sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O Minsaengdan e a Luta Anti-Minsaengdan

A história da revolução coreana na década de 1930 carrega episódios de glória, mas também de profunda dor. Entre eles, o caso do Minsaengdan ocupa lugar central, não apenas como manobra de infiltração organizada pelo imperialismo japonês, mas também como exemplo de como o sectarismo e o oportunismo internos podem infligir danos quase tão graves quanto os ataques diretos do inimigo.

O Minsaengdan — literalmente, “Associação para o Bem-Estar do Povo” — surgiu em fevereiro de 1932, sob a tutela da polícia japonesa de Jiandao. Seu nome, cuidadosamente escolhido, buscava ocultar seu verdadeiro caráter: um instrumento do aparato colonial para semear a divisão entre coreanos e chineses, minar a confiança no movimento comunista e penetrar nas fileiras revolucionárias com elementos traiçoeiros. Sob slogans como “autonomia de Jiandao para os coreanos”, o grupo atraía nacionalistas ingênuos e até alguns revolucionários inexperientes, explorando sentimentos legítimos de orgulho nacional para fins reacionários.

A liderança revolucionária coreana, atenta à ameaça, desmascarou rapidamente a organização e decretou sua dissolução formal já em abril de 1932. No entanto, o dano político não cessou aí. Os imperialistas japoneses, mestres na guerra psicológica, espalharam a suspeita de que membros do Minsaengdan haviam se infiltrado nas fileiras revolucionárias e no Partido Comunista. Essa propaganda, amplificada por elementos “de esquerda” com ambições pessoais e visão estreita, alimentou um clima de paranoia que daria origem à chamada “luta anti-Minsaengdan”.

O Desvio Ultraesquerdista e Suas Consequências

A campanha contra o Minsaengdan, que deveria ter sido conduzida com rigor investigativo e justiça revolucionária, degenerou em um movimento ultraesquerdista e punitivo. Guiados por boatos, denúncias anônimas e acusações sumárias, certos dirigentes transformaram a luta ideológica em uma verdadeira caçada política.

Em Jiandao, centenas de comunistas coreanos foram presos, torturados e executados sob a acusação de serem “elementos do Minsaengdan”. Combatentes que haviam dedicado anos à causa revolucionária viram-se repentinamente rotulados como traidores, muitas vezes sem qualquer prova. Essa linha errônea foi impulsionada por líderes como Kim Song Do e Gao Ya Fan, que usaram a luta anti-Minsaengdan como trampolim para ascensão pessoal, sacrificando a vida de camaradas em nome de um falso zelo revolucionário.

O resultado foi devastador:

Perdas humanas: quadros experientes, imprescindíveis para a luta antijaponesa, foram eliminados.

Quebra da unidade: a desconfiança corroeu os laços entre coreanos e chineses, facilitando o trabalho de propaganda do inimigo.

Retrocesso organizativo: o fortalecimento do Exército Revolucionário Popular da Coreia e a expansão do movimento sofreram atrasos consideráveis.

A tragédia foi tamanha que, mesmo após a resolução oficial do problema na Conferência de Nanhutou, em 1936, a própria palavra “Minsaengdan” passou a ser evitada, tal a profundidade das feridas deixadas. Como lembrou o grande Líder camarada Kim Il Sung, os coreanos haviam sofrido mais do que qualquer outro grupo com aquela campanha, pois a repressão interna atingiu principalmente suas fileiras.

A Virada na Linha Revolucionária

Frente a essa situação, a liderança revolucionária autêntica adotou uma política de reorientação. Kim Il Sung defendeu que a vigilância contra infiltrações deveria ser mantida, mas baseada em métodos justos: explicação, persuasão e crítica, não tortura ou execução arbitrária. A partir de meados da década de 1930, a prática de punições corporais ou tortura dentro das fileiras revolucionárias foi praticamente eliminada — um contraste absoluto com o caos do início da campanha.

Casos como o do caçador coreano injustamente acusado de ligação com o Minsaengdan, que pediu pessoalmente para encontrar Kim Il Sung e limpar seu nome, ilustram a nova postura. Ao ouvi-lo, o comandante reafirmou que “o problema do Minsaengdan já foi resolvido” e que ele poderia “retomar seu lugar na frente revolucionária com a consciência limpa”. Esse gesto não apenas recuperou um combatente valioso, mas também transmitiu a mensagem de que a revolução não abandonaria seus filhos por boatos infundados.

A Tática Imperialista e a Unidade Sino-Coreana

O episódio do Minsaengdan também expôs o alcance da estratégia japonesa para derrotar a revolução sem batalha aberta. Ao perceber que não poderia vencer militarmente o ERPC, o inimigo recorreu a métodos indiretos:

Caça à rendição — persuadindo ou forçando guerrilheiros a abandonar a luta.

Política de aldeias de internamento — concentrando populações para cortar o apoio logístico aos guerrilheiros.

Operações de terra arrasada — destruindo recursos e deslocando comunidades inteiras.

Criação de organizações-fantoche como o Minsaengdan — provocando divisões internas e minando a confiança entre coreanos e chineses.

Superar essa tática exigiu não apenas ação militar, mas também reconstrução política e ideológica. A amizade sino-coreana, gravemente abalada nos primeiros anos da campanha anti-Minsaengdan, teve de ser restaurada passo a passo, por meio de ações conjuntas contra o inimigo e pela reabilitação dos injustiçados.

Conclusão: Lições Permanentes

O caso do Minsaengdan e a luta anti-Minsaengdan ensinam que a revolução enfrenta dois tipos de inimigos: o externo, que ataca de frente, e o interno, que mina a coesão. Se o primeiro pode ser combatido com armas, o segundo só pode ser derrotado com vigilância política, disciplina ideológica e justiça imparcial.

A história mostra que erros internos, quando combinados com a intriga do inimigo, podem infligir danos profundos e duradouros. Mas também demonstra que uma liderança esclarecida e justa é capaz de corrigir desvios, restaurar a confiança e retomar o curso estratégico da revolução.

Ao preservar a integridade política, manter a unidade das massas e rejeitar tanto a complacência com o inimigo quanto o sectarismo destrutivo, a revolução coreana sobreviveu a essa crise — e saiu dela mais madura, mais consciente e mais determinada a jamais permitir que tragédias semelhantes se repetissem. 

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