segunda-feira, 12 de março de 2018

Shang Yue, o professor de Kim Il Sung


Shang Yue, foi um historiador, autor e professor de economia marxista chinesa na Escola de História da Universidade Renmin da China. Antes de se tornar um historiador, ele também escreveu ficção.

 Ele ensinou literatura e filologia para Kim Il Sung por um curto período de tempo na Escola Secundária Yuwen na Manchúria. Na China, ele é conhecido principalmente por seu trabalho sobre a ideia dos "brotos do capitalismo": que o proto-capitalismo e a luta de classes existiram na história chinesa anterior. Devido à agitação da Revolução Cultural da China foi purgado em 1958, pois possuía ideias sobre a história econômica chinesa que entravam em conflito com as de Mao Zedong. Depois de sua purga, ele continuou a trabalhar na história de forma secreta, mas ficou fora dos trabalhos públicos até a morte de Mao em 1976. Seu trabalho também produziu um efeito duradouro na historiografia nacionalista coreana.

Shang se inscreveu na faculdade de inglês da Universidade de Pequim em 1921 e deixou a instituição em 1926. Em 1928, Shang trabalhou na escola privada secundária de Yuwen como professor. Lá ensinou ao futuro líder da Coreia, Kim Il Sung, durante seis meses em 1928. Na época, Shang era membro do ramo da Manchuria do Partido Comunista Chinês.

Até 1939, Shang trabalhou como editor em uma série de jornais revolucionários. Shang Yue tornou-se professor da Universidade Renmin depois de 1949.  Ele foi um dos historiadores da China Continental que contribuiu para a ideia dos "brotos do capitalismo", descrevendo características das economias do falecido Ming e dinastias anteriores de Qing. Seu trabalho foi publicado em dois volumes denominados "Ensaios sobre o debate sobre os brotos do capitalismo na China". A sua obra "Esboço da história chinesa" (1954) tornou-se um livro de texto amplamente utilizado.

A teoria do capitalismo de Shang Yue na China ganhou amplo apoio até pelo menos a campanha anti-direitista de 1957. A teoria de Shang contradiz a ideia de Mao Zedong de que o capitalismo nacional na China não existia antes, mas que poderia eventualmente se desenvolver sozinho na China. Ele foi expulso em 1958, no entanto, mesmo no início da década de 1960, uma obra aprovada oficialmente pelo historiador Jian Bozan reiterou os argumentos de Shang. A influência de Shang finalmente diminuiu durante a Revolução Cultural,  durante a qual ele sofreu muito. Ele continuou a escrever sobre a história, mas permaneceu fora de público até a morte de Mao em 1976.

O argumento central da ideia de Shang Yue sobre os "brotos do capitalismo" é que o proto-capitalismo existia no final de Ming e Qing China, no início do século XVI até o século XVII, como evidenciado por grandes quantidades de produtos de fábrica que entraram nos mercados metropolitanos. Ele pensou que uma grande quantidade de fábricas implicava na existência de classes proletárias e burguesas e de uma economia de commodities. Para ele, a existência de uma classe burguesa era um pré-requisito para a formação da nação chinesa. Ele argumentou que o atraso no desenvolvimento do capitalismo chinês foi causado pelas conquistas mongóis e manchus da China.


Algumas passagens sobre Shang Yue, em "Memórias-No transcurso do século" do Presidente Kim Il Sung.

Se Pak So Sim me convidou a ler “O capital”, o professor Shang Yue me propôs ler “A mãe”, de Gorki, e “Hongloumeng”. Este ensinava letras na escola secundária Yuwen.

A notícia da chegada do novo professor, graduado na faculdade de língua inglesa, da Universidade  de Beijing, nos fez esperar por suas lições.
Por outra parte, tínhamos certa inquietude acerca se ele era agente do departamento de educação. Não poucos professores enviados por este departamento à escola secundária Yuwen, foram elementos de má conduta, subordinados pelas autoridades militaristas.

Não fazia muito tempo que Zhang Xueliang havia içado a bandeira do Kuomintang na Manchuria, por direção de Jiang Jieshi.
Suas organizações de espionagem estenderam os tentáculos desde Shenyang até Jilin. Embora os esbirros do Kuomintang não tomaram completamente em suas mãos a secundária Yuwen, vigiavam a toda hora o movimento de seus professores e estudantes muito propensos a ideias progressistas.

Por esta razão, os alunos ficaram nervosos antes da aparição do novo professor.

Shang Yue dissipou nossa dúvida com uma só lição e ganhou  popularidade. Em uma hora resumiu de modo fácil o enorme argumento de “Hongloumeng”, de 120 capítulos.

Explicou nitidamente o problema essencial referidos à abundantes pormenores da vida descrita, com eloquência provada que nos permitiu assimilar a perfeição o ponto crucial desta novela e o processo da ruína de uma patriarcal família aristocrática.

Quando terminou esta lição e saiu da sala, os estudantes se mostraram muito satisfeitos, qualificando-o como tesouro da escola.

O professor se referiu, laconicamente, ao autor da novela e dedicou muito tempo a relatar seu conteúdo. No dia seguinte, aproveitando que passeava no campo, cheguei perto dele e pedi para que me falasse em detalhes sobre esse autor, Cao Xueqin.

Confessou que não havia explicado os antecedentes do novelista por falta de tempo e considerando lógica minha solicitação, me contou sobre a vida de Cao Xueqin e sua família.

Fiz algumas pergunta mais enquanto à correlação entre a origem social do autor e do carácter classista de sua obra.

Também me deu respostas claras. Em sua opinião pessoal era certo que a origem social de um escritor influencia sobre o caráter classista de sua obra, mas não resultava no fator determinante; "o fundamental é sua concepção de mundo", me disse, e citou como exemplo Cao Xueqin.

Ressaltou que embora este havia nascido e crescido em família aristocrática que desfrutava de tratamento especial do imperador Kangxi, pôde denunciar o contexto da China feudal e a inevitabilidade de sua ruína, por ter um conceito progressista do mundo.

Naquele dia, o professor Shang Yue me animou com sua fala:

"Hoje, o estudante Song Ju (Kim Il Sung) fez muito bem em vir me procurar. Quando se tem alguma dúvida ou conhecimento ambíguos, há que pedir a ajuda do professor sem titubear. Esta é a atitude que devem ter os estudantes para a pesquisa das ciências. Façam-me muitas perguntas, sem se limitarem por tempo e lugar.  Prefiro os estudantes que perguntam muito."


Em sua estante tinha centenas de livros. Nunca vi um armário de textos tão abundante e espetacular. O professor Shang Yue tinha um tesouro nos livros. Havia muitas novelas em versões em inglês e livros biográficos.

Eu não podia para de olhar para a estante. Ler todos estes livros – pensei–equivaleria a me graduar em uma universidade; a posição do professor Shang Yue em nossa escola é uma fortuna para mim também. Com este pensamento, perguntei-lhe:

–Desculpe-me, professor, quantos anos levou para ler todos estes livros?

O professor, com rosto risonho, se acercou dos livros e disse:
–Dez anos, mais ou menos.
–Quantos anos pensa ser o necessário para ler todos?
–Três para um muito diligente e um século para um preguiçoso.
–Professor, se eu te disser que estou disposto a ler todos em três anos, me permite ter acesso livre à estante?
–Sim, mas com uma condição.
–Aceitarei qualquer condição, desde que me empreste seus livros.
–Minha exigência é que Song Ju deve ser escritor. Desde muito tempo tenho o desejo de formar um escritor que possa contribuir para a revolução proletária, e talvez Song Ju seja a pessoa certa.
–Agradeço-lhe, professor, por sua confiança em mim. Francamente, prefiro a disciplina de literatura e aspiro muito ao ofício de escritor. Depois de ser libertado o país, não se pode optar por um caminho sem literatura. Mas, professor, somos somos filhos de uma nação privada do país. Meu pai se empenhou muito para resgatá-lo e superou inúmeras dificuldades até falecer. Jurei entregar-me à luta pela independência herdando seu propósito. Este é meu supremo ideal e determinação. Lutar pela libertação nacional será minha profissão.

O professor Shang Yue, apoiado na estante, se mostrou muito sério, movendo a cabeça afirmativamente. Se aproximou de mim, colocou a mão em meu ombro e disse:

–Magnífico, Song Ju. Se seu ideal é lutar pela independência, sem outra condição ponho a sua disposição esta estante completa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário