O anticomunismo é um elemento presente na Coreia desde a época da dominação colonial do imperialismo japonês. Os invasores imperialistas, que subjugaram a Coreia e oprimiram seu povo durante quatro décadas, espalhavam boatos de que os comunistas eram bandidos, a fim de manter a população afastada desses elementos “subversivos” à ordem vigente.
Com o estabelecimento da República da Coreia, colônia estadunidense e ponto de partida para a guerra de agressão contra a República Popular Democrática da Coreia, essa ideologia foi firmemente enraizada em todas as esferas da vida política e social, tornando-se a base de contenção diante do avanço da ideologia comunista entre as amplas massas trabalhadoras.
No cenário de crise do pós-guerra, em que o “inimigo” nortenho prosperava enquanto a velha ordem reacionária desmoronava no Sul, surgiu a figura do general pró-japonês, o colaboracionista que posava de patriota, semeando o velho anticomunismo e sua histeria característica, intensificando a perseguição política e a desinformação sobre os compatriotas. Pak Jong Hui foi a ferramenta necessária para a manutenção dos interesses do imperialismo estadunidense; seus 18 anos no poder foram essenciais para consolidar a República da Coreia como a frente principal de confronto com a RPDC.
Entretanto, nesse processo de manutenção da ditadura e de fomento ao anticomunismo, Pak Jong Hui acabou recebendo dos ultraesquerdistas da RPDC os elementos que precisava para consolidar a propaganda anticomunista na mente da população e semear ódio ao comunismo e aos compatriotas do Norte.
Promoção da revolução no interior da Coreia do Sul × incursão armada
Durante o período em que Pak Jong Hui esteve no poder na República da Coreia, o Governo da República Popular Democrática da Coreia adotou a postura de apoiar moral e materialmente a luta do povo sul-coreano para derrubar o regime ditatorial e promover a reunificação da Coreia.
Evidentemente, determinadas ações de apoio material foram conduzidas de forma secreta, sendo descobertas e reveladas posteriormente. Em especial, as organizações comunistas sul-coreanas que adotavam táticas de sabotagem e guerrilha para enfrentar as forças de repressão lacaias do imperialismo estadunidense eram vistas pelo Norte como grande esperança para libertar o Sul.
O desdobramento da situação no Vietnã — onde os Vietcongs se levantaram no Sul e contribuíram para a luta do Vietnã do Norte contra o imperialismo estadunidense e seus lacaios — acendeu a esperança de que o mesmo poderia ocorrer na Coreia do Sul. Porém, por uma série de fatores, as coisas não ocorreram como o esperado.
Embora os guerrilheiros sul-coreanos tenham lutado bravamente e causado danos ao regime ditatorial de Pak Jong Hui, grande parte deles acabou executada antes de alcançar seus objetivos.
O que ajudou na contenção do avanço do comunismo entre as amplas massas do povo sul-coreano foi justamente o anticomunismo centrado nas ações ultraesquerdistas de elementos ligados à RPDC.
As ações da Unidade 124 (1966–1968) do Exército Popular da Coreia, como braço de apoio aos guerrilheiros sul-coreanos, terminaram causando danos irreparáveis à imagem do Norte entre a população sul-coreana.
Na dualidade entre não promover abertamente incursões armadas no interior da República da Coreia e apoiar a luta guerrilheira dos sul-coreanos, o Governo socialista da Coreia encontrou-se em uma situação extremamente problemática.
Entre 30 de outubro e 26 de dezembro de 1968, membros da Unidade 124 infiltraram-se no território sul-coreano com o objetivo de apoiar a luta dos guerrilheiros e difundir os ideais comunistas entre a população local.
O resultado, porém, foi o contrário. Devido a ações ultraesquerdistas — incluindo assassinato de inocentes, destruição e roubo de propriedades — abriu-se um amplo espaço para a propaganda anticomunista. Naturalmente, tudo foi amplificado e a história cuidadosamente roteirizada para atender aos objetivos do regime.
Na época, a mídia norte-coreana reportava abertamente os avanços dos guerrilheiros sul-coreanos nas regiões de Uljin e Samchok, sem mencionar participação norte-coreana. Eles impuseram danos às forças de repressão em batalhas longas e severas; porém, especialmente no caso do assassinato da família de Ri Sung Bok — o menino que teria sido morto após dizer que odiava o comunismo, segundo a versão da época — a visão negativa em relação ao Norte intensificou-se.
Já no início de 1968, com o incidente da invasão da Chongwadae por membros da mesma unidade, com o objetivo de assassinar o ditador Pak Jong Hui, a imagem de um “Norte agressor” ganhou força na sociedade sul-coreana. Naquela ocasião, apenas um conseguiu fugir com vida, um desertou e o restante morreu ou cometeu suicídio. Dados detalhados nunca foram revelados, e o que se tem até hoje são inúmeros questionamentos. Kim Shin Jo, o desertor, serviu de marionete nas mãos do regime, converteu-se ao cristianismo e faleceu em abril de 2025, aos 82 anos. Sua imagem foi essencial para a propaganda anticomunista sul-coreana.
O governo da República da Coreia difundiu amplamente a história do menino Ri Sung Bok nos veículos de comunicação e em materiais escolares, e construiu monumentos em sua memória em várias localidades. Certa vez, por questionar a veracidade do caso, um jornalista chegou a ser processado judicialmente.
O fato é que, embora tudo tenha sido amplificado para justificar a postura do regime de Pak Jong Hui em relação ao Norte e fomentar a histeria sobre uma possível invasão em larga escala, o envolvimento de guerrilheiros sul-coreanos e militares norte-coreanos em episódios nocivos foi real.
Contudo, posteriormente foi revelado que tais atos ultraesquerdistas foram produto de elementos faccionistas no interior de órgãos estatais, partidistas e militares da RPDC.
Durante o encontro entre o líder norte-coreano Kim Il Sung e Ri Hu Rak, chefe da inteligência sul-coreana, em Pyongyang, em maio de 1972, Kim Il Sung esclareceu que tais ações foram promovidas inteiramente por elementos ultraesquerdistas e não refletiam a intenção do Governo, do Partido ou do líder da RPDC. Kim Il Sung afirmou ainda ter removido todos os responsáveis de seus cargos, para que respondessem por suas ações. Isso pode ser conferido no Arquivo do Ministério das Relações Exteriores da República da Coreia: “Conversa com Kim Il Sung”, 4 de maio de 1972, obtida para o Projeto de Documentação Internacional da Coreia do Norte por Shin Jong Dae e traduzida por Song Ji Hei. Esse foi o primeiro encontro intercoreano visando à melhoria das relações e a uma futura reunificação — porém, como é consabido, as coisas não avançaram conforme o esperado.
O Governo da RPDC seguiu apoiando a luta do povo sul-coreano por democracia e reunificação. Ao mesmo tempo, os guerrilheiros sul-coreanos, enfraquecidos pelo recrudescimento da opressão e pelo fortalecimento do anticomunismo, ainda mantinham a simpatia e o suporte do Norte. Por outro lado, a República da Coreia manteve o regime ditatorial até o limite, culminando com a morte de Pak Jong Hui por um elemento de seu próprio círculo, e com a imposição de novos governantes ditatoriais até a chamada “democratização”.
Esses episódios ensinam que ações ultraesquerdistas podem ser o alimento necessário para o crescimento do anticomunismo. Sendo assim, a luta contra esses desvios deve ser firme e constante, pois, caso contrário, tudo pode ser colocado a perder.

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