quando eu atuava em Wujiazi, venho ver-me com 40 fuzis dos guardas de sua família. Estas armas foram uma ajuda inestimável para a fundação da Guerrilha Antijaponesa. Também trabalhou como professor na escola Samgwang em Guyushu.

Um dia, quando eu, logo após criar a Guerrilha Antijaponesa, ia avançar à Manchúria do Sul comandando o grosso da guerrilha, ele veio me ver para saber o que devia fazer. Nesta época sua esposa estava grávida. Tendo em conta que era filho de uma família rica lhe aconselhei que em vez de ir para as montanhas e sofrer muitos percalços, seria conveniente que nos ajudasse em nosso trabalho abrindo um estúdio fotográfico ou atuando como professor em uma escola secundária. Depois da conferência de Nanhutou me dirigi à região de Fusong e de passagem visitei o acampamento secreto de Maanshan, onde vi que os integrantes do corpo infantil estavam muito mal vestidos. Para conseguir tecidos para fazer-lhes roupas enviei Kim San Ho para se encontrar com Zhang Weihua, que resolveu o problema. Kim San Ho havia sido antes servente na casa de um latifundiário. Havia cortado o polegar da mão esquerda enquanto manipulava a cortadora de palhas e ao ver o quanto sofria lhe fiz vir comigo e cuidei de sua ferida. Seguindo-me pôde ingressar na guerrilha e com o tempo chegou a ser comissário político do oitavo regimento. Voltei a ver Zhang Weihua em Fusong, e este foi nosso último encontro. Alguns dias depois de que nos vimos, Jong Hak Hae veio vê-lo. Este homem atuava como chefe da União da Juventude Paeksan no condado de Fusong, porém, ao haver se rendido aos inimigos, se converteu em agente do “grupo de operação para o retorno submisso”. Zhang Weihua, que não sabia deste fato, contou-lhe sobre nosso encontro. Jong Hak Hae informou de imediato aos inimigos, os quais prenderam Zhang Weihua.

Pensando que poderia ser descoberto meu paradeiro no caso de que ele, sem poder resistir as torturas dos inimigos, dissesse o segredo sobre o mesmo, fez seu pai subornar a gendarmeria e o puseram em liberdade condicional por enfermidade. Foi assim que, ao ir para sua casa, no espaço de três dias escreveu um testamento à sua esposa e cometeu suicídio ao beber uma solução que se usa para a revelação de fotos. Ele teve um filho, Zhang Jinquan, e uma filha, Zhang Jinlu, os quais visitaram nosso país. Eu os recebi quando estiveram aqui e também o camarada Kim Jong Il lhes prestou grande atenção.

Depois da libertação, também resolvi múltiplos problemas que se apresentaram na construção da nova sociedade conforme à realidade do país e com uma posição independente.

O Partido Comunista que fundamos após a libertação contava com apenas uns dez mil militantes, incluindo os participantes na Luta Revolucionária Antijaponesa, enquanto que o Partido Democrata criado por Jo Man Sik tinha 460 mil. Com vista a ampliar as filas do Partido entre os operários, camponeses e intelectuais e aglutinar os amplos setores das massas em seu arredor de acordo com as demandas da situação do país e do processo revolucionário, fundimos o Partido Comunista e o Partido Neo-democrata e criamos o Partido do Trabalho, partido que agrupa politicamente as massas do povo trabalhador. Definimos os intelectuais como força motriz de nossa revolução junto com os operários e e os camponeses e tomamos medidas para admitir no Partido não só os adeptos do comunismo mas também um grande número de elementos progressistas dentre os setores sociais que apoiavam a revolução democrática antimperialista e antifeudal. No emblema de nosso Partido estão impressos o martelo, a foice e o pincel, os quais simbolizam os operários, os camponeses e os intelectuais que o compõem. Até os estrangeiros dizem que esta maneira de atuar foi muito original e sábia. Nenhum partido de nenhum outro país tem o emblema com o martelo, a foice e o pincel.

Quando se analisou a possibilidade de estampar estes símbolos na insígnia do Partido discutimos seriamente com muitas pessoas. As que empreenderam junto comigo a Luta Revolucionária Antijaponesa o aprovaram por unanimidade enquanto os faccionalistas, entre outros, O Ki Sop, Ri Ju Ha e Ju Nyong Ha, que, representando o grupo Hwayo e o el M-L se dedicavam a disputas sectárias, se opuseram. Por este motivo, lhes expliquei que sem os intelectuais não poderíamos nem fazer a revolução nem tampouco construir o país, que os necessitávamos tanto para destruir a velha sociedade e conquistar o poder como para edificar uma nova sociedade, que embora os participantes da Luta Armada Antijaponesa soubessem disparar bem os fuzis, não tinham muitos conhecimentos, razão pela qual, somente dando as mãos a eles que possuíam os conhecimentos e a técnica poderíamos realizar a revolução e o trabalho de construção.

Na etapa do pós-libertação, o problema mais premente no processo de construção da nova sociedade que devia ser resolvido era o dos especialistas. Antes da libertação em nosso país não existia nenhum instituto universitário, se houve algum centro docente que se assemelhasse, foi uma filial em Seul da Universidade Imperial do Japão. Em Pyongyang havia só uma escola de indústria e outra de medicina. Por esta razão, eram poucos os graduados universitários. Recordo que havia somente uns dez graduados de cursos tecnológicos superiores entre eles Kang Yong Chang, Kim Tu Sam, Ro Thae Sok e O Tong Uk. Além desdes, havia alguns especialistas em Direito, que não podiam oferecer merecidos serviços em nosso país já livre, porque haviam estudado o Direito japonês.

Imediatamente depois da libertação, com o propósito de resolver o problema da falta de intelectuais, fiz buscar os intelectuais por todas partes do país para incorporá-los a nossas tarefas. Jong Jun Thaek foi um deles.

Este companheiro, embora seu pai tenha lhe recomendado que seguisse a carreira de medicina, ingressou na escola de mineração para converter-se em engenheiro. Logo após lograrmos a libertação, alguns o rejeitavam alegando que ele havia servido ao imperialismo japonês, porém me reuni com ele e ele disse que não havia motivo para perder o ânimo de convidá-lo para cooperar conosco. E ele se consagrou com total entrega à obra de construção de uma nova pátria, e chegou a atuar como presidente do Comitê de Planificação Estatal, cargo que cumpriu com excelência. Também trouxemos intelectuais de Seul para fundar a Universidade Kim Il Sung e formar os quadros nacionais. Alguns deles ainda trabalham como professores nesse centro docente. Naquele tempo passaram ao Norte muitos cineastas, músicos e coreógrafos procedentes de Seul. Muitos estrangeiros, ao ver a realidade de nosso país, reconhecem a justeza da política de nosso Partido relacionada com os intelectuais.

Você disse que a confiança que depositamos nos intelectuais o comoveu, motivando-o a preparar uma caneta como presente para mim; agradeço-lhe por esse presente simbólico.

A Ideia Juche, pensamento humanocêntrico segue sendo a base-guia para nosso Partido, na solução de todos os problemas que surgem em sua construção e ações, e se aplica em todos os aspectos do processo revolucionário e construtivo. É a razão pela qual nosso Partido desfruta da absoluta confiança e apoio de todo o povo que, unido sob sua direção, compartilha seu destino. O lema “Se o Partido decide, o cumprimos”, é muito justa, pois demonstra a admirável realidade de nosso país: a plena identificação entre o Partido e o povo, e demonstra seu poderio indestrutível. Reflete fielmente a vontade revolucionária de nosso Partido e povo de defender e manter esta unidade tradicional para alcançar o triunfo definitivo da revolução. Não há outro lema mais adequado para nós na luta encaminhada a materializar a Ideia Juche, até que nosso processo revolucionário logre sua vitória total.

Nosso Partido adotou uma resolução para solucionar o problema das moradias na cidade de Pyongyang para 15 de abril do próximo ano—iniciativa apresentada pelo camarada Kim Jong Il—, e se impulsiona com dinamismo uma campanha de construir modernas moradias para 50 mil famílias com o enérgico apoio de todas as organizações do Partido, todos os organismos do Estado e toda a população. Os capitalinos se unem a esta campanha com sua força física ou com recursos materiais. Incluso os que passam pela rua Thong-il, onde estão sendo construídas as moradias, ajudam voluntariamente os trabalhadores removendo que seja uma pá de terra. Também os funcionários das missões diplomáticas estrangeiras em nosso país oferecem respaldo laboral. Há alguns dias, os da embaixada cubana ajudaram os construtores no terreno. Há grande movimentação na obra. O grande entusiasmo que exibem agora os trabalhadores me faz assegurar que as chaves de 50 mil moradias serão entregues antes do previsto. Como 30 mil moradias já se encontram em fase final, faltam 20 mil por terminar, tarefa totalmente possível de realizar no período de onze meses que faltam até a inauguração.

Atualmente, muitas pessoas de todo o mundo expressam simpatia com a Ideia Juche e a estudam. Todavia não se pode afirmar que essa doutrina é um pensamento universal. Porém é questão de tempo. Acapara a atenção do mundo o nosso país, que continua imperturbável pelo caminho do socialismo flamejando a bandeira da Ideia Juche. Muitos estrangeiros perguntam como a Coreia pode seguir por sua rota socialista quando os países socialistas da Europa Oriental desmoronaram com um golpe, e expressam sua admiração empreendendo viagens ao nosso país. Após sua visita, afirmam que a sociedade coreana é indestrutível, pois o socialismo coreano se fundamenta sobre a Ideia Juche, o Partido e as massas populares integram um ente sócio-político monoliticamente unido e tudo está a serviço do povo.

Um dirigente comunista de um país capitalista abandonou o socialismo ante a seu fracasso nos países da Europa Oriental. Todavia, após sua visita ao nosso país, manifestou sua decisão de retomar a luta pelo socialismo. A análise da realidade do país da Ideia Juche, em comparação com o que ocorreu em outras nações, conduz os estrangeiros, ao meu ver, a compreender a justeza e as vantagens da Ideia Juche em toda sua magnitude. Para verificar a majestosidade de um monte alto, há que compará-lo com outra montanha, esta é uma lei. A Ideia Juche, que exige pensar e atuar a favor do homem, evidencia sua justeza e vitalidade cada dia más.

Há algum tempo foi realizada em Pyongyang a 85ª Conferência da União  Interparlamentar. Nessa ocasião seus participantes admiraram e exaltaram nosso socialismo. A conferência contou com delegados de mais de 80 países e muitos organismos internacionais, os quais ficaram impressionados ante a realidade de nosso país. Muitos deles expressaram: “Não conhecíamos bem a Coreia. Ouvíamos somente a propaganda falsa e acreditávamos que era um país atrasado onde havia muitos ladrões e mendigos, e que os coreanos eram monstros como chifres na cabeça. Tudo era mentira. Não existem aqui nem ladrões nem mendigos, tampouco poluição e marca dos desastres naturais. Pelo contrário, é um país belo e limpo. Os coreanos são muito corteses e tem o espírito de organização e unidade.”

O presidente do Conselho dessa União disse em seu país: “Participei em várias reuniões da União Interparlamentar, das quais a recente de Pyongyang foi a melhor. Perfeita em todos os aspectos como os preparativos e organização. Isso se deve a que, sua sede, a RPDC, está bem disciplinada e ordenada. Os participantes no evento respeitaram as normas, não havia nenhuma desordem e foi cumprido com êxito o programa de trabalho O que mais me impressionou em Pyongyang é que na Coreia não há o servilismo a grandes potencias. Somente se confia em seu povo e todas as tarefas são realizadas apoiando-se em seus recursos próprios.” Eles tem razão. Pois nossa pátria é o país mais belo do mundo e não se mostra servil ante as potências nem se rende ante as nações desenvolvidas.

Algumas nações de Ásia, África e América Latina mantém uma posição servil e de veneração ante as potências grandes e desenvolvidas.

A fim de defender a dignidade nacional e construir com êxito uma nova sociedade é preciso abandonar essa posição entreguista entreguista. De outra forma não só é impossível proteger a integridade da nação, como também se obterá como resultado sua ruína. No passado, os governantes feudais corrompidos e incapazes da Coreia não confiaram nas forças do povo e praticaram o servilismo a grandes potências, o que converteu a nação em uma colônia do imperialismo japonês. Na ocasião do XIII Festival Mundial da Juventude e Estudantes, Julius K. Nyerere realizou uma visita ao nosso país. Em uma reunião com ele disse que os países em vias de desenvolvimento não devem comportar-se servilmente ante as grandes potências para promover a cooperação Sul-Sul. Nyerere foi Presidente da Tanzânia e chefe do Partido Revolucionário desse país e logo presidente do Comitê de Cooperação Sul-Sul até algum tempo, que é um organismo não governamental que se dedica a estudar e assessorar as estratégias de cooperação e desenvolvimento nas nações subdesenvolvidas. Este comitê representa essas nações, pois estas se situam em sua maioria na parte austral, enquanto as desenvolvidas, em sua maioria, se encontram na parte setentrional. 

As relações entre os dois grupos se chamam Sul-Norte e as entre nações subdesenvolvidas se chamam Sul-Sul. Tenho boa amizade com Nyerere, que visitou várias vezes o nosso país. Perguntei-lhe quais eram suas experiências adquiridas enquanto dirigia o Comitê Sul em vários anos e respondeu que havia compreendido que todos os países em vias de desenvolvimento devem manter a posição de autoconfiança unindo-se firmemente. Então repliquei: Tem razão. Porém o mais importante é, ao meu ver, que as autoridades dessas nações devem abandonar o servilismo e adoração aos países grandes e desenvolvidos. Sem lograr isso é impossível alcançar a autoconfiança e a unidade. Se o Comitê Sul quer contribuir ao desenvolvimento econômico nos países em processo de desenvolvimento deve ajudar seus dirigentes para que se eliminem essas tendências negativas. Nyerere concordou comigo dizendo que pôde compreender o indispensável para o desenvolvimento da cooperação Sul-Sul.

Manter a autoconfiança livrando-se do servilismo não é uma tarefa fácil. Os que não tem experiências de apoiar-se nas forças de seu povo, sem recorrer ao respaldo de outros no processo revolucionário e construtivo, não poderão compreender o verdadeiro sentido da palavra autoconfiança. Não só os viciados no servilismo e admiração excessiva por outros mas incluso as pessoas dos países grandes e desenvolvidos não acreditam que nós estamos nos autofinanciando.

Uma vez declarada a inauguração do Complexo Hidráulico do Mar Oeste, um capitalista de certo país desenvolvido, ao visitá-lo perguntou quem havia desenhado a obra. Um dos funcionários coreanos que o acompanhavam respondeu que especialistas coreanos o haviam feito e o estrangeiro expressou incredulidade dizendo que os estrangeiros deveriam ter ajudado-os porque mesmo para os países desenvolvidos é custoso o desenho das instalações hidráulicas desse tipo. Porém por fim compreendeu a veracidade das palavras dos anfitriões e perguntou de novo pela quantidade de fundos que havia sido destinado à obra. O funcionário coreano pediu-lhe então que calculasse pois ele era capitalista e parecia ser especialista nessa matéria. O visitante estrangeiro, após alguns minutos de reflexão, respondeu que teriam gastado, ao seu ver, uns 7 bilhões de dólares. Ao ouvir que foram destinados 4 bilhões de fundo, perguntou de onde tínhamos tirado essa quantidade, e acrescentou que podia oferecer um empréstimo, pensando que tínhamos contraído dívidas colossais. O funcionário coreano replicou que havíamos executado a obra com nossos materiais, humanos e tecnológicos, sem necessidade de pedir empréstimo e perguntou quanto dinheiro poderia nos emprestar. Respondeu que podia conceder-nos um empréstimo de 1 bilhão de dólares. O coreano disse que era uma quantidade desprezível, pois necessitávamos de 200 bilhões. O capitalista, boquiaberto, respondeu que não tinha tanto. Antes de regressar a seu país, reiterou que os coreanos haviam levantado uma magnífica obra hidráulica com seus próprios esforços.

Nosso povo e os membros do Exército Popular infinitamente fiéis à direção do Partido, realizaram esse projeto tão formidável. Me pediram que escrevesse palavras dedicadas ao monumento à referida obra e escreve uma oração que diz que o Complexo Hidráulico do Mar Oeste é uma grande obra resultante do espírito revolucionário de apoio em seus próprios esforços e luta sustentada contra o vento e a maré que nosso povo e nossos militares empreenderam nessa jornada.

Cada mês eu dedico uns 10 dias ao trabalho em Pyongyang e o resto a dirigir sobre o terreno nas províncias. Frequento as de Hamgyong Norte e do Sul, Ryanggang, Phyongan Norte e do Sul, Hwanghae Norte e do Sul, e todas as demais do país. Em breve realizarei viagens de trabalho pela província de Jagang, região montanhosa que tem escassas terras apropriadas para a produção de cereais. Já sugeri que essa província não dedique os terrenos somente ao cultivo de milho e outros grãos, mas que converta os terrenos inclinados em áreas de plantio de amoreiras para promover a sericultura. Se sua população produz grande quantidade de casulos de bichos-da-seda para convertê-los em fios ou tecidos de seda, com destino ao mercado estrangeiro, pode melhor seu nível de vida. Com o cultivo de milho nas parcelas acidentadas não é possível resolver o problema dos alimentos, porém este pode ser resolvido com menos mão de obra se promove-se a sericultura. Agora a província conta com 10 mil hectares de amoreiras e produz de 300 a 500 quilos de casulos de seda por hectare. Se no futuro se beneficiam com irrigação e se aplicam suficientes fertilizantes, aumentará o rendimento. Se obtêm-se uma tonelada por hectare, se produzirão 10 mil toneladas no total, com as quais se pode comprar centenas de milhares de toneladas de cereais, cifra suficiente para cobrir folgadamente as necessidades da população provincial. Portanto, recomendo constantemente que não devem dedicar-se somente a cultivar milho, mas aumentar as extensões de amoreiras e produzir grande quantidade de seda para que comam arroz branco e sopa de carne, se vistam com roupas de seda e vivam felizes em casas com tetos de telhas.

Um dos objetivos imediatos e mais importantes que perseguimos na construção socialista é assegurar a todo o povo tais condições de vida. Se logra-se essa meta, se pode dizer que foi concluída a edificação do socialismo.

Você disse que embora eu não seja especialista em Economia, são corretos meus cálculos econômicos; eu aprendo muito com o povo. Estou sempre entre o povo, ensinando e aprendendo com ele. Você expressou que, graças a minha direção, a Coreia logrará grande prosperidade e se converterá em um exemplo para o mundo; agradeço-lhe por suas palavras alentadoras.

Embora eu realize constantemente as viagens às províncias, me reúno com muitos estrangeiros que visitam nosso país. Recentemente, recebi o diretor da Agência de Informação Kyodo, do Japão, e respondi algumas perguntas que me fizeram.

Antes vieram ao nosso país muitas personalidades japonesas da imprensa e círculos políticos e sociais; porém diminuíram suas visitas nos últimos anos, devido às restrições impostas pelo governo japonês. A visita do senhor Kanemaru Shin no ano passado motivou a retomada de viagens ao nosso país de muitas personalidades de diferentes afiliações. Esse senhor, que foi secretário do departamento de defesa e subtitular do governo japonês, desempenha hoje um importante rol dentro do Partido Liberal Democrata.

O diretor da Kyodo, depois de transmitir-me a saudação deste senhor, me perguntou sobre os problemas a serem resolvidos para a melhoria das relações RPDC-Japão.

Foram os japoneses que propuseram a normalização das relações entre ambos países. No ano passado as delegações do Partido Liberal Democrata e do Partido Socialista realizaram visitas a nosso país e os recebi cordialmente. Nessa ocasião o senhor Kanemaru Shin reconheceu com pesar que os japoneses haviam ocupado a Coreia e haviam acarretado grandes desgraças ao povo coreano. Se desculpou sinceramente por esses atos criminosos. Insistiu em que o Japão tem o dever de compensar os danos que causou ao povo coreano durante 36 anos de ocupação, e à RPDC nos 45 anos posteriores à libertação, e logo propôs estabelecer relações normais entre ambos países.
 
Ante a suas repetidas escusas e sua proposta de melhorar as relações entre os dois países, aceitei sua proposta, porém não me referi às perdas que o Japão causou ao povo coreano. Assim foi posto na ordem do dia a questão de normalizar as relações RPDC-Japão.

Expliquei ao diretor da Kyodo a origem desse problema e contei: Se os países discutem com honestidade esse problema, mantendo cada um a posição independente, encontraremos uma solução satisfatória; as conversações nesse tema ainda não tiveram grandes avanços; sem dúvidas podem surgir polêmicas já que os conferenciantes não conhecem uns aos outros; como o melhoramento das relações dos dois países é o desejo comum de seus povos e tem como objetivo lograr a amizade entre eles, nas conversações se deve tratar de usar as palavras que agradam os ouvidos dos interlocutores; se falam palavras que firam a contraparte e tentem colocar em pauta os problemas que não estão relacionados com os temas principais como o problema de inspeção nuclear, trará como resultado nada menos que o adiamento dos diálogos; se ambas partes, com o mesmo propósito, logram prontamente a normalidade das relações estatais e logo abordam outros temas, um após o outro, podem resolver com êxito  todos os problemas que lhes interessam.

Após escutar-me o diretor da Kyodo me agradeceu pela explicação.

Então me perguntou quais são os pontos iguais e diferentes entre a reunificação da Coreia e a união do Leste e Oeste da Alemanha. Expressei-lhe que não sou contra a união da Alemanha e que o presidente estadunidense Bush aplaudiu a queda do muro de Berlim, porém guarda silencio sobre o muro de concreto que separa o Sul e o Norte da Coreia. Um grupo internacional de investigação do muro de concreto integrado por personalidades renomadas de vários países, após verem esse muro publicaram fotografias. É por isso que todo mundo sabe que este existe na zona do Sul da Linha de Demarcação Militar.

O diretor japonês também disse que havia visto o muro seus próprios olhos. Todavia, Japão e vários países europeus, cedendo à pressão estadunidense, não falam nada desse muro. Disse-lhe que eu esperava que seu país optasse pelo caminho da independência em vez de tremer de medo ante aos Estados Unidos. Em breve será divulgado o texto íntegro de minhas respostas às perguntas formuladas pelo titular da Kyodo.

Também em uma reunião com um grupo de parlamentares japoneses que ocupam cargos importantes no Partido Liberal Democrata, que haviam visitado nosso país, destaquei a necessidade de que o Japão opte pela independência. Nessa ocasião adverti que o Japão carece de um espírito independente. Nesse momento, um jovem japonês se levantou e perguntou por qual razão eu dizia aquilo; outro também japonês, replicou: “Presidente Kim Il Sung, você tem razão, os japoneses tem uma submissão cega aos estadunidenses e isso evidencia que lhe falta o espírito independente.”

Ademais, lhes expliquei que o “governo” sul-coreano tampouco tem independência, comparando-o com um kat (chapéu feito de crina de cavalo) que no passado os coreanos usavam. O kat tem, continuei, dois cordões que quando juntos evitam que o vento o faça sair da cabeça. Também o “governo” sul-coreano tem dois cordões: Estados Unidos e Japão, os quais o sustentam. Se um destes dois é cortado, o “governo” sul-coreano correrá a mesma sorte que um kat sem cordões. Ao escutar isso, todos os presentes aplaudiram-me.

Um jovem japonês se levantou do assento e disse que se cortado o cordão japonês ficará somente o estadunidense, que não pode impedir a queda irreversível do “governo” sul-coreano, e acrescentou que se encarregariam de cortar o cordão japonês. O chefe da deleção interviu para expressar que eles todavia não tem força suficiente para cortar por completo o cordão e que, por isso, o afrouxariam mediante a luta.

Ademais, lhes disse que o Japão deve abster-se de precipitar-se à militarização. É aceitável, continuei, que o Japão se converta em uma potência econômica, porém não que opte pela militarização. No passado o Japão causou incalculáveis danos a muitos asiáticos se empreende novamente a corrida de militarização será repudiado e rejeitado pelos povos da Ásia e do resto do mundo; se esse pequeno país insular, que tem que comprar a maioria das matérias-primas e combustíveis necessários, promove a militarização, se verá bloqueado pelas nações do Terceiro Mundo e outras progressistas. Se isso ocorre, todas suas fábricas ficarão paralisadas pouco tempo depois. Entre os integrantes do grupo de parlamentares com cargos importantes no Partido Liberal Democrata se encontrava uma mulher chamada Li Xianglan, a qual expressou que minha recomendação era excelente, e que estava plenamente de acordo comigo nesse aspecto.

Li Xianglan era uma senhora bonita. Quando era jovem cantava bem. Foi adotada por um chinês e por isso tem um nome chinês. Ofereceu serviços no exército Guandong. Quando a identifiquei, ela, surpresa, perguntou como eu a conhecia, recordando até seu nome. Disse que a conhecia desde que eu lutava à frente da guerrilha no nordeste da China. Compartilhávamos uma refeição quando o chefe da delegação a convidou a cantar uma canção coreana. Ele disse que não podia cantar porque não conhecia nenhuma música coreana, e disse que aprenderia para a próxima vez. Posteriormente, em outra ocasião, se ofereceu para cantar. Eu aceitei com gosto e ela cantou a canção coreana: Querido Líder, a noite está muito avançada.

No ano passado o senhor Kanemaru Shin repetiu sua visita a nosso país. Nessa oportunidade reiterei o caráter desnecessário da militarização japonesa: Quando me encontrei com o grupo de parlamentares com cargos importantes no Partido Liberal Democrata, disse que não seria aceitável a militarização japonesa. Os políticos japoneses não optaram por este rumo, o que é louvável. Se o Japão houvesse optado pelo militarismo, não teria podido converter-se em um país rico como o atual. Os Estados Unidos que era a potência mais adinheirada do mundo, agora se encontra endividado com o Japão. Como este não seguiu pelo referido caminho, pôde converter-se em um país credor. A corrida armamentista com seu projeto de guerra nas galáxias, deixou os Estados Unidos sem dinheiro. Todavia, o Japão, isento da corrida armamentista mencionada, se tornou uma potência econômica. Para lograr maior progresso, o Japão não deverá dedicar-se, como fez até agora, à militarização. O Japão está promovendo suas indústrias a partir das matérias-primas e combustíveis importados do exterior. A militarização pode prejudicar a imagem japonesa no mundo, levando essa nação a uma situação mais crítica que a que vive os EUA. Este, como que é um país de grande extensão e conta com grandes fontes de recursos, pode sustentar-se mais ou menos, embora seja repudiado no âmbito mundial, porém se isso ocorre com o Japão, este pequeno país insular morrerá por não poder importar as matérias-primas e combustíveis que necessita.

Kanemaru Shin expressou que é bom o conselho que eu havia dado ao mencionado grupo de parlamentares, acerca da militarização japonesa, e confirmou a política de seu país isenta da posição militar. Após regressar, manifestou que eu era o homem que ele mais respeitava.
Estamos acelerando a construção socialista enquanto luchamos energicamente para lograr a reunificação da pátria, supremo anseio de nossa nação. Queremos alcançá-la mediante a grande unidade nacional, como logramos a restauração do país formando uma frente unida nacional de amplos setores.

Nossa luta pela reunificação do país enfrenta muitas dificuldades e obstáculos. O povo do Norte e do Sul e os compatriotas em ultramar a desejam, porém as autoridades sul-coreanas persistem obstinadamente em sua posição oposta à reintegração nacional.

Desde o ano passado são realizadas as conversações de alto nível Norte-Sul, nas quais nossa parte propôs com insistência aprovar uma declaração de não agressão Norte-Sul. “Por que não se pode adotar? Não há condições que impeçam a adoção dessa declaração, já que ambas partes não querem agredir-se. Vocês não aceitam aprovar a declaração de não agressão, insistindo na necessidade de aprovar um acordo básico de reconciliação e cooperação. Então propomos a opção de aprovar um documento que inclua os dois projetos”, disse o representante do norte. O representante sul-coreano se opôs à declaração de não agressão, dizendo que esse tema era para as conversações de máximo nível e não para as de Primeiro-Ministros. O delegado do Norte replicou: “Eu fui designado pelo Presidente Kim Il Sung e você, pelo ‘presidente’ Ro Thae U; por isso, elaboremos um projeto de declaração de não agressão para apresentá-lo nas conversações de máximo nível.” O delegado sul-coreano se encontrava em apuros. Sabia que os Estados Unidos se opunha à declaração de não agressão. Não pôde aceitar porque se aprovasse o documento os Estados Unidos perderia o pretexto para a presença de suas tropas na Coreia do Sul. Portanto, não permite adotá-la para seguir mantendo suas tropas no Sul, sob o pretexto de impedir a “agressão ao Sul”. As autoridades sul-coreanas não podem fazer nada sem a permissão dos EUA.

As conversações alto nível Norte-Sul foram interrompidas devido ao exercício militar conjunto “Team Spirit” auspiciado pelos Estados Unidos e as autoridades sul-coreanas. Ademais, agora é impossível sua reabertura, embora se pretenda, já que depois da terceira rodada de conversações o cargo de Primeiro-Ministro foi renovado duas vezes no Sul.

Atualmente, os jovens estudantes do Sul lutam valorosamente pela reunificação do país. Alguns deles se suicidam queimando-se, como expressão de protesto contra a política fascista e anti-reunificação dos governantes.

Há que lograr a reintegração nacional, custe o que custar, na década de 90.

Você disse que na ocasião de sua presente visita realizou visitas ao monte Paektu, ao Myohyang, ao Kumgang e outros vários lugares da pátria, o que me alegra.

O lago Chon no monte Paektu ainda está coberto por uma capa de gelo. Naquela região faz tanto frio que no final de maio as folhas começam a brotar nas árvores e as águas do lago Chon ainda estão congeladas. Em certo ano, um vice-presidente de Chongryon, que participava de um ato comemorativo da vitória na Batalha de Pochonbo, celebrado na cidade Hyesan, expressou o desejo de visitar o monte Paektu e por isso limparam a neve do caminho que conduzia ao monte. Naquele tempo me informaram que o lago Chon também se encontrava coberto de gelo. Hoje, está em funcionamento um funicular que oferece serviços aos viajantes facilitando o acesso ao monte Paektu.

Você expressou que o grande monumento levantado às margens do lago Samji é uma obra-prima artística. Ela foi construída por nossos militantes do Partido e trabalhadores, sob a guia do camarada Kim Jong Il, que, junto com os funcionários correspondente, dirigiu sobre o terreno a execução do monumento, integrado por várias obras artísticas como a estátua, os grupos escultóricos, etc. Em Taehongdan também existe um monumento em forma de torre; seria recomendável que você o visitasse em outra ocasião.

Me informaram que visitou o eremitério Sangwon e o vale Manphok do monte Myohyang, e que almoçou à entrada de Habiro, passando horas alegres, o que é um  motivo de alegria para mim. Como você disse, a beleza do monte Myohyang é maravilhosa em todos os aspectos. Dizem que Sosandaesa, um bonzo coreano de grande renome, após suas viagens a todas as províncias do país, expressou que este monte era seu preferido e se estabeleceu ali no templo Pohyon, onde se aperfeiçoou física e moralmente. Foi um religioso patriótico, que morreu nesse monte. Embora fosse budista, durante a Guerra Imjin, em cooperação com seus colegas religiosos famosos como Samyongdang, organizou uma unidade militar e acumulou grandes méritos na batalha de conquista da cidadela de Pyongyang. 

A doutrina budista ensina que não se deve matar seres vivos, porém o budista Sosandaesa castigou os invasores estrangeiros sem a menor piedade. O rei Sonjo, que com a agressão estrangeira havia se trasladado à Thonggunjong, em Uiju, em busca de um refúgio seguro, em seu regresso a Seul tratou de promovê-lo a um importante cargo hierárquico, em reconhecimento de seus méritos; contudo, o bonzo recusou e voltou a Myohyang, onde passou em paz o resto de sua vida, em uma caverna chamada Kumgang, que, segundo dizem, serviu de sua residência.

Há muitas lendas relacionadas com esse monte. Uma delas dizem que Tangun, rei fundador de nosso país, maravilhado ante a paisagem  encantadora desse monte, abandonou o céu onde vivia e se estabeleceu ali para governar o país. A caverna onde o rei viveu se chama Tangun; se diz que uma rocha de forma singular chamada Chonju em um monte frente ao Templo Pulyong serviu como alvo durante seus exercícios de atirar com arco.

Hoje o monte  Myohyang se converteu em um lugar de descanso dos trabalhadores. Cada dia recebe de 3 a 4 mil visitantes e as vezes até mais de 5 mil, entre os quais figuram muitos estrangeiros que, seduzidos pela extraordinária beleza natural, não querem abandonar o monte.

Logo após a libertação fui a esse monte e vi uma mina de ouro aberta pelos  imperialistas japoneses. A exploração da mina podia danificar as condições ecológicas de Myohyang e contaminar as águas do rio dali. Eu ordenei fechar a mina e os dirigentes do setor econômico propuseram que seria possível explorá-la adotando medidas para evitar a poluição. Lhes respondi: “Vamos escolher outra opção para ganhar dinheiro. Em troca de milhares de toneladas de ouro que se obtenham no monte Myohyang não podemos danificar sua beleza natural nem destruir um monte famoso do país. Por isso vamos fechar a mina de ouro.”

Durante a ocupação da Coreia, os japoneses não só extraíram grande quantidade de ouro de Myohyang, mas também cortaram muitas árvores de valor. Com o pretexto de “proteção” dos recursos florestais, não permitiram que os coreanos cortassem nem uma árvore, enquanto eles cortavam o quanto queriam. Os coreanos, privados da pátria e convertidos em escravos do imperialismo japonês, não puderam proteger o monte, embora tivessem vontade. Os imperialistas recorrem a qualquer método e meio para satisfazer seus interesses. A implacável exploração e domínio é sua forma de existência.
 
Durante a Guerra de Libertação da Pátria foram destruídos e queimadas muitas relíquias e árvores no Myohyang, devido aos selvagens bombardeiros dos ianques. Os invasores lançaram grande quantidade de bombas incluídas as incendiárias para queimar os bosques que pudessem dar proteção aos combatentes do Exército Popular. Nos quase 40 anos posteriores ao conflito cresceu muito a vegetação. Há muitas trutas arco-íris no rio de serpentei por entre os vales, as quais foram trazidas pelos estadunidenses que extraíam ouro em Unsan antes da libertação. Depois da derrota do imperialismo japonês,los coreanos as capturavam sem consideração tratando de exterminá-las a fim de eliminar totalmente os remanescentes do colonialismo japonês. Eles pensavam que os japoneses haviam trazido esse peixe ao nosso país. Ao saber que esse recurso pesqueiro se esgotava, eu expressei: “O imperialismo é mau, não os peixes. Não há por que eliminá-los mas sim protegê-los e multiplicá-los.” Também fiz promover amplamente a criação de trutas arco-íris. Atualmente são criadas em diferentes lugares. Também não criadas na região de Paektu como você viu na fazenda piscícola de Phothae do condado de Samjiyon. Esses peixes podem viver na água do mar; porém como estão acostumados com a água fria é difícil criá-los em águas com temperaturas superiores aos 20 graus. Esse peixe tem poucas espinhas e seu sabor é delicioso. É saboroso tanto o ceviche como a sopa preparados com esse pescado.

Antes da libertação, os estadunidenses que exploravam as minas de ouro em Unsan também trouxeram sementes de milho e as cultivaram. Os Estados Unidos ganhou muito dinheiro com a produção deste cereal. É verdade que desde muito tempo se cultivava o milho em nosso país, mas uma proporção relativamente pequena. Nossos antepassados o cultivaram pouco em suas parcelas, para comê-lo verde, enquanto se dedicavam principalmente ao cultivo de milhete, sorgo e echinochloa, os quais davam rendimento baixos. O milhete, por exemplo, não rende mais de 800 quilos por hectare. Porém o milho dá um alto rendimento. No pós-guerra eu lancei um lema: “O milho é os rei dos campos secos” com o propósito de dedicar maior superfície de terra ao milho. Até então nossos camponeses tinham pouco interesse por seu cultivo. Me custou muito convencer os velhos campesinos que preferiam somente o milhete e o sorgo. Agora não há quem rejeite o cultivo de milho ao qual são dedicados grandes terrenos. Nas zonas planas se obtém de 8 a 9 toneladas por hectare, e até mais de dez toneladas. Com o milho se pode preparar muitíssimas variedades de comidas.

Você tem razão ao dizer que as construções de estilo coreano são excelentes e seus tetos cobertos com telhas verdes acentuam a imponência das estruturas em seu conjunto.

No período da dinastia feudal de Joson, um grande país vizinho, contagiado por sentimentos chauvinistas, proibia nosso país do uso de telhas verdes, tratando de monopolizar esses materiais de construção. Não permitiu nem sequer que fossem utilizadas nos palácios reais como o Kyongbok e o Changdok. Os governantes da dinastia de Joson, sumamente servis ante as grandes potências, se renderam incondicionalmente e cobriram com telhas pretas incluso os palácios reais.

Hoje produzimos grandes quantidades de telhas verdes. A Casa de Estudos do Povo e muitos outros edifícios monumentais de estilo tradicional tem tetos de telhas verdes, que destacam a beleza arquitetônica, ao mesmo tempo que lhe impõem maior majestosidade.

Na próxima visita à pátria, aconselho que visite a província de Hamgyong Norte no nordeste do país. Tem uma temperatura baixa, porém não tão baixa como a da região de Paektu. Nestes dias o tempo estará bom. Banhada por águas do mar, tem muitos locais de paisagem encantadora, entre eles, se destaca o monte Chilbo, o qual, além da admirável beleza natural, tem fontes de águas termais, cuja temperatura oscila entre 60 e 70 graus.

Você acaba de dizer que durante sua estadia na pátria viu muitas coisas, o que me alegra. Você e sua esposa são saudáveis e dizem que podem caminhar sem dificuldades, isso também me deixa alegre.
 
Você não padece de nenhuma enfermidade, porém sua esposa se sente mal pela catarata em fase incipiente. Seria aconselhável que a senhora fosse submetida a um tratamento de medicina tradicional. Em nosso país são produzidos os medicamentos Koryo eficientes (medicamentos tradicionais da Coreia), tanto para o tratamento dessa enfermidade oftálmica como para a prevenção de câncer e outros vários males. Se os medicamentos químicos não dão  resultado, seria bom tomar os naturais que também podem servir como tônicos. A escritora alemã Luise Rinser visita todos os anos nosso país. Durante sua primeira visita me disse que ela não pode ver sequer filmes, por uma visão ruim. Então lhe disse: “Se não pode ver filmes, sua vida não é boa. Vou mandar nossos doutores prepararem para você os medicamentos Koryo. Os experimente, por favor”. Ela os tomou durante vários anos consecutivos e, segundo me informaram, agora tem uma boa visão para ver filmes. Essa senhora é uma escritora de renome, que também participou na luta contra o fascismo na Alemanha. Diz-se que nos países ocidentais não há ninguém que não a conheça. Ela pretende vir esta ano também e será sua 11ª visita ao nosso país. Vem cada ano por volta de julho e descansa mais ou menos um mês nos lugares cujo ambiente é saudável e que possuem belas paisagens, entre outros o monte Paektu e o Kumgang. Desde que começou a vir aqui já não visita mais a Coreia do Sul. Parece que quando esteve lá os sul-coreanos mandaram agentes secretos vigiá-la. Manifestando seu descontentamento porque puseram espiões atrás dela que é escritora, decidiu não voltar a visitar a Coreia do Sul.

Atualmente reside em Roma e pelo que sei no presente ano celebrou seus 80 anos e lhe enviei presentes.

Se pode afirmar que nossa medicina Koryo é melhor que a ocidental; esta logrou desenvolver a técnica de operação cirúrgica e de desinfecção, porém não está à altura da Koryo enquanto ao tratamento com tônicos. Em nossa medicina Koryo se utilizam muitos tônicos. Se pode dizer que é uma medicina preventiva.

Atualmente, a taxa de mortalidade da população em nosso país é a mais baixa do mundo. As enfermidades são prevenidas aqui com a aplicação do sistema de responsabilidade regional dos médicos, por isso a taxa de mortalidade é baixa. Se trata de um regime de profilaxia, segundo o qual cada médico, encarregando-se de atender um certo número de famílias, as visita para prestar-lhes serviços tais como diagnosticar e curar. Em nosso país, os médicos assumem o dever de atender as famílias que estão sob seu cuidado para assim protegê-las de enfermidades. Este sistema é um regime superior de saúde pública que pode ser aplicado somente no regime socialista de nosso país, onde o povo é dono de tudo e tudo está à seu serviço.

Quando o pastor Kim Song Rak, compatriota residente nos EUA, esteve aqui, perguntei-lhe durante uma conversa se realizava periodicamente a checagem médica. Ele me disse que, como nos Estados Unidos os serviços médicos custam muito, embora seja somente para medir a pressão arterial, com sua pensão não se atreveria a submeter-se periodicalmente a uma checagem médica e que como as vezes sua pressão arterial aumentava, comprou um esfigmomanômetro para ele e sua esposa medir a pressão. E quando lhe propus que fosse ao nosso hospital me agradeceu, afirmando que a RPDC é igual a um paraíso graças a que seu Presidente implantou o sistema de assistência médica gratuita. Ao almoçar em sua companha perguntei-lhe se um pastor não tinha que rezar, e ele o fez, dizendo no final: “Desjeo de todo coração longa vida e boa saúde ao Presidente Kim Il Sung que construiu um paraíso sobre esta terra”.

Seria conveniente que você, senhor Son Won Thae, venha com frequência à pátria. Você disse que talvez sua presença me incomode, porém não há motivo algum para pensar assim. Como você é meu hóspede é natural que o trate com hospitalidade.

Disse que se vende uns 30 hectares de terra que possui nos EUA pode ter recursos para cobrir os gastos de viagem e estar livre, pois, seria bom que venha todo ano; neste momento tenho sentido falta de meus companheiros da juventude, talvez por ter uma idade avançada. Com crescente veemência sinto falta de Cha Kwang Su e outros companheiros caídos na luta revolucionária. No período inicial de minhas atividades revolucionárias tive contato com muitas pessoas, porém, posteriormente, concentrado na Luta Armada Antijaponesa, não pude voltar a vê-las. Desde que o camarada Kim Jong Il se encarregou da totalidade dos trabalhos do Partido, começaram a ser descobertos, ordenados e divulgados os materiais históricos que relacionados com minhas atividades revolucionárias. E foram encontradas muitas pessoas e dados que estão relacionados com elas. Anteriormente eu não havia consentido que se realizara tal trabalho. Tampouco admitia que se filmasse a respeito. Há uns 15 anos que se começou a buscar e ordenar os dados relacionados com minhas atividades revolucionárias, porém creio que se este trabalho tivesse sido realizado antes teria podido encontrar um maior número de tais pessoas e materiais.

Dentre os membros da Associação das Crianças Coreanas de Jilin semente permanecem vivos nada mais que você, Hwang Kwi Hon e Kwak Yon Bong. Com a companheira Hwang Kwi Hon, de quem me despedi em 1928, não pude voltar a encontrar-me nenhuma vez até a libertação do país. A vi uma vez logo após a libertação e outra vez depois de seu retorno à pátria. Se ela recorda que nos vimos em 1947, tem boa memória. Ela também escrevia versos muito bem. Uma vez, li uma poesia que dedicou-me.

Desejo que você venha anualmente à pátria e troque recordações comigo.

Você prometeu que voltará no próximo ano na ocasião de meu 80º aniversário, porém é aconselhável que traga também sua esposa. Seria ainda melhor se trouxe todos seus filhos e filhas.

Sua esposa pensou que visitando esta vez a pátria poderia ver seu irmão, o senhor Ri Yu Song, porém infelizmente ele faleceu. Segundo me informaram, além de ter uma idade avançada, padecia de cirrose hepática, razão pela qual nenhuma medida pôde salvá-lo. Um artista compatriota residente nos EUA que participou neste ano no Festival Artístico de Amizade Abril em Primavera, visitou sua casa e o encontrou em estado letárgico. Se diz que é difícil curar a cirrose hepática até com a medicina moderna.

Embora o senhor Ri Yu Song tenha falecido, ficam seus méritos na educação da jovem geração. Depois de alistar-se ao Exército Popular no período da Guerra de Libertação da Pátria, seguiu o Conjunto Artístico do Exército Popular da Coreia onde quer que nosso Partido estivesse. Trabalhando como professor durante muitos anos no Instituto Superior de Música e Dança de Pyongyang, preparou numerosos artistas de talento. Por ter cumprido de modo irretocável com seu dever revolucionário, desfrutou do afeto do  Partido e do povo. Você expressou que a viúva de Ri Yu Song rogou-lhe que me transmitisse suas saudações quando me visse; ela também foi uma excelente artista.

Você diz que me considera como seu irmão mais velho, pois lhe aconselho que celebre seu aniversário de 80 anos aqui, na pátria. Sei que sua data de nascimento é 11 de agosto, e nesse tempo qui faz uma temporada muito agradável e por esses dias se celebra também a festa de 15 de agosto. Quando vier, lhe prepararei expressamente a mesa comemorativa aos seus 80 anos com o sentimento de felicitar meu irmão mais novo. Seria proveitoso que nesse oportunidade descanse com plenitude, passando um tempo de pesca também.

Quando por sua idade avançada, custe-lhe trabalho visitar a pátria todos os anos, poderia estabelecer-se aqui definitivamente. Seria conveniente que se repatriasse e vivesse junto conosco. Como já estou em idade avançada, encarreguei ao camarada Kim Jong Il o grosso dos assuntos do Partido e do Estado e consultando com ele atendo somente a assuntos de grande importância; me ocupo muito mais com atividades exteriores. Há quem me diga que posso viver mais de cem anos porque desfruto de boa saúde. Também, ao meu ver, poderei trabalhar mais uns 10 anos.

Você é dois anos mais novo, porém seu cabelo já está todo branco. Parece que os membros de sua família os tem mais cedo que outros. Eu também tenho bastante cabelos brancos.
 
Originalmente, em minha família não era assim, exceto em meu caso.

Me alegrarei se vierem a filha e o genro de Ri Yu Song na ocasião de meus 80 anos. Temos que convidar toda sua família. Que também venha aquele doutor de medicina residente nos EUA que manifestou seu desejo de visitar nosso país. Nos EUA já não se controla os coreanos que visitam sua terra-natal, e por isso há oportunidade para que venha aqui todos que queiram. Sempre daremos boas-vindas ao compatriotas residentes nos EUA.

Espero que transmita minha saudação a Son In Sil se você vê-la. Já está idosa, com seus 74 anos.

Agradeço-lhe por ter cantado a canção Nostalgia. Como recordação deste encontro de profunda significância, lhe preparei como presente um relógio de pulso com meu nome gravado. Há outros presentes, porém eu mesmo colocarei este relógio em seu pulso. Estes presentes são tanto para você como para sua esposa, para que me consideram seu eterno amigo e não me esqueçam.

Rogo-lhe que após regressar me escreva com frequência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário