Memorando do Instituto de Estudos Estadunidenses do Ministério das Relações Exteriores da República Popular Democrática da Coreia
Recentemente, os Estados Unidos vêm promovendo de forma gananciosa o plano do sistema de defesa antimísseis denominado “Golden Dome”, que, longe de corresponder ao nome de “defesa”, tem causado grande preocupação na comunidade internacional por sua natureza hegemonista e ofensiva.
O “Golden Dome”, apresentado como um sistema de defesa antimísseis destinado a proteger hermeticamente o continente estadunidense contra ataques de mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e mísseis hipersônicos de seus principais rivais estratégicos, é, na realidade, um típico produto da doutrina "América Primeiro”, expressão máxima do egoísmo, arrogância, autoritarismo e arbitrariedade.
Esse plano não é uma “medida de defesa” contra supostas “ameaças”, mas sim um roteiro de guerra nuclear espacial que visa apoiar a estratégia de dominação unipolar dos EUA mediante a construção antecipada de uma infraestrutura militar baseada no espaço.
O Instituto de Estudos Estadunidenses do Ministério das Relações Exteriores da República Popular Democrática da Coreia publica este memorando com o objetivo de informar a comunidade internacional de que a nova construção do sistema de defesa antimísseis dos Estados Unidos é, de fato, uma iniciativa extremamente perigosa de “provocação e intimidação”, que visa ameaçar a segurança estratégica das potências nucleares hostilizadas por Washington e facilitar ainda mais o uso ofensivo do poder militar estadunidense.
1. Sistema de armamento ofensivo voltado para ataques preventivos contra Estados soberanos.
Desde muito tempo, os Estados Unidos definiram o espaço como o campo de batalha do futuro, declarando abertamente que quem dominar o espaço vencerá as guerras vindouras, e, assim, têm se empenhado de forma frenética na militarização espacial.
Desde a chamada “Iniciativa de Defesa Estratégica”, idealizada pelo governo Reagan nos anos 1980 sob o pretexto de enfrentar a ameaça nuclear da União Soviética, passando pela “Iniciativa de Defesa Global contra Ataques Limitados” proposta pelo governo Bush pai, pela tentativa de implantação do “Sistema Nacional de Defesa contra Mísseis” (NMD) durante o governo Clinton, até os esforços do governo Bush filho para estabelecer o “Sistema de Defesa contra Mísseis de Fase Intermediária Baseado em Terra” (GMD), os chamados “planos” e “iniciativas” dos EUA vêm sendo promovidos continuamente, com constantes reformulações, e sempre com o verdadeiro objetivo de estabelecer um domínio militar preventivo sobre o espaço.
O atual plano “Golden Dome”, apresentado pela administração estadunidense em exercício, nada mais é que mais uma tentativa de militarização do espaço derivada dessas estratégias de dominação espacial do passado, e representa um retrato fiel do histórico criminoso dos EUA, que têm mergulhado o mundo em pesadelos de uma guerra nuclear.
Os EUA sempre alegaram que a interceptação perfeita de mísseis nucleares inimigos dirigidos ao território continental só seria possível com a introdução de sistemas de interceptação baseados no espaço, e com isso têm tentado justificar sua militarização espacial. Sob o pretexto de proteger seu território, têm se empenhado febrilmente na construção de sistemas de defesa antimísseis voltados contra países soberanos e independentes, como o nosso país.
Como resultado dessa corrida, em 2004 os EUA começaram a instalar mísseis interceptadores baseados em terra nos estados do Alasca e da Califórnia, e atualmente operam um sistema GMD composto por 44 mísseis interceptadores.
Os EUA, atualmente, estão realizando melhorias e prolongamento da vida útil desses mísseis até o ano de 2028, quando pretendem implementar uma nova geração de meios de interceptação.
A questão essencial é que esse chamado sistema de “defesa” de mísseis pode ser facilmente convertido em um sistema de “ataque”, capaz de lançar mísseis ofensivos a qualquer momento.
Já é um segredo revelado que a verdadeira intenção por trás da insistente tentativa dos EUA de implantar sistemas de defesa antimísseis na Europa Oriental — sob o pretexto da “ameaça” de mísseis iranianos — era posicionar plataformas de lançamento de mísseis do tipo “MK-41”, que podem ser convertidas para uso ofensivo, próximas à fronteira com a Rússia.
Desde o século passado, os EUA já haviam elaborado planos para uma “guerra nas estrelas”, partindo do pressuposto de que combates contra satélites inimigos em órbita seriam inevitáveis. Para isso, investiram no desenvolvimento de meios de guerra espacial, incluindo satélites interceptores, e até tentaram desenvolver bombas nucleares em órbita, capazes de circular na órbita terrestre e realizar ataques nucleares contra países inimigos a qualquer momento.
Esses precedentes não passam de exemplos parciais das tentativas criminosas dos Estados Unidos de transformar o espaço em campo de batalha e de militarizá-lo sob o pretexto da “defesa antimísseis”.
A razão pela qual os Estados Unidos continuam, até hoje, lançando absurdas acusações invertendo vítimas e agressores, e procuram fixar a suposta “ameaça” por parte de países soberanos como justificativa para a modernização de seus sistemas de defesa antimísseis, não está em outro lugar.
O verdadeiro objetivo da estratégia militar dos EUA — e o propósito fundamental do plano “Golden Dome” que a atual administração coloca como prioridade máxima — é justamente justificar seu reforço armamentista espacial voltado para a hegemonia, acelerar a militarização do espaço sob o disfarce de “defesa do território continental”, assegurar antecipadamente a superioridade militar em todas as direções e esferas, e, com base nisso, lançar ofensivas militares contra seus rivais estratégicos sempre que desejarem.
2. Fator maligno que intensifica a corrida armamentista estratégica em escala global e acelera o perigo potencial de uma guerra espacial
O plano dos Estados Unidos para o estabelecimento de um novo sistema de defesa antimísseis constitui uma fonte de instabilidade que não apenas provoca preocupações de segurança entre os países dotados de armas nucleares e estimula uma corrida armamentista nuclear e espacial em escala global, como também transforma o espaço numa potencial arena de guerra nuclear.
É fato amplamente reconhecido que a implementação forçada desse novo sistema de defesa antimísseis por parte dos EUA abalará a estabilidade estratégica global e acelerará a corrida armamentista, sendo igualmente evidente que o espaço — patrimônio comum da humanidade — está a cada momento sendo transformado em campo de batalha devido às imprudentes manobras de militarização espacial dos Estados Unidos.
Recentemente, uma empresa espacial estadunidense anunciou planos para projetar um tipo de veículo orbital — referido pela Força Espacial dos EUA como um "porta-aviões espacial" — e declarou que investirá 60 milhões de dólares nesse projeto. A crescente apreensão internacional de que o surgimento de um "porta-aviões espacial" possa se tornar um catalisador para o agravamento da confrontação militar no espaço é uma prova representativa das consequências catastróficas que as ações de militarização espacial dos EUA podem acarretar.
Outro exemplo das iniciativas de militarização espacial dos EUA é o desenvolvimento do veículo espacial não tripulado "X-37B", promovido pela Força Espacial estadunidense. Esse veículo pode atingir velocidades de até 8.500 m/s, ou seja, 25 vezes a velocidade do som, e tem capacidade para permanecer em órbita por mais de dois anos sem reabastecimento. Na sétima missão espacial recente, o "X-37B" registrou o tempo mais longo de permanência orbital, totalizando 908 dias.
Isso significa que o "X-37B" pode realizar bombardeios e missões de reconhecimento estratégico em qualquer lugar do planeta em menos de duas horas e, ao mesmo tempo, permanecer em órbita por períodos prolongados, funcionando como uma arma principal para neutralizar os veículos espaciais de países adversários.
O aparecimento do "X-37B" é um elemento perturbador que leva a humanidade a imaginar a possibilidade concreta de uma guerra espacial, antes tida como mero produto da ficção científica. Não é por acaso que muitos especialistas em assuntos espaciais avaliam que a ameaça representada pelo "X-37B" não fica atrás da das armas nucleares.
As manobras de militarização espacial dos EUA estão provocando críticas e preocupações por parte da comunidade internacional. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China expressou séria apreensão ao afirmar que o plano de construção do sistema de defesa antimísseis “Golden Dome”, de forte caráter ofensivo, agravará o risco de transformação do espaço em campo de batalha e de uma corrida armamentista, além de abalar a segurança internacional e os regimes de desarmamento. Especialistas em assuntos internacionais advertiram que a implantação de mísseis dos EUA no espaço sob o plano “Golden Dome” equivaleria à abertura de uma “Caixa de Pandora”.
Todos os fatos comprovam que as manobras de militarização espacial dos Estados Unidos, voltadas para a dominação do espaço, representam um ato extremamente perigoso que contradiz os desejos da comunidade internacional pela utilização pacífica do espaço e atuam como um catalisador para o confronto e a colisão militar.
3. Uma aposta militar que coloca em risco a segurança dos países aliados.
Os Estados Unidos, já há bastante tempo, dedicaram muitos esforços diplomáticos, de segurança e tecnológicos para estabelecer na região da Ásia-Pacífico um sistema integrado de defesa antimísseis sob sua liderança.
Desde 2016, os EUA, junto com Japão e República da Coreia, vêm realizando diversos exercícios de interceptação de mísseis, incluindo treinamentos de alerta antimísseis, exercícios conjuntos de defesa antimísseis balísticos e treinamentos de defesa antimísseis navais, mobilizando destróieres Aegis e drones de última geração.
Em dezembro de 2022, os EUA instalaram uma unidade espacial na República da Coreia e, em dezembro de 2024, inauguraram a força espacial estadunidense sediada na base aérea Yokota, no Japão. Em dezembro de 2023, foi ativado o sistema formal de compartilhamento em tempo real de informações antimísseis entre EUA, Japão e República da Coreia, que mira especificamente os lançamentos de mísseis do nosso país.
Esses fatos demonstram claramente que os EUA, sob o pretexto de alguma “ameaça”, estão se apressando em consolidar a cooperação militar tripartida entre EUA, Japão e República da Coreia, estabelecendo a base para o sistema integrado de defesa antimísseis.
Essa iniciativa segue firme mesmo após a posse da atual administração estadunidense. Um especialista militar dos EUA avaliou que a orientação da administração para reforçar os sistemas antimísseis das tropas estadunidenses avançadas e aliados indica a continuidade do esforço para construir o sistema integrado.
Instituições de pesquisa política estadunidenses também defendem que EUA e República da Coreia formem um grupo consultivo para desenvolver em conjunto a próxima geração do sistema antimísseis “Golden Dome”, reforçando o sistema antimísseis da RC e alinhando-o com o plano estadunidense do “Golden Dome”.
O objetivo dos EUA em continuar construindo este sistema integrado com Japão e República da Coreia é claro.
No passado, os EUA não esconderam que a implantação do sistema de defesa de alta altitude “THAAD” na República da Coreia permitiria controlar detalhadamente toda a Península Coreana e as regiões profundas dos países considerados inimigos estratégicos na região.
Além disso, os EUA vêm promovendo a ideia de que a integração dos sistemas antimísseis é a melhor forma de responder às crescentes ameaças na região, afirmando que isso proporcionará aos aliados capacidades múltiplas para responder a todos os tipos de ameaças de mísseis, desde curto a longo alcance, pressionando assim os países seguidores da região a se incorporarem aos sistemas antimísseis dos EUA.
Por trás disso, ao construir um sistema integrado de defesa antimísseis com seus países seguidores, os Estados Unidos buscam aprofundar ainda mais a subordinação militar desses países a si mesmos, além de usar facilmente as forças militares desses seguidores nas operações militares estadunidenses caso sejam lançadas ações ofensivas contra países da região.
Considerando a natureza agressiva do sistema antimísseis dos EUA, é evidente que, uma vez estabelecido o sistema integrado, os territórios dos países envolvidos podem ser usados como bases militares de lançamento para atacar países que estejam em conflito com os EUA, o que pode desencadear represálias militares.
Esses fatos demonstram que a construção do sistema integrado de defesa antimísseis dos EUA é uma jogada militar extremamente arriscada e egoísta, originada da insensibilidade e do interesse bruto da potência dominante, que está disposta a apostar a segurança dos países seguidores para realizar seus próprios objetivos, usando-os como “buchas de canhão” e “escudos humanos”.
4. Meio para garantir lucros constantes aos monopólios militares dos EUA
De acordo com dados divulgados, os Estados Unidos desperdiçaram nada menos que 400 bilhões de dólares no plano de modernização do sistema de defesa antimísseis ao longo das últimas décadas.
O fato de que, mesmo após o fim da Guerra Fria, continuaram sendo gastos cerca de 32 bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento para a concretização do plano "Guerra nas Estrelas", iniciado nos anos 1980, demonstra que os esforços dos EUA para estabelecer um sistema de defesa antimísseis vêm sendo promovidos com determinação, independentemente da Guerra Fria, com o objetivo final de implementar sua estratégia de dominação mundial.
Atualmente, os gastos militares dos EUA no setor espacial são três vezes maiores que os gastos civis em desenvolvimento espacial, correspondendo a 95% do total das despesas espaciais de todos os países do mundo.
É de conhecimento geral que, historicamente, os enormes gastos militares pagos com os impostos do povo estadunidense têm fluído diretamente para os bolsos dos monopólios militares ligados ao Departamento de Defesa dos EUA.
Segundo revelou um meio de comunicação estadunidense, o estabelecimento do sistema de defesa antimísseis "Golden Dome" exigirá um valor astronômico estimado em 2,5 trilhões de dólares, e somente para o estabelecimento de um sistema de bloqueio espacial voltado a países específicos serão necessários 650 satélites artificiais e cerca de 300 bilhões de dólares.
Embora a atual administração dos EUA afirme que serão necessários apenas 175 bilhões de dólares para estabelecer o sistema de defesa antimísseis "Golden Dome", o fato de que recentemente o Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA anunciou que os custos para a construção de um sistema de interceptação de mísseis baseado no espaço podem chegar a 542 bilhões de dólares sugere que o plano "Golden Dome" representa o maior aumento de gastos militares da história.
Não há dúvida de que os maiores beneficiários financeiros da construção do dispendioso sistema de defesa antimísseis "Golden Dome" serão as grandes empresas militares e espaciais dos Estados Unidos.
Empresas militares monopolistas dos EUA como Boeing, Lockheed Martin, Raytheon, Northrop Grumman e RTX, profundamente entrelaçadas com o cenário político estadunidense, exercem grande influência na formulação de políticas dos EUA por meio de vultuosas doações financeiras, o que retorna como uma "galinha dos ovos de ouro", elevando sistematicamente os lucros financeiros desses monopólios.
Recentemente, têm surgido avaliações de que, com o avanço do plano "Golden Dome" pelas Forças Espaciais dos EUA, a empresa privada de exploração espacial SpaceX, que praticamente domina o mercado de lançamentos de satélites, se tornará a maior beneficiária, o que não é coincidência.
Este é um exemplo comum do "conluio entre política e negócios" em Washington, comprovando que o sistema de defesa antimísseis "Golden Dome" que os EUA promovem não visa cobrir o país com um "domo dourado", mas sim despejar uma "chuva de ouro" sobre os monopólios da indústria militar.
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Hoje em dia, a doutrina "América Primeiro", que se estende até o espaço sideral, abala os fundamentos de uma ordem internacional justa, mergulhando ainda mais o mundo inteiro nas profundezas de uma corrida armamentista.
O ambiente de segurança global, que se torna cada vez mais incerto a cada momento devido aos crescentes movimentos de militarização espacial dos EUA, demonstra que apenas uma força simétrica e inigualável, capaz de conter com firmeza os desafios do presente e do futuro, pode garantir de maneira confiável a segurança nacional e regional.
Nós nos opomos firmemente à intenção criminosa dos Estados Unidos de usar o espaço sideral — patrimônio comum da humanidade — para fins hegemônicos, e continuaremos a exercer nosso direito soberano de defender os interesses estratégicos de segurança nacional e de garantir a paz e a segurança regionais, em resposta a todas as ameaças hostis externas que se intensificam em todos os domínios.
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