quarta-feira, 21 de março de 2018

Kennedy e Park - Financiamento da ditadura da Coreia do Sul



Após a Guerra da Coreia promovida pelos Estados Unidos, que mantiveram suas bases militares na Coreia do Sul e caminharam sempre em direção à novos conflitos armados e se opunham à acordos de paz, o regime fantoche de Syngman Rhee se encontra em ruínas e em contradições severas que faziam mesmo antigos aliados a se colocarem contra ele.

A Coreia do Sul desde a entrada dos Estados Unidos em setembro de 1945 passou a ser controlada diretamente pelo governo dos Estados Unidos que estabeleceu seu escritório militar e formou um regime fantoche com o traidor Syngman Rhee (Ri Sin Man) como liderança incontestável e durante esse período governou através de decretos diretos dos EUA e posteriormente controlou todas as ações de Rhee como "chefe de Estado" da então República da Coreia fundada em 15 de agosto de 1948.

A repressão era a característica principal do governo de Rhee que matou milhares de patriotas e outros opositores ao seu regime fratricida. Isso faria em um momento ou outro surgirem revoltas que balançariam o governo e assim foi, mas na ponta das armas da opressão da polícia fantoche e dos imperialistas estadunidenses, foram contidas por um bom tempo.

Rhee considerava a "Marcha para o Norte" como sua salvação que traria prosperidade ao país, acreditando em vitória certeira de seu exército fantoche em operação conjunta com os combatentes dos EUA que se vangloriavam de serem os mais fortes do mundo. Para isso, a maior parte dos investimentos foram enviados ao setor bélico, enquanto a indústria, a agricultura e outros setores de extrema importância a serem desenvolvidos foram deixados de lado pois tratava-se de um governo que só trabalhava para um punhado de traidores e não para o povo que vivia na miséria.

Além disso, ao tomar a Coreia do Sul, os Estados Unidos submeteu a economia sul coreana à economia dos EUA de forma que de forma barata retirava vários tipos de recurso à preço baixíssimo, deteriorando a situação de sua colônia. Seus auxílios, com exceção ao período próximo ao início e no decorrer da Guerra da Coreia, foram somente voltados ao setor militar e à defesa em geral da Coreia do Sul.

O governo de Truman e posteriormente o de Eisenhower, acreditava que a economia sul coreana, assim como a dos EUA se salvariam com uma "vitória" na Guerra da Coreia, mas não foi o que aconteceu, e a situação econômica difícil que piorava com a intenção de Rhee seguir investindo no setor de defesa e pedir diretamente ao Congresso dos EUA para iniciar uma nova guerra, bem como a crise política que vivia o regime sul coreano levaram ao Levante de 19 de Abril e pouco depois à queda de Rhee.

O povo sul coreano almejava paz e se sentia ao menos um pouco vitorioso por haver derrubado o ditador e sonhava com a eleição de um representante escolhido pelo próprio povo e que representasse ao menos um pouco, os anseios do povo. Nesse sentido, o povo sul coreano confiou em Yun Bo Son do Partido Democrata nas eleições de 1960, dando-lhe 82,2% dos votos. Mas um golpe de Estado orquestrado por um pró-japonês, que serviu ao exército que subjugou o povo coreano estraria todo o sonho do povo coreano.

Em 16 de maio de 1961, Park Chung Hee junto ao seu grupo de vende-pátria pró-EUA reduziu à impotência o presidente eleito Yun Bo Son encerrando assim a Segunda República da Coreia do Sul e assim instalou o "Conselho Supremo para a Reconstrução Nacional" passando a governar o país por meio da autoridade e massacrando e prendendo seus opositores políticos, repetindo o que fez o governo de Rhee. E como foi com Rhee no passado, a ditadura de Park também foi orquestrada pelos EUA.

Isso porque o governo dos EUA embora não confiasse em Syngman Rhee que mostrava-se uma figura insana que não lhe era mais útil, temia pela ascensão de um governante que tivesse o mínimo de apoio do povo pois sabia que mudou o curso de uma história por conta de seus próprios interesses quando invadiu a Coreia do Sul em 1945, impedindo que os sul coreanos pudessem seguir o caminho de uma pátria livre, democrática e progressista, e por isso temiam que de alguma forma o sul se encaminhasse para uma reunificação ou de alguma outra forma, mesmo pela agressão, o norte invadisse o sul e estabelecesse um único governo socialista, o que era uma paranoia constante da época de Guerra Fria propagada pelos EUA.

Qualquer possibilidade de perda de uma base para domínio da Ásia e posteriormente de todo o mundo seria arriscada e por isso os Estados Unidos promoveu o golpe de Estado na Coreia do Sul e promoveu investimentos para o fortalecimento do país de forma a superar o norte que era muito mais industrializado e vivia um momento de grande prosperidade graças ao glorioso Movimento Chollima após a Guerra da Coreia.

John F. Kennedy promoveu o regime de Park com investimentos com as quais Park conseguiu desenvolver a economia nacional industrializando o país e  fez crescer as empresas sul coreanas que viraram gigantescos conglomerados conhecidos hoje como "chaebols".

O regime sul coreano criou 3 agências para o desenvolvimento econômico:

- Conselho de Planejamento Econômico
- Ministério do Comércio e Indústria
- Ministério das Finanças

Tudo isso começou já em 1961 quando em 14 de novembro Park e Kennedy se encontraram em Washington e estabeleceram acordos e metas para a prosperidade da Coreia do Sul, arrasada por péssima administração e pela guerra.

Abaixo segue um documento oficial dos EUA intitulado "Declaração conjunta após discussões com o presidente da Coreia, Park Chung Hee", que relata um pouco sobre o encontro.

"O Presidente Park e o Presidente Kennedy concluíram hoje uma troca de opiniões amigável e construtiva sobre a situação atual na Coreia e do Extremo Oriente e os vários assuntos de interesse para os governos e povos da República da Coreia e dos Estados Unidos da América. O Ministro das Relações Exteriores, Choi, o secretário Rusk e outras autoridades dos dois governos participaram das conversas.

Os dois líderes reafirmaram os fortes laços de amizade tradicionalmente existentes entre os dois países e sua determinação em intensificar seus esforços comuns para o estabelecimento da paz mundial baseada na liberdade e na justiça.

O presidente analisou a situação na Coreia, que levou à revolução (golpe-chamado pelos EUA de "revolução") militar de 16 de maio e apresentou as conquistas feitas pelo governo revolucionário (golpista). Ele enfatizou os passos positivos dados pelo Governo para a reforma social e estabilidade econômica, particularmente as ações do novo governo para reformar o serviço público, racionalizar a arrecadação de impostos, abolir usura em áreas locais, aumentar oportunidades de emprego, estimular investimentos e expandir tanto o mercado interno quanto ao comércio exterior. Ele enfatizou também os passos positivos dados pelo governo no fortalecimento da nação contra o comunismo e na eliminação da corrupção e outros males sociais.

O Presidente dá as boas-vindas ao Presidente Park sobre a situação atual na República da Coreia e expressa sua satisfação com as muitas indicações de progresso feitas pelo novo governo da República.

O Presidente reiterou a promessa solene do governo revolucionário (golpista) de devolver o governo ao controle civil no verão de 1963, como declarou na declaração feita em 12 de agosto de 1961. O Presidente expressou particularmente sua satisfação com a intenção do governo coreano de restaurar o governo civil o mais rapidamente possível.

Os dois líderes discutiram a posição da Coreia na manutenção da paz e da segurança no Extremo Oriente e, nesse contexto, revisaram a contribuição contínua da assistência econômica e militar dos Estados Unidos ao fortalecimento da nação coreana. Reconhecendo que a realização bem-sucedida do desenvolvimento econômico da Coreia de acordo com um plano de longo alcance é indispensável para construir uma base democrática e manter uma forte postura anticomunista na Coreia, o Presidente expressou grande interesse no Projeto Quinquenal de Desenvolvimento Econômico da Coreia. A este respeito, assegurou ao Presidente que o Governo dos Estados Unidos continuará a estender toda a ajuda e cooperação econômica possível à República da Coreia, a fim de promover um desenvolvimento econômico muito longo.

Os presidentes discutiram o problema da defesa mútua contra a ameaça de agressão armada externa na área do Pacífico. Eles reconheceram que o interesse comum de seus dois países como baluartes da expansão do Mundo Livre contra o Comunismo é aprofundado e reforçado pelo fato de que as tropas da Coreia e dos Estados Unidos são irmãs de armas, lado a lado com o Comando das Nações Unidas para o defesa do solo coreano. O Presidente reafirmou a determinação dos Estados Unidos de prestar imediatamente e efetivamente toda a assistência possível à República da Coreia, em conformidade com o Tratado de Defesa Mútua entre a República da Coreia e os Estados Unidos da América, assinado em 1º de outubro de 1953, incluindo o uso de forças armadas, se houver uma renovação de ataque armado.

Os dois líderes lembraram que a Coreia foi defendida com sucesso contra a agressão armada pelas primeiras medidas militares coletivas de acordo com o chamado das Nações Unidas. Eles recordaram as declarações dos membros das Nações Unidas cujas forças militares participaram da ação coreana, incluindo a afirmação de que, no interesse da paz mundial, "se houver uma renovação do ataque armado, desafiando novamente os princípios das Nações Unidas, nós novamente nos uniremos e estaremos prontos para resistir ". Os presidentes reafirmaram sua fé nas Nações Unidas e a determinação em buscar a unificação da Coreia com liberdade por meios pacíficos sob os princípios estabelecidos e reafirmados pela Assembléia Geral das Nações Unidas.

O Presidente Park e o Presidente Kennedy expressaram sua profunda satisfação por suas reuniões e discussões e reiteraram sua determinação de continuar a servir à causa da liberdade e da democracia e fortalecer os laços amistosos entre seus dois povos."


O texto acima exemplifica bastante o que foi o governo de Park sobre apoio de Kennedy. O poder ficou nas mãos de Park até ser assassinado - algo que coincidentemente também aconteceu com o estadunidense - com eleições fraudulentas sendo organizadas como "prova" de que não se tratava de uma ditadura. Sob os investimentos dos EUA e um governo que soube bem administrar a economia, a Coreia do Sul conquistou significativos progressos que se devem majoritariamente à intenção do governo estadunidense de fortalecer a Coreia do Sul para ultrapassar o desenvolvimento do norte.

Mas isso também não significou que o povo sul coreano em grande maioria pode usufruir dessa prosperidade. Foram anos de muita luta por liberdade sempre duramente reprimidas e os interesses da classe dominante. 

Após o regime Park o povo sul coreano ainda travou uma luta intensa por democracia, passando ainda por regimes ditatoriais, com destaque para o de Chun Doo Hwan e só alcançaria sua democracia aos moldes estadunidenses em 1987.

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