sexta-feira, 30 de maio de 2025

A "teoria das cores"

A “teoria das cores” (색깔론) é um componente fundamental do anticomunismo na República da Coreia, funcionando como uma espécie de macarthismo sul-coreano.

Concebida já nos primeiros dias da ocupação militar estadunidense no sul da Coreia, tem como objetivo fomentar, na sociedade sul-coreana, a aversão a tudo que seja progressista, de esquerda ou simplesmente de oposição, reduzindo tudo à acusação de “comunista” ou “pró-norte”, de modo a combater qualquer forma de simpatia pelo regime socialista norte-coreano.

Embora o nome “teoria das cores” sugira uma abrangência policromática, na prática ela se resume a identificar e denunciar tudo aquilo que é considerado “vermelho” (빨간색). Nesse contexto, outras cores — ou melhor dizendo, outras orientações políticas — acabam sendo propositalmente confundidas com o comunismo.

Durante o regime fascista de Ri Sung Man (1948–1960), essa prática foi institucionalizada por meio da Lei de Segurança Nacional, resultando na prisão e morte de milhares de pessoas inocentes, incluindo muitas que sequer tinham conhecimento sobre a ideologia comunista ou o regime político do norte, mas apenas se levantavam contra a opressão tirânica do regime títere.

Mesmo com a queda do regime de Sung Man, os subsequentes regimes ditatoriais financiados pelo imperialismo estadunidense mantiveram uma linha dura de perseguição aos "vermelhos", reprimindo duramente organizações sociais, sindicatos e opositores ao regime.

A história registra diversos acontecimentos trágicos provocados com base na chamada “teoria das cores”.

Em resposta ao levante da população da ilha de Jeju, que se manifestava contra as eleições fraudulentas realizadas no sul e contra as políticas antinacionais e divisionistas do governo sul-coreano, a camarilha de Ri Sung Man e as forças estadunidenses classificaram todos os manifestantes como “bando de comunistas” e promoveram, entre 1948 e 1949, um massacre brutal que eliminou cerca de 10% da população da ilha.

No verão de 1950, no contexto do início da Guerra da Coreia, o exército títere sul-coreano massacrou cerca de 200 mil pessoas, sob a acusação de serem simpatizantes ou apoiadores do regime norte-coreano. Esse episódio, mantido em segredo pelo governo sul-coreano durante décadas, ficou conhecido como o “Massacre das Ligas de Bodo”.

Ainda durante a Guerra da Coreia, milhares de pessoas foram presas ou assassinadas sumariamente em diversas províncias sul-coreanas, sob suspeita de terem mantido contato com o Exército Popular da Coreia ou de terem oferecido algum tipo de auxílio às tropas norte-coreanas. Além disso, aldeias inteiras foram destruídas, e os prisioneiros foram enviados para campos de concentração, onde eram tratados com a mesma desumanidade fascista que caracterizava a camarilha de Hitler na Alemanha.

Na década de 1980, quando o movimento pela democracia ganhava força na República da Coreia, o fascista Chun Doo Hwan não hesitou em enviar tropas militares para executar manifestantes pacíficos que se opunham ao seu golpe de Estado e à manutenção de mais um regime ditatorial no país. Cerca de 200 pessoas foram mortas nesse episódio, e milhares ficaram feridas ou foram detidas. Embora os manifestantes representassem uma diversidade de posições políticas, o regime ditatorial sul-coreano não hesitou em classificá-los como “vermelhos”.

Esses são apenas alguns exemplos da brutalidade anticomunista que marca a história da República da Coreia.

Mesmo após a chamada “democratização” na década de 1990, a “teoria das cores”, tão profundamente enraizada ao longo de décadas, continuou presente na sociedade sul-coreana. Ainda hoje, especialmente em períodos eleitorais, é comum ver políticos conservadores recorrerem à retórica da “teoria das cores” para atacar seus adversários. Na esfera conservadora da população, distinguir elementos de esquerda ou progressistas de “comunistas” ou “pró-norte” ainda é, muitas vezes, algo praticamente impossível.

Apesar da oposição de amplas forças progressistas nos cenários político e social da República da Coreia, a “teoria das cores”, enraizada na infame Lei de Segurança Nacional, continua viva como um vírus maligno propositalmente cultivado.

O espectro político de esquerda, que emergiu com a chamada “democratização”, ainda hoje convive com o risco constante de repressão e perseguição. Até mesmo políticos ideologicamente distantes do comunismo, como Moon Jae In, são frequentemente classificados como “vermelhos”.

A situação daqueles que, de fato, se identificam com o comunismo é ainda mais grave. Suas manifestações políticas são rigidamente monitoradas e, de acordo com o clima social prevalecente, podem enfrentar longos períodos atrás das grades ou sob vigilância constante, 24 horas por dia, sem qualquer liberdade real.

A “teoria das cores” também é utilizada com frequência por instituições religiosas, sobretudo por setores do cristianismo protestante, que, intimamente ligados ao segmento mais reacionário da política sul-coreana, promovem uma perseguição incessante aos “vermelhos”, considerados, segundo sua narrativa, “inimigos da nação”.

Em suma, a “teoria das cores”, peça central do anticomunismo sul-coreano, é uma arma ideológica reacionária que suprime o desenvolvimento político e social democrático e progressista na República da Coreia, mantendo um clima de Guerra Fria em pleno século XXI, enquanto o mundo avança em direção à multipolarização.

Sem a completa abolição da Lei de Segurança Nacional e sem uma autêntica revolução ideológico-cultural, o povo sul-coreano jamais se libertará dos grilhões do anticomunismo, essa ferramenta do imperialismo estrangeiro, que se apoia em elementos traidores nacionais, para perpetuar um regime de colonização e submissão.

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