sábado, 18 de janeiro de 2025

Quem foi Pak Hon Yong?


Pak Hon Yong, considerado uma figura "proeminente" no movimento comunista da Coreia durante a primeira metade do século XX, tendo participando na luta revolucionária, teve seu nome manchado na história por seu ato contrarrevolucionário.

Conhecer a história de Pak Hon Yong é fundamental para compreender que, mesmo alguém que no passado teve um papel destacado na construção do movimento comunista, pode degenerar-se em traidor ou mesmo nunca ter sido verdadeiramente um partidário da revolução, mas um "Cavalo de Troia" dos inimigos de classe.

Os primeiros anos e a ascensão no movimento comunista

Nascido em um família de proprietários de terras e comerciantes, em 1900, no condado de Yesan, na província de Chungchong Sul (atualmente território da República da Coreia), Pak Hon Yong teve uma infância confortável e pôde cursar seus estudos e desenvolver-se intelectualmente sem dificuldades, mesmo sob a ocupação militar do imperialismo japonês.

É relatado que seu sonho de infância era estudar nos Estados Unidos, sonho esse que acabou não sendo concretizado.

Mesmo sob a forte influência dos missionários estadunidenses, que o ensinavam inglês na "Associação Cristã de Jovens", ele passou a se interessar por autores como Nietzsche e Darwin, desenvolvendo-se como "ateu", embora alguns historiadores o definam como "anticristão"

Durante a adolescência, passou finalmente a internalizar o domínio colonial do imperialismo japonês sobre a Coreia como uma injustiça social. Porém, inicialmente, acreditava que forças estrangeiras poderiam "entregar" a independência aos coreanos.

Depois de sua tentativa fracassada de estudar no Japão, ele fugiu para a China e, por lá, "radicalizou-se", aderindo ao movimento comunista. Em março de 1921, ele ingressou na União da Juventude Comunista Coryo (고려공산청년회) e seguiu a facção Irkutsk, que defendia que a Coreia só poderia ser libertada como o apoio da Internacional Comunista e que um regime soviético deveria ser estabelecido na nova Coreia e, posteriormente, o país deveria ser parte da URSS.

Nesse período, ele começou a ganhar grande relevância no movimento comunista, sendo chamado até de "Lenin da Coreia". E foi convidado para participar de um congresso na URSS sobre o Extremo Oriente em 1922. Porém, ao regressar à Coreia, acabou sendo preso.

Depois de pouco mais de um ano preso, Pak foi convidado a trabalhar no jornal "Tonga Ilbo" e por lá fez muitas publicações de esquerda e críticas ao imperialismo japonês, levando-o a ser demitido em 1925 por pressão do governo-geral.

Em abril de 1925, participou da fundação do Partido Comunista da Coreia, porém, pouco depois foi preso e foi violentamente torturado pela polícia do imperialismo japonês. Muitos membros do Partido Comunista foram presos, levando à sua dissolução precoce.

Pak foi solto no final de 1927 sendo considerado "pessoa com doença mental" e logo mudou-se para a URSS, onde retomou suas atividades político ideológicas. Envolvido com a Internacional Comunista, foi levado a Xangai para promover suas atividades, mas acabou sendo preso novamente em 1933. E só recebeu liberdade condicional em 1937.

Mesmo depois das prisões e torturas, ele supostamente manteve-se no movimento comunista e na luta antijaponesa, afiliando-se a organizações clandestinas, sendo seu paradeiro desconhecido por muitos até a libertação da Coreia.

Atividades imediatamente após a libertação da Coreia

Com a libertação da Coreia, Pak e outras figuras tomaram como tarefa principal a reconstrução do Partido Comunista e a organização de uma frente para a fundação de um governo. Porém, devido às várias disputas políticas existentes no sul e à chegada das tropas estadunidenses, sua ideia de estabelecer um governo popular fracassou e o Partido Comunista voltou à clandestinidade.

Diz-se que inicialmente Pak Hon Yong seria contra o "sistema administração de tutela" decidido pela Conferência dos Ministros das Relações Exteriores de Moscou, mas, depois de conversar com figuras coreanas e soviéticas, mudou de ideia.

Teve participação ativa no Conselho Nacional dos Sindicatos da Coreia, organização de massas que se opôs ao regime fascista de Ri Sung Man e à opressão da administração estadunidense.

Após sua ordem de prisão ser decretada pelo governo militar fascista dos EUA na Coreia do Sul, ele desertou para o norte e, em novembro de 1946, fundou o Partido do Trabalho da Coreia do Sul.

Vale, nesse ponto, explicar que o Partido do Trabalho da Coreia origina-se da fusão entre o Partido Comunista e o Partido Neodemocrático da Coreia, no norte, sendo o Partido do Trabalho da Coreia do Sul uma filial do Partido do Trabalho no sul, sendo a filial do norte chamada Partido do Trabalho da Coreia do Norte. Anos depois, as filiais foram fundidas, sendo apenas um Partido do Trabalho, com sede em Pyongyang.

Nesse período, conduziu atividades clandestinas para agitar as massas populares da Coreia do Sul contra o regime fascista do imperialismo estadunidense, promoveu o movimento pela libertação nacional através do diálogo com diferentes figuras políticas patrióticas, buscando pela cooperação.

Também manteve constante diálogo com as autoridades soviéticas, apoiando a decisão sobre a tutela e os preparativos para a formação de um governo independente no norte.

Atividades no novo governo

Após a fundação da República Popular Democrática da Coreia, em setembro de 1948, Pak passou a ter uma posição importante interna e externamente, sendo nomeado vice-Primeiro-Ministro da RPDC e ministro das Relações Exteriores. Posteriormente também ocuparia o cargo de diretor do Departamento Político Geral do Exército Popular da Coreia.

Em 1949, foi à URSS e China junto com Kim Il Sung e outros quadros do Partido e do Governo da RPDC, encontrando-se com importantes figuras diretivas desses países e estabelecendo fortes laços de amizade e cooperação entre as partes.

Mesmo com a fundação da RPDC, continuou sendo uma figura importante na Coreia do Sul, sendo responsável por apoiar e estimular as atividades das organizações comunistas e anti-imperialistas clandestinas.

Além disso, participou de atividades de caráter político-ideológico, tendo publicado em 1947 a obra "A situação atual e nossa missão", onde explica o contexto da revolução coreana naquele momento e qual caminho deveria ser seguido pelos comunistas coreanos.

Guerra da Coreia

Com a eclosão da Guerra da Coreia em junho de 1950, a posição de Pak como liderança dos comunistas e membros do Partido do Trabalho na Coreia do Sul foi colocada em jogo.

Com a conquista de Seul dentro de 72 horas após o início da guerra, pelo Exército Popular da Coreia, esperava-se que um grande levante ocorresse, porém, não foi como o planejado. Por conta de decisões equivocadas dos comandantes militares e do cálculo equivocado de Pak sobre um grande levante popular, a operação de libertação da Coreia do Sul sofreu um revés.

Em relação a isso, Pak Hon Yong foi duramente criticado. Pouco antes do término da Guerra da Coreia, suspeitas sobre sabotagem foram levantadas. Seria apenas um erro ou algo proposital? A verdade é que, embora Pak não tenha total culpa pelo fracasso nessa missão, essa ação, em conjunto com outros movimentos, fizeram levantar-se uma suspeita sobre ele.

Foi assim que uma ampla investigação sobre ele foi conduzida minuciosamente na RPDC.

Julgamento e execução

Em março de 1953, alguns meses antes do cessar-fogo da Guerra da Coreia, Pak Hon Yong foi preso sob a acusação de ser espião dos Estados Unidos e sectério antipartidista. Com isso, obviamente, ele foi retirado de todos os cargos do Partido e do Governo.

Segundo a acusação, Pak teria formado uma facção dentro do Partido do Trabalho da Coreia e vazado informações aos Estados Unidos por ambição política. Em agosto de 1952, algumas pessoas já haviam sido presas por atos de conspiração anti-República, incluindo algumas próximas de Pak, como Ri Sung Yop.

A investigação prosseguiu e, com obtenção de evidências e depoimentos de figuras próximas dele, foi comprovado que tratava-se de fato de um espião dos EUA.

No julgamento, realizado em dezembro de 1955, após relutância em reconhecer completamente seus atos e sua posição como espião, Pak por fim assumiu ser um espião dos EUA após jogar seu óculos contra o chão, sendo esse um momento crítico do julgamento.

O documento da sentença, intitulado "Sentença de Pak Hon Yong", revela que Pak manteve contados e colaborou secretamente com figuras estadunidenses mesmo antes da libertação da Coreia e promoveu sabotagem dentro do Partido e do Governo.

Foi sentenciado à pena de morte e, alguns meses depois, executado.

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Citações de Kim Il Sung sobre Pak Hon Yong em suas reminiscências "No Transcurso do Século"

"Eu sabia sobre a faculdade em Moscou e que nossos jovens que aspiravam ao comunismo estudavam lá por recomendação do Partido Comunista da Coreia. Jo Pong Am, Pak Hon Yong, Kim Yong Bom e outros estavam frequentando a faculdade. Naqueles dias, os jovens da Manchúria tinham um desejo tão forte de estudar em Moscou que até cantavam a 'Canção de Estudo em Moscou'." (volume 2, página 131)

"Durante a Guerra da Coreia, os imperialistas estadunidenses desperdiçaram grandes quantidades de explosivos em suas tentativas de me matar. Por exemplo, quando espiões como Pak Hon Yong e Ri Sung Yop, que estavam na liderança do nosso Partido, enviaram uma mensagem de rádio para o chefe deles, informando que eu estaria indo a algum lugar em uma certa hora e data, os imperialistas estadunidenses nunca deixaram de enviar seus caças e bombardeiros para realizar bombardeios de saturação sobre mim. Embora, em algumas ocasiões, as bombas caíssem perto do Quartel-General Supremo, elas não conseguiram me atingir." (volume 6, página 41)

"Após a libertação, quando Kim Chaek era vice-primeiro-ministro e simultaneamente ministro da Indústria no Conselho de Ministros, Ho Hon serviu como o primeiro presidente da Assembleia Popular Suprema. Que estranha era a relação deles, como um homem que havia estado no banco dos réus no passado e um homem que havia falado em sua defesa se tornaram quadros veteranos de um Estado!

No dia em que foi nomeado vice-primeiro-ministro, Kim Chaek disse a Ho Hon: 'Nos dias passados, senhor, o senhor falou por mim no tribunal; agora, tem o dever de me criticar. Se eu cometer erros, seja como vice-primeiro-ministro ou como cidadão comum, por favor, me repreenda sem piedade.'

Embora de bom caráter, Ho Hon era um homem de princípios. Ele realmente teria criticado severamente Kim Chaek se este tivesse cometido erros em seu trabalho.

Mas ele não teve oportunidade de fazer isso, pois Kim Chaek não fez nada que merecesse repreensão, seja como vice-primeiro-ministro ou como cidadão comum.

Em vez disso, Pak Hon Yong sempre foi odiado por ele quando Pak era vice-primeiro-ministro. Ho Hon me aconselhou a ficar atento a Pak, aparentemente porque sentia algum pressentimento sobre ele. Nunca poderei esquecer o quanto Ho Hon chorou ao saber da morte de Kim Chaek. Ele lamentou profundamente sua morte, dizendo que meu braço direito, alguém que ninguém poderia substituir, havia falecido tão cedo." (volume 8, página 110)

"Durante a guerra, havia vários elementos contrarrevolucionários perto do Quartel-General Supremo. Informações estritamente confidenciais, que afetavam diretamente o destino do país, foram transmitidas aos estadunidenses por Pak Hon Yong e Ri Sung Yop." (volume 8, página 260)


Fontes

1. 《이정 박헌영 일대기》 ("Biografia de I Jong e Pak Hon Yong")
2. 《박헌영》 (인간사, 1983) ("Pak Hon Yong, História Humana, 1983")
3. <박헌영 평전>, 안재성 지음 (Biografia de Pak Hon Yong, escrita por An Jae Song")
4.  박헌영(해방공간의 주역) ("Pak Hon Yong - figura proeminente do período da libertação")
5.  국제선 공산주의그룹과 박헌영 ("Pak Hon Yong e o Grupo Comunista Internacional")
6. “역사속의 오늘”. 2016년 3월 5일 ("Hoje na história, 5 de março de 2016")
7. 2010.06.24 조선일보  ("Chosun Ilbo, 24 de junho de 2010")
8. 분단 50년과 통일시대의 과제(역사문제연구소 지음, 역사비평사, 1995) ("50 anos de divisão e as tarefas da era da unificação (escrito pelo Instituto de Estudos Históricos, Imprensa de História Crítica, 1995")
9. ‘左右 뿌리논쟁’ 조선일보 2003.04.22 ("Discussão sobre as raízes da esquerda e da direita" - Chosun Ilbo, 22 de abril de 2003")
10. 박헌영 판결문 ("Sentença de Pak Hon Yong")

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