O governo da República Socialista do Vietnã afirma que a situação atual foi provocada por uma “insurreição armada” da "Frente Unida Nacional para a Salvação da Kampuchea". No entanto, a ampla opinião pública mundial não acredita nem acreditará nessa alegação.
Quanto ao governo da Kampuchea Democrática, trata-se de uma conquista revolucionária obtida pelo povo da Kampuchea por meio de uma sangrenta luta de cinco anos pela salvação nacional contra os imperialistas estadunidenses e seus lacaios, sob a direção do Partido Comunista da Kampuchea — um governo legítimo e independente instaurado pela vontade geral do povo kampucheano.
A Kampuchea Democrática é um Estado soberano e independente reconhecido pelos países do Sudeste Asiático, inclusive pelo Vietnã, e é membro pleno do Movimento dos Países Não Alinhados. Por isso, a opinião pública mundial não está inclinada a acreditar que tenha ocorrido uma “insurreição popular” contra o jovem regime revolucionário legítimo, nascido com o indiscutível apoio do povo.
Mesmo segundo o anúncio da parte vietnamita, a “Frente Unida Nacional para a Salvação da Kampuchea” teria sido formada há cerca de um mês. Como pôde ela mobilizar, em um período tão curto, grandes quantidades de equipamentos militares, entre eles numerosos aviões, tanques, peças de artilharia e forças armadas regulares compostas por mais de dez divisões? Isso ultrapassa a imaginação das pessoas comuns.
O mundo inteiro sabe que, desde o ano passado, houve sérias divergências e conflitos armados entre o Vietnã e a Kampuchea Democrática devido à questão das fronteiras. Não por acaso, a opinião pública mundial vê o atual controle armado da Kampuchea Democrática como resultado de uma ação militar em larga escala por parte do Vietnã.
Estamos profundamente entristecidos pelo fato de que tal situação tenha surgido entre países irmãos construtores do socialismo. Os países socialistas, partindo da natureza do sistema socialista, que visa eliminar toda forma de exploração e opressão, opõem-se resolutamente à violação da independência de outros países e ao domínio e controle externos. Os países socialistas são irmãos de classe e companheiros revolucionários em armas, que estabelecem relações mútuas com base no princípio da plena igualdade, independência, respeito mútuo, não ingerência nos assuntos internos e cooperação camaradesca, avançando lado a lado rumo à vitória da causa do socialismo e do comunismo.
Podem surgir divergências entre partidos e países irmãos. No entanto, estas devem ser resolvidas não com métodos coercitivos ou força armada, mas por meio de negociações, em qualquer circunstância. É intolerável recorrer a uma ação armada aberta contra um poder revolucionário legítimo e derrubá-lo, seja qual for o pretexto.
O Vietnã, no entanto, rotulou o poder revolucionário da Kampuchea e seus dirigentes como uma “camarilha” e lançou uma intervenção armada em toda a escala para derrubá-los, com a única justificativa de que estes não concordam com suas políticas e estilo de trabalho. A política que seu partido e seu governo seguem é absolutamente um assunto interno da Kampuchea.
O poder revolucionário da Kampuchea é a preciosa conquista da revolução alcançada pelo povo kampucheano por meio de sua longa e árdua luta de libertação. Ele é não apenas a bandeira da liberdade e da independência para o povo kampucheano, mas também uma vitória comum da classe trabalhadora mundial. O povo kampucheano lutou para consolidá-lo nos últimos três anos e meio. Esmagá-lo é uma perfídia contra a causa do socialismo. Se se interfere nos assuntos internos de outro país e se mobilizam até forças armadas para derrubar a própria conquista da revolução só porque não se gosta da política de um partido ou de um país irmão, que futuro restará à causa comum do socialismo?
Quando as forças imperialistas estrangeiras agressoras interferiram nos assuntos internos do Vietnã e o invadiram militarmente, o povo vietnamita não se levantou então em uma luta resoluta contra elas? Mas hoje, não muito tempo após haver conquistado a reunificação e a independência do país, o Vietnã lança uma ação hegemonista contra seu vizinho fraterno, como se sua posição fosse natural. Isso é ultrajante.
O controle vietnamita sobre a Kampuchea por meio da travessia da fronteira com o pano de fundo de uma ação militar em larga escala é, em todos os sentidos, uma violação da independência nacional, da soberania e da integridade territorial da Kampuchea, bem como uma flagrante violação do direito internacional geralmente reconhecido. Trata-se de um desafio aberto que desacredita o socialismo e põe em perigo a paz.
Em particular, o povo kampucheano ofereceu a região do Bico de Papagaio e muitas outras zonas da Kampuchea como bases operacionais e de abastecimento, e apoiou ativamente e cooperou com o povo vietnamita, tanto material quanto moralmente, no difícil período da guerra de resistência do povo vietnamita contra a agressão estadunidense e pela salvação nacional, a despeito das pressões arbitrárias e da intervenção armada dos imperialistas e reacionários internos. É preciso dizer que o ato do Vietnã é uma ação ingrata, que abandona o senso de dever revolucionário.
A Kampuchea e o Vietnã são ambos membros do Movimento dos Não Alinhados. Este movimento tem o elevado objetivo de se opor a todo tipo de dominação e subordinação e de defender a independência. Seu princípio básico é o respeito pela soberania e integridade territorial dos outros países, a não ingerência nos assuntos internos e a renúncia ao uso da força. Se o Vietnã fosse fiel à ideia e ao princípio do Movimento dos Não Alinhados, nunca teria cometido tal ato.
Esta ação do Vietnã decepciona os povos do mundo amantes da paz e a nós, que no passado apoiamos e incentivamos sinceramente a luta de libertação nacional anti-EUA do povo vietnamita. Desde os primeiros dias da disputa entre a Kampuchea Democrática e o Vietnã, aconselhamos que fosse resolvida pacificamente por meio de negociações entre os dois países irmãos. Hoje, os povos da Ásia e do mundo inteiro desejam sinceramente a redução das tensões internacionais e a manutenção e consolidação da paz.
Os acontecimentos atuais na Kampuchea dão uma séria lição aos povos do mundo. Aqui também vemos claramente que a ambição de dominar e controlar outros países pode surgir mesmo em um país pequeno. É evidente que, se hoje se ignorar o precedente de um país que domina e controla outro pela força, outro fará o mesmo amanhã.
Se agora se permitir a lei da selva que prevalecia antes, a causa revolucionária dos povos para a construção de um mundo independente e próspero sofrerá um grave revés. Portanto, os povos do mundo devem aumentar a vigilância contra as manobras agressivas e hegemônicas de toda espécie e se unir firmemente para combatê-las. Somente conduzindo uma luta vigorosa contra o imperialismo e o hegemonismo poderão consolidar a independência nacional, alcançar o desenvolvimento independente do país e construir um novo mundo livre e pacífico, sem nenhuma dominação ou subordinação.
Os povos do mundo não devem permitir qualquer forma de agressão e intervenção, independentemente de quem a pratique, mas devem adotar um maior número de medidas positivas para que tais atos não se repitam no futuro. Ninguém no mundo tolerará uma violação de sua soberania ou um insulto à sua dignidade. Como mostra a experiência histórica, a ação de dominar e comandar sobre os outros não trará nada de bom.
Aconselhamos o Vietnã a refletir sobre a questão, a retirar imediatamente suas forças armadas do território kampucheano e a resolver a disputa entre Vietnã e Kampuchea de forma pacífica, por meio de negociações, com base nas normas das relações mútuas entre países socialistas e nos princípios do Movimento dos Não Alinhados.
Esperamos que a soberania nacional e a integridade territorial da Kampuchea sejam garantidas, que o povo kampucheano possa livremente construir seu próprio destino de forma autônoma e que uma era de verdadeira paz prevaleça em breve no Sudeste Asiático.
Artigo do diário Rodong Sinmun de 12 de janeiro de 1979
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