sábado, 2 de agosto de 2025

Há muitos pontos duvidosos nas explicações do lado birmanês relacionadas ao incidente da explosão em Yangon, e muitos enigmas permanecem em torno de todo o caso

Artigo de uma revista japonesa

Tóquio, 7 de dezembro - Agência Central de Notícias da Coreia - A revista mensal japonesa Fukumu, na edição de janeiro de 1984, publicou um artigo intitulado “Investigando os enigmas do caso de Yangon”, contendo uma entrevista com o ex-correspondente especial do Mainichi Shimbun em Seul, Maeda Yasuhiro, e o comentarista Mizusawa, atual pesquisador.

O conteúdo da entrevista publicado na revista é o seguinte:

Moderador – No dia 9 de outubro ocorreu o incidente da explosão em Yangon, e menos de um mês depois, em 4 de novembro, o governo da Birmânia anunciou que “parece ter sido uma ação da Coreia do Norte”. No entanto, há muitos pontos questionáveis nas explicações divulgadas. Parece haver muitos enigmas ainda não resolvidos em relação ao caso como um todo, inclusive nas declarações da Birmânia. Mizusawa, como você vê a questão?

Mizusawa – O incidente de queda do avião sul-coreano em 1º de setembro, o caso de Yangon em 9 de outubro e a inspeção da linha de frente da linha de demarcação militar na Península Coreana em 13 de novembro — os acontecimentos que se sucederam nos últimos dois meses e meio no cenário asiático — não representam meras mudanças quantitativas. Eu acredito que eles carregam uma mudança qualitativa e um aumento drástico da tensão, algo que não víamos desde a Guerra da Coreia, há 33 anos.

Devemos considerar este incidente como um dos eventos que marcam a atual convulsão da Ásia.

Com base nesse entendimento, ao analisarmos mais detalhadamente o incidente, percebemos que há inúmeros enigmas que continuam sem explicação. Desde o início até hoje, este caso tem evoluído com uma série contínua de dúvidas sobre dúvidas. Por isso, eu o chamo de “a névoa negra da Ásia”.

O primeiro enigma diz respeito, acima de tudo, à cena do atentado no próprio dia da explosão. Por que Jon Tu Hwan adiou em um dia a visita programada ao mausoléu de Aung San? E por que, até mesmo no dia do atentado, ele atrasou sua chegada?

Além disso, ocorreu algo sem precedentes nas práticas diplomáticas: os ministros chegaram antecipadamente ao local e se alinharam esperando por Jon Tu Hwan. Isso não tem precedentes.

Quando Jon Tu Hwan visitou os Estados Unidos em fevereiro de 1981 e prestou homenagem em um cemitério de guerra, ele liderava a comitiva, sendo seguido pelo embaixador sul-coreano nos EUA, numa ordem protocolar.

Nas visitas a outros países, a mesma prática foi observada.

No entanto, neste caso, os ministros chegaram primeiro e se alinharam no mausoléu de Aung San, aguardando. O embaixador local, que ocupava uma posição diplomática relativamente inferior, chegou por último. Foi justamente no momento da chegada dele que a explosão ocorreu — um fato estranho.

Há também algumas dúvidas quanto ao chamado “erro de identidade” ocorrido na cerimônia fúnebre. Diz-se que o alvo pretendido era Jon Tu Hwan, mas que o embaixador, que usava óculos, foi confundido com ele por serem parecidos. Contudo, é evidente que os dois não se pareciam em nada, o que deveria ter sido percebido de imediato.

E o som da corneta não foi apenas um ou dois estalos e, depois disso, ocorreu a explosão. Diz-se que o controle remoto foi ativado simultaneamente ao som da corneta, mas será mesmo verdade? Há até informações circulando que sugerem a possibilidade de uma ilusão acústica.

Moderador – Com base no que foi dito até agora, o que Maeda pensa sobre as circunstâncias incomuns do atraso do presidente e do que ocorreu no mausoléu?

Maeda – Atualmente, a responsabilidade pelo incidente está sendo dividida entre a tese da "ação do Norte" e a de uma trama interna no Sul. O enigma, no entanto, é que, se realmente foi uma “ação do Norte”, há muitas dúvidas em relação à parte sul-coreana. Em outras palavras, quando se pensa retrospectivamente neste incidente, ele era algo que poderia ter sido evitado em 100%, e mesmo assim ocorreu de maneira muito conveniente e extremamente artificial.

Não foi uma situação em que o atentado fosse impossível de evitar com os recursos humanos e tecnológicos disponíveis. Havia uma segurança acima do normal, e mesmo assim o incidente aconteceu — isso deixa um enigma no ar.

Desde o primeiro dia, estava planejado que eles fossem diretamente do aeroporto ao mausoléu de Aung San, mas por motivos ligados a Jon Tu Hwan, a visita foi repentinamente adiada para o dia seguinte.

A justificativa foi o congestionamento no trânsito, que teria causado o atraso além do horário previsto.

O embaixador na Birmânia, apesar de sua baixa posição diplomática, participou da visita, e o som da explosão ocorreu no momento de sua chegada. Todos esses enigmas surgiram do lado sul-coreano, e são todos extremamente artificiais.

Realmente há um cheiro de manipulação vindo do lado sul-coreano, e tudo isso levanta sérias suspeitas.

E caso não tenha sido a Coreia do Sul quem instalou a bomba, ainda assim é altamente provável que ela pudesse tê-la detectado ou removido antecipadamente, usando todos os meios à sua disposição. No entanto, medidas de segurança em duas, três — ou até cinco, seis — camadas de proteção simplesmente não foram efetivamente implementadas.

Mizusawa – Surge então a dúvida: será que a tão orgulhosa Agência para o Planejamento da Segurança Nacional sul-coreana, famosa em todo o mundo, poderia ter realizado uma operação de escolta tão negligente e caótica?

Além disso, mesmo tendo sido destacados cerca de 200 agentes de segurança já dez dias antes do evento, a bomba ainda assim não foi descoberta.

Diz-se que o governo birmanês recusou o uso de detectores de metal no mausoléu porque “estragaria o clima solene da visita”, razão pela qual a varredura não foi feita. Mas vale lembrar que a Agência para o Planejamento da Segurança Nacional da Coreia do Sul, durante a visita de Jon Tu Hwan  aos EUA em fevereiro de 1981, chegou ao ponto de solicitar até o mapa completo da Casa Branca.

Esse mesmo governo, sempre tão obcecado por segurança exagerada, por que motivo então não adotou medidas semelhantes em Yangon?

Maeda– A visita de Jon Tu Hwan à Birmânia e a países do Pacífico foi anunciada já em agosto.

Como se sabe, Birmânia é praticamente um Estado policial, com um regime de vigilância severo, quase fechado ao mundo exterior.

No caso da visita de Jon, a presença da embaixada norte-coreana levou as autoridades birmanesas a colocarem o exército em um estado de alerta elevado, o que tornava qualquer movimento bastante difícil.

Por outro lado, como já foi mencionado, a Coreia do Sul havia enviado com antecedência uma equipe de reconhecimento composta por cerca de 200 agentes de inteligência. Eles estavam numa posição que lhes permitia exigir, como um direito legítimo, uma inspeção prévia na Birmânia. Também já tinham legalmente assegurado todos os meios necessários, como pessoal e veículos.

Enquanto isso, a embaixada norte-coreana estava sujeita a diversas restrições. Foi exatamente nesse contexto que, supostamente, o ataque foi executado com facilidade.

Mizusawa – Diz-se que o embaixador chegou ao local depois dos ministros, e que seu carro oficial tinha a bandeira da Coreia do Sul e era precedido por um carro batedor. Em outras palavras, ele participou da cerimônia ou visita ao mausoléu em um carro com a mesma aparência externa do veículo presidencial sul-coreano.

E isso levanta a pergunta: qual o significado disso?

Moderador – Na Coreia do Sul, como costuma proceder um embaixador quando participa de um evento oficial desse tipo?

Maeda – Como se tratava de uma cerimônia oficial, o embaixador sul-coreano na Birmânia deveria, naturalmente, estar com a bandeira nacional hasteada em seu carro oficial.

O problema é que sua movimentação era muito fácil de ser confundida com a do presidente.

E, como Mizusawa já mencionou, o embaixador local é, em termos protocolares, o de menor escalão.

Normalmente, quando há um ministro das Relações Exteriores já presente no local — como era o caso —, não faz sentido que o embaixador apareça depois.

Isso seria tão inusitado quanto imaginar o embaixador dos EUA no Japão, Mansfield, chegando atrasado a um evento com a presença de Reagan.

Mizusawa – Em circunstâncias normais, só esse fato já seria suficiente para causar a demissão do embaixador local.

Maeda – A condução da visita ao mausoléu de Aung San não foi feita pelo lado birmanês. Nenhuma autoridade máxima do Estado birmanês compareceu.

Diante disso, caberia ao embaixador sul-coreano na Birmânia circular ativamente, fiscalizar e coordenar os preparativos, e durante a inspeção de segurança ele deveria estar junto ao responsável máximo pela proteção.

Por isso, ele deveria ter chegado ao local com antecedência para inspecionar a área ao redor do mausoléu de Aung San.

Mas, ao contrário, apareceu correndo, às pressas, depois do horário.

Mizusawa – Para um evento oficial, tudo isso é excessivamente caricatural, quase cômico.

Moderador – Além disso, sobre o atraso na chegada de Jon Tu Hwan, circulam várias versões: que foi devido ao trânsito congestionado; que o ministro das Relações Exteriores birmanês, que iria recepcioná-lo, atrasou-se cinco minutos; e até mesmo que o atraso foi intencional, como precaução contra possíveis incidentes. Qual é a verdade?

Mizusawa – Do ponto de vista diplomático, tudo isso parece uma encenação.

Mesmo que o trânsito estivesse congestionado, quando há um trajeto especial e reforço total da segurança, é possível fazer o deslocamento ainda mais rápido. Isso vale para qualquer país.

No caso da Birmânia, que pode ser considerada até mais rígida que o Japão em termos de controle policial, é praticamente impensável, do ponto de vista diplomático, que um país como esse permita que um embaixador estrangeiro ou uma visita de Estado atrase a chegada a um evento.

Maeda – Também é extremamente incomum que uma inspeção prévia no mausoléu de Aung San tenha sido recusada pelas autoridades birmanesas.

O local é uma construção de madeira, sem concreto ou aço, e sua estrutura interna é praticamente vazia.

Se a inspeção por parte da Coreia do Sul fosse mesmo difícil de realizar, o lado birmanês poderia ao menos ter assumido a responsabilidade pela checagem. E, se isso ainda assim não fosse possível, a Coreia do Sul estava em posição de dizer que, nessas condições, não participaria da homenagem.

Não há justificativa aceitável para a recusa de uma verificação de segurança, mesmo levando em conta que a embaixada norte-coreana se encontrava no país.

Mizusawa – Não havia motivo para recusar a inspeção de segurança, e mesmo que tivessem recusado, não havia razão para o lado sul-coreano simplesmente aceitar isso e recuar dizendo “entendido”.

Maeda – Quando Jon Tu Hwan visitou os Estados Unidos, os agentes de segurança sul-coreanos exigiram vistorias que iam desde o clube de imprensa internacional e o hotel até a própria Casa Branca.

É impensável que a Coreia do Sul, com esse histórico, tenha negligenciado a segurança no mausoléu de Aung San.

Além disso, é inexplicável o fato de que os dois principais responsáveis pela segurança — o chefe da Agência para o Planejamento da Segurança Nacional e o chefe da Casa Azul (a guarda presidencial) — não tenham sido substituídos. Antes mesmo de uma reorganização ministerial, esperava-se amplamente que ambos seriam demitidos.

Moderador – Segundo o comunicado oficial da Coreia do Sul, o motivo para isso seria que “não se responsabilizam por incidentes ocorridos no exterior”.

Maeda – Mas os agentes de segurança que acompanharam a comitiva eram, essencialmente, membros do Serviço de Segurança Presidencial e da Agência para o Planejamento da Segurança Nacional.

Portanto, é óbvio que os responsáveis devem assumir a responsabilidade.

Se Jon Tu Hwan tivesse morrido, o que teria acontecido?

Não se pode justificar a ausência de responsabilização apenas porque os envolvidos estavam em território sul-coreano.

Moderador – Algumas informações provenientes da Coreia do Sul sugerem que, por conta de problemas logísticos relacionados à viagem presidencial subsequente, esses responsáveis não foram substituídos.

Mizusawa – Mas essa explicação é claramente incoerente. Como pode alguém que falhou gravemente a ponto de permitir a morte de diversos ministros e autoridades ser considerado apto para proteger o presidente dos Estados Unidos?

Maeda – A responsabilidade pela vida de Jon Tu Hwan ter sido colocada em risco, bem como pela falha total na detecção prévia do atentado, recai 100% sobre as autoridades de segurança sul-coreanas.

No entanto, não se exigiu responsabilidade de ninguém e nem se substituiu os responsáveis, o que configura uma grave desconsideração também perante Reagan e os Estados Unidos.

Em outras palavras, trata-se de confiar a segurança de um presidente estrangeiro a pessoas que não conseguiram proteger nem mesmo o próprio presidente do seu país.

Esse ponto, inclusive, tem sido fortemente criticado pelo lado norte-coreano.

Na reforma ministerial, quase todos os ministros, inclusive o primeiro-ministro Kim Sang Hyop — que nem esteve diretamente envolvido na viagem —, foram substituídos.

No entanto, os dois principais responsáveis pela segurança foram mantidos, o que não pode ser descrito senão como algo extremamente estranho e anormal.

Moderador – No dia do incidente, quando ocorreu a explosão, Chun Doo-hwan estava realmente muito próximo do local?

Mizusawa – Ele já havia chegado a cerca de 1,5 km do mausoléu de Aung San.

Maeda – Mas como ele poderia saber, a essa distância, que o mausoléu havia sido alvo de uma explosão? Isso também é algo estranho.

Ainda não há informações detalhadas sobre isso, mas o fato é que Jun simplesmente retornou. Ou seja, voltou para a casa de hóspedes sem nem mesmo verificar o local da explosão.

Mizusawa – Assim que retornou, uma autoridade do governo birmanês foi prestar condolências, e ele imediatamente declarou: “Isto foi um ato da Coreia do Norte.”

Maeda – Jon Tu Hwan tem afirmado algo como “A origem deste atentado está nas forças comunistas do Norte.”

No entanto, em locais a poucos metros ou até 1 km de distância — como a embaixada do Japão e os escritórios de empresas japonesas em Yangon—, as pessoas nem sabiam o que havia ocorrido.

Não houve uma grande coluna de fumaça escura, e sim um som repentino semelhante ao de uma explosão ou trovão, e um edifício dentro do mausoléu de Aung San simplesmente desabou. A maioria das pessoas não conseguiu entender com os próprios olhos o que havia acontecido.

Mesmo após o barulho cessar, era extremamente difícil identificar o que exatamente tinha ocorrido e onde.

De fato, a emissora oficial de rádio birmanesa não fez nenhum anúncio até a tarde daquele dia.

Fora os que estavam no próprio mausoléu, há testemunhos de que era praticamente impossível para os cidadãos comuns de Yangon entenderem a situação com clareza.

É claro que o carro de Jon Tu Hwan provavelmente tinha rádio e outros meios de comunicação, então ele pode ter recebido informações por esses canais. Mas o fato é que ele nem chegou a entrar no mausoléu.

Mizusawa – Nos dias seguintes, vários jornais publicaram entrevistas com moradores da região, e muitos disseram que pensaram que tinha sido apenas um raio.

No entanto, Jon Tu Hwan, que estava a apenas 1,5 km de distância, imediatamente concluiu que se tratava de um “atentado do Norte direcionado a mim” e, sem hesitação, voltou atrás e passou a defender abertamente essa tese.

Maeda – E cerca de nove horas depois, retornou ao Aeroporto de Kimpo, na Coreia do Sul, de maneira bastante apressada e caótica.

Isso também permanece como mais um dos muitos enigmas.

Se Jon Tu Hwan realmente fosse um militar com experiência de combate, como os que foram enviados para o Vietnã, seria concebível que ele deixasse o local sem ao menos ver com os próprios olhos a cena do desastre, onde mortos e feridos clamavam por socorro em meio ao caos?

No entanto, naquela mesma noite, Jon e sua esposa embarcaram em um avião e retornaram a Seul, levando consigo alguns jornalistas feridos e empresários de conglomerados coreanos.

Diz-se que, para um militar, esse tipo de “retorno” foi uma cena bastante estranha. A imagem foi transmitida pela televisão: a esposa de Jon, com expressão séria, dirigindo-se a ele enquanto ambos subiam em silêncio as escadas do avião — um momento que causou forte impressão.

O povo japonês também se perguntava por que a volta estava sendo tão apressada, achando tudo aquilo desconcertante.

Mizusawa – Um dos aspectos mais peculiares deste caso é que três “norte-coreanos” foram identificados como responsáveis, e suas fotos foram publicadas.

Em casos anteriores de atentados na Coreia do Sul envolvendo guerrilheiros — como o chamado “incidente da infiltração” —, nunca foram divulgadas fotos faciais dos envolvidos. Quando havia imagens de cadáveres, estas eram, em geral, tiradas com os corpos virados para baixo.

Esse padrão foi quebrado agora, com a publicação de fotos de rosto pela primeira vez.

Entretanto, uma das fotos inicialmente divulgadas mostrava um homem de aparência diferente.

Inclusive, em depoimentos no primeiro dia, com a presença de diplomatas de um terceiro país, funcionários sul-coreanos disseram que “não se podia afirmar com certeza que era um coreano”.

Fontes do Ministério da Saúde da Coreia do Sul também expressaram dúvidas, dizendo que “não parecia um norte-coreano”.

Outro enigma é a declaração de que cerca de 30 indivíduos, selecionados entre unidades especiais do Norte e submetidos a treinamento intensivo, infiltraram-se no local do atentado.

Se fossem realmente espiões profissionais, do tipo que escala colinas e se desloca livremente por terrenos montanhosos, eles teriam aquele tipo de aparência robusta e bem alimentada, como mostrado nas fotos?

Além disso, segundo os relatos dos interrogatórios do primeiro dia, conduzidos na presença de diplomatas de países terceiros, um dos detidos inicialmente afirmou:

“Sou Kang Min Chol, vindo de Seul, formado pela Escola Primária Songbuk.”

Os suspeitos teriam desembarcado de um barco a 32 quilômetros do local, plantado os explosivos na área do atentado e, em seguida, aguardado calmamente o retorno do barco com equipamentos pesados para fugir.

Eles acabaram capturados ou mortos durante essa espera.

Mesmo em comparação com um enredo de um livro infantil de mistério — nem mesmo os romances policiais de Seichō Matsumoto (conhecido escritor japonês de suspense) — esse tipo de plano não faz nenhum sentido lógico.

Maeda - A Coreia do Sul descreveu o atentado como um crime de altíssima inteligência, envolvendo alto grau de perícia técnica no uso de explosivos e operações especiais.

No entanto, os suspeitos, após o ataque, teriam nadado por canais para fugir ou, como se quisessem se denunciar, andaram pelas aldeias rurais carregando equipamentos pesados e objetos pessoais.

Essa versão dos fatos, nas fases inicial e final do incidente, é totalmente contraditória.

Se fosse uma grande operação para assassinar o presidente de um país, o plano de fuga teria que ser perfeito. Ninguém cometeria um erro tão grosseiro a ponto de facilitar a identificação dos autores — isso nem mesmo uma criança faria.

Mesmo que o ataque fosse por controle remoto, a instalação de um temporizador e o silêncio da explosão tinham como principal objetivo garantir uma fuga completa e o ocultamento da identidade dos responsáveis.

Porém, não se pode deixar de suspeitar que um grupo especializado da Coreia do Norte, que conhece muito bem a administração interna da Birmânia, usaria métodos tão desleixados e tolos, que nem mesmo um ladrão amador empregaria.

Além disso, o porto de Yangon, embora seja o único ponto de entrada permitido para navios estrangeiros na Birmânia — um país extremamente isolacionista —, é muito difícil para tripulantes estrangeiros desembarcarem temporariamente.

Considerando o rigor extremo na segurança desse ponto de entrada, muitos questionam como dezenas de membros de uma unidade especial poderiam infiltrar-se ali sem serem detectados, dada a situação geral de segurança na Birmânia.

Mesmo que esses indivíduos tivessem ficado hospedados na embaixada da Coreia do Norte, é certo que, especialmente na véspera e no próprio dia do incidente, as autoridades de segurança da Birmânia, junto com as sul-coreanas, teriam mantido uma vigilância rigorosa sobre a embaixada por mais de 46 horas.

Todos os veículos que entrassem ou saíssem da embaixada seriam seguidos e monitorados de perto.

Portanto, para que as autoridades birmanesas e sul-coreanas não tenham monitorado a embaixada norte-coreana e permitido a instalação fácil de uma bomba parece algo inaceitável.

Mesmo que a bomba estivesse instalada, existia a possibilidade de sua detecção e remoção antes da explosão.

Assim, deixar passar algo assim sob a responsabilidade do renomado serviço de inteligência da Coreia do Sul e da rígida polícia da Birmânia não é algo que se possa aceitar ou compreender facilmente.

Mizusawa – Isso só pode ser feito por alguém como “Sun Wukong” (o Rei Macaco), uma figura sobrenatural.

As forças policiais da Birmânia têm um nível de segurança comparável ao da Coreia do Sul, e algumas reportagens estrangeiras informaram que agentes sul-coreanos chegaram a seguir de perto membros da embaixada norte-coreana para a recepção de Jon Tu Hwan.

Se, enquanto estavam sendo seguidos, os suspeitos conseguiram sair tranquilamente da embaixada norte-coreana, plantar a bomba, usar máquinas pesadas para fuga e escapar sem serem detectados, isso significaria que eles foram super-heróis ao invadir, mas agiram como amadores ao fugir.

Maeda – A equipe da embaixada norte-coreana em Yangon era composta por cerca de 12 a 13 pessoas, incluindo diplomatas.

Portanto, o número de carros oficiais também era pequeno — certamente não chegava a 20 — e todos os veículos tinham placas diplomáticas.

Para vigiar todos esses carros, bastaria um grupo de 10 agentes de acompanhamento.

Seria possível cometer um atentado desse tipo sob tamanha vigilância?

Manter segredo seria extremamente difícil.

Entrar com equipamentos também seria complicado.

Acessar o mausoléu de Aung San era difícil.

Instalar a bomba era difícil, assim como detoná-la no momento certo.

Para superar essas quatro ou cinco camadas de obstáculos e executar o atentado, só poderia ser obra da inteligência do próprio lado norte-coreano, sul-coreano, ou alguma combinação das duas.

Mizusawa– Além disso, segundo informações oficiais sul-coreanas, os suspeitos estavam armados com cartuchos e uma pistola para uso suicida.

Se esse é o caso, os acusados foram capturados portando armas, o que levanta uma dúvida: se realmente eram agentes especiais preparados para morrer, por que não teriam usado a pistola para cometer suicídio?

Publicado no Minju Joson em 10 de dezembro de 1983

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